Carreiras

Opinião - Mudar saindo pela porta grande



01.01.2000



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Mudar saindo pela porta grande (*)
(07-07-2006)

Ana Luísa Teixeira
Country Manging da MRI Network Portugal


Mudar de emprego e assumir uma nova realidade profissional leva as pessoas a olhar para o futuro, planear os próximos anos das suas vidas, muitas vezes sonhar. Não é por acaso quer se diz que os primeiros meses de entrada numa nova empresa são momentos de “Lua de Mel”. Assim com um novo emprego entre mãos não é de espantar que algumas pessoas coloquem todas as suas energias em preparar bem a entrada na nova realidade e dediquem tão pouco tempo e esforço em assegurar que a demissão da actual empresa é concretizada da melhor maneira possível.

E esta preocupação é muito importante pois, já o senso comum diz, “nunca se deve fechar uma porta” e “nunca se sabe as voltas que o mundo dá”. Já assisti à re-incorporação de ex-colaboradores fruto de fusões e aquisições entre empresas! Nunca se sabe também onde as pessoas da empresa que deixamos estarão dentro de uns anos. Pode realmente necessitar que a anterior empresa dê referencias a seu respeito, ou mesmo poderá (re)candidatar-se para uma nova função! Se algumas não o permitem há empresas que reincorporam ex-funcionarios dependendo das razões de saída e da qualidade de trabalho desenvolvido.

Se mais não for porque os futuros empregadores podem pedir referências sobre o nosso passado e a ultima imagem que transmitimos perdura para sempre. Podemos ter tido uma carreira de sucesso mas se a saída fôr desastrosa há uma mancha que fica a enublar todo o sucesso obtido. E depois a carreira é feita em contínuo e todos os nossos passos contam: como começámos, as realizações e sucessos que alcançámos e o profissionalismo que mostrámos quando saímos.

Alguns aspectos que deverá ter em atenção para sair em beleza:

Prepare-se para uma conversa de demissão. Seja honesto, sucinto, flexível, realista, diplomático e reconhecido. Faça um follow-up por escrito. Saiba como lidar com uma contra-proposta. Mantenha pontes e linhas de contacto.

Pense na demissão como se estivesse numa entrevista de recrutamento. Prepare-se e pense no que vai dizer, como e a quem. O pensamento estruturado e as ideias organizadas são uma mais valia para não se “perder” nas emoções ou razões menos ajustadas.

A decisão deverá ser comunicada á pessoa certa: costuma ser a chefia directa mas se não reporta directamente á Direcção (geral ou de departamento) e na empresa as relações forem muito informais, poderá e na maior parte das vezes deverá, fazê-lo directamente “à patente mais alta” com quem tem contacto. Mas cuidado, não por orgulho ou sobranceria. Nunca melindre o seu chefe directo.

Nem mesmo pedindo confidencialidade deverá comunicar a sua saída em primeira-mão à pessoa errada, pois alguém “influente” poderá vir a saber em segunda mão. Muitas vezes mesmo quando o “segredo” é bem guardado no momento do comunicado formal para a empresa quem sabe alguém pode deixar escapar um olhar ou comentário denunciador.

Não retenha a decisão junto da empresa actual empregadora. Mal tenha decidido e comunicado ao futuro empregador deverá comunica-lo na empresa. A não ser que haja um forte pacto de confidencialidade por se tratar de um processo mediado por uma empresa de Head-Hunting, tudo se sabe e tudo se comenta em mercados pequenos como o nosso. Sobretudo se for trabalhar para a concorrência a sua mudança poderá ser “usada” como uma “arma de arremesso” e deixar assim de ter o controlo dos acontecimentos.

Depois de comunicar à chefia deverá combinar como comunicar aos colegas de forma a que a informação circule. Não faça com que as pessoas se sintam traídas na sua confiança. Actuar com honestidade e correcção é fundamental. Seja o que for que comunique ao seu chefe, seja por escrito ou verbal, seja sucinto e vá directo ao assunto. Explique por que está de saída mas evite expressar sentimentos negativos.

Negociar a data de saída é muito importante. Se o puder fazer, faça-o sempre tendo em consideração ambas os pontos de vista: seu e da entidade empregadora que o acolheu até este momento em que está de saída. Coopere no sentido de “passar a pasta” de forma muito profissional: informação sobre documentos, projectos, clientes que estão a ser trabalhados por si, deverá ser escrupulosamente transmitida. Se a sua função é de chefia a entidade que abandona deverá sentir que se preocupou em formar uma segunda linha capaz de assumir a continuidade e transição do seu trabalho. Uma boa chefia prepara sempre o seu sucessor.

Se a sua saída se faz em momento inoportuno para a empresa, ou porque lhe deram responsabilidades recentemente, ou porque atravessam momentos de forte competição com o exterior, ou por variadíssimas outras razões, espere uma reacção tempestuosa por parte da empresa. Dê tempo para que a sua decisão seja digerida. Se o seu Director assume uma postura agressiva, de confronto e irritação nunca responda na mesma moeda. Escude-se com os comentários e tópicos que preparou.

Se, por razões de grande força maior, sente que é importante expressar as experiências negativas por que passou, faça-o presencialmente, cara a cara. Não escreva! Mais uma vez faça-o de forma adulta e racional, socorrendo-se dos argumentos que preparou inicialmente. Não entre em discussões e faça-o de forma construtiva.

Por ultimo agradeça ao seu empregador as realizações que lhe permitiu alcançar, a formação e todas as oportunidades que lhe proporcionou. Agradeça aos colegas pelo que aprendeu com eles. Acentue as coisas positivas - descubra algo positivo para dizer.

Não se esqueça de formalizar a intenção de saída com uma carta. Faça-a elegante e também aí foque as razões de saída e agradeça as oportunidades que lhe proporcionaram. Seja proactivo e mantenha o contacto com pessoas chave ou amizades que tenha feito no desenrolar das suas funções.

Por ultimo mas não o menos importante se ocupa um cargo chave para a organização prepare-se para receber uma contra-oferta ou contra-proposta. Se tal acontecer pense bem e peça tempo para a avaliar. Será que alguma coisa vai realmente mudar? È o que realmente quer? Pense seriamente nas razões que o levaram a sair e aceitar a nova função. Atendendo ao facto de que já se demitiu será fácil continuar a trabalhar na mesma empresa? Laços de confiança foram quebrados com a sua demissão. Aceitar a contra-proposta pode ser um presente envenenado! As contra ofertas mais simples de fazer mas mais difíceis de quebrar são as emocionais. Se é isso que quer tenha coragem de mudar e saiba que mudar é sempre uma situação causadora de tensão: é o desconhecido vs o conhecido.

Mas o crescimento é feito de desafios e mudanças. Uma contra-oferta pode ser uma resposta por parte da empresa que foi apanhada desprevenida mas poderá tornar-se uma situação de curto prazo até que a empresa actual se prepare para o poder deixar sair. E quando estiver preparada pode não ser nos seus timings. Cuidado com as retaliações. As empresas são pessoas e as pessoas têm emoções: laços de confiança podem ser irreparavelmente quebrados.

Contudo se estiver seriamente a pensar ficar pense no impacto que essa decisão pode ter nas suas relações com a empresa para onde tinha aceite mudar. Poderá ter de contactar com eles novamente de futuro. Preserve a sua imagem. Releia este artigo e prepare-se para esclarecer e deixar uma porta aberta. Trate com os outros como gostaria que o tratassem a si.

“Nunca se deve fechar uma porta” e “nunca se sabe as voltas que o mundo dá”.

(*) Fonte: www.mrinetwork.com






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