A competitividade depende das pessoas
(12-10-2005)
Armindo Monteiro
Presidente da Associação Nacional
de Jovens Empresários
Portugal não tem recursos naturais de grande valia, revela debilidades
no capítulo da logística internacional (particularmente,
infra-estruturas ferroviárias e portuárias), a sua posição
geográfica é periférica, o mercado interno apresenta
uma dimensão reduzida e o nível de sofisticação
tecnológica do país é baixo. Neste sentido, a aposta
da competitividade tem de passar pela capacidade dos seus recursos humanos.
Mas esta é, igualmente, uma área em que o nosso país
patenteia enormes fragilidades. O modelo de desenvolvimento do Portugal
contemporâneo não contemplou, ao contrário do que
se verificou na Irlanda ou na Finlândia, uma verdadeira aposta na
qualificação das pessoas. Aliás, a competitividade
portuguesa assentava, até há pouco tempo, no baixo custo
de uma mão-de-obra com poucas habilitações. Acontece
que, com a abertura das fronteiras da União Europeia a Leste e
a ascensão das economias asiáticas emergentes, o factor
trabalho português deixou de ser competitivo. Hoje, é mais
caro e menos produtivo do que o dos novos concorrentes.
Ora, o peso da massa salarial nas empresas dificilmente baixará,
uma vez que não é plausível nem desejável
uma diminuição da qualidade de vida das pessoas. Logo,
a valorização do capital humano surge como um imperativo
nacional. O grau de formação da força de trabalho
tem obrigatoriamente de aumentar em Portugal, assim como o investimento
na inovação e investigação. Só assim
será possível aproximarmo-nos dos níveis de produtividade
dos nossos parceiros comunitários, factor crucial para a competitividade
das empresas nacionais.
Por outro lado, importa promover o espírito empreendedor na nossa
sociedade. Prevalece ainda entre os portugueses alguma aversão
ao risco, o que se explica, em grande parte, pelo desfasamento dos conteúdos
escolares em relação aos valores do empreendedorismo.
Por ora, os nossos estabelecimentos de ensino não estão
formatados para promover a iniciativa e a pró-actividade. Em
alguns casos, limitam-se a transmitir saberes sem ponderar a sua aplicabilidade
no mercado de trabalho.
Esta situação tem, aliás, raízes históricas.
A Europa do pós-guerra impôs a presença, compreensível
no contexto da altura, de um Estado-Previdência forte, com um
amplo controlo sobre o desenvolvimento económico e social. Em
Portugal, esta perspectiva foi ainda aprofundada por um regime de matriz
autoritária, cuja omnipresença no tecido socioeconómico
chegava a ser sufocante. A cultura social desenvolvida nesta época
esteve, por isso, sempre associada ao modelo de funcionalismo público
caracterizado, no geral, por valores ligados à segurança,
à carreira, à estabilidade profissional, ao emprego para
toda a vida. De fora ficava o espírito empreendedor, algo pouco
compaginável com a natureza repressiva do Estado Novo.
Ao condicionamento industrial que prevaleceu até à década
de 70 sucedeu a agitação associada à revolução
de Abril e ao processo de descolonização. Só na
década de 80 e, em particular a partir da adesão, em 1986,
de Portugal à CEE, se assistiu a uma mais forte preocupação
de organizar e estimular o tecido económico e empresarial. Este
esforço não foi, no entanto, acompanhado por uma preocupação
com a educação e com a promoção do espírito
empreendedor nas escolas.
Importa agora recuperar o tempo perdido em matéria de qualificação
profissional e de estímulos ao empreendedorismo, de forma a solucionar
do problema da competitividade portuguesa. A aposta na educação
e na formação técnica deve congregar grande parte
dos esforços das autoridades públicas, funcionando o Estado
como motor/promotor de uma verdadeira "Sociedade do Conhecimento".