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Opinião - Repensar a lógica do crédito bancário - Armindo Monteiro



01.01.2000



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Repensar a lógica do crédito bancário
(04-10-2007)

Armindo Monteiro
Presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE)


A instabilidade nos mercados financeiros mantém-se e já ninguém pode, seriamente, apontar a crise do “subprime” nos EUA como único culpado da situação. Algo vai mal na banca mundial e está a contagiar a economia real, nomeadamente na Europa. Aliás, a Comissão Europeia reviu em baixa as suas previsões, apontando agora para um crescimento de 2,5% da economia dos 13 países da eurolândia em vez dos 2,6% avançados em Maio último. Já nos Vinte e Sete países, o crescimento será de 2,8% contra os 2,9% previstos há quatro meses.


Neste contexto, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, anunciou a manutenção das taxas de juro. Isto significa que o risco de tensões inflacionistas na Zona Euro é, por agora, diminuto. Ou seja, o consumo e o investimento não estão exercer uma pressão significativa sobre os preços, pelo que a ameaça de subida da inflação não se coloca de momento. Para o controlo dos preços está a contribuir a apreciação do euro face ao dólar, uma vez que os produtos importados, como por exemplo o petróleo, ficam mais baratos. Mas não custa acreditar que o factor determinante para a não subida da inflação seja, de facto, o arrefecimento da economia europeia.

Ao contrário do BCE, a Reserva Federal norte-americana (Fed) baixou a taxa directora dos 5,27 para os 4,75%. Tradicionalmente, os responsáveis pela política monetária nos EUA dão prioridade ao crescimento económico em detrimento do combate à inflação, ao contrário dos responsáveis europeus. Mas, na verdade, esta última descida das taxas de juro decretada pela Fed foi em boa parte motivada pelo decréscimo dos preços no produtor, o que diminuiu as pressões inflacionistas.

É difícil afirmar com segurança qual a política mais adequada: se a da Fed, se a do BCE, instituição que, como muito bem afirmou Jean-Claude Trichet no ECOFIN do Porto, tem o dever de zelar pelo poder de compra dos europeus e não pelos investimentos, muitas vezes pouco sensatos, nos mercados financeiros. Já o que parece inevitável, tanto na Europa como nos EUA, é a entrada numa fase de contracção e encarecimento do crédito, o que necessariamente irá dificultar a vida das empresas e dos cidadãos.

Em Portugal, o subfinanciamento do tecido empresarial é uma evidência. Logo, o aumento das restrições no acesso ao crédito pelas empresas – acesso esse que já não era fácil, com os “spreads” bancários a atingirem 3, 4 ou mesmo 5% – tornam o cenário ainda mais preocupante. Com os custos do financiamento interbancário a subirem, a banca será ainda mais rigorosa e selectiva na concessão de empréstimos, o que naturalmente irá prejudicar sobretudo as PME.

Os bancos deviam funcionar cabalmente como um instrumento de promoção e respaldo do investimento na economia real, ou seja, na criação e expansão de empresas. Mas, na última década, a banca nacional preferiu fomentar as expectativas, legítimas mas nem sempre sensatas, de compra de habitação própria e assim insuflar um mercado imobiliário desequilibrado (a oferta ultrapassa em muito a procura, com efeitos negativos no ordenamento do território e na recuperação de fogos devolutos).

Todos conhecemos o preocupante nível de endividamento da população portuguesa, fruto, por um lado, de uma progressiva tendência consumista entre a nossa sociedade e, por outro, da política comercial agressiva dos bancos, que não desperdiçaram a conjuntura de baixo preço do dinheiro para alimentar ilusões de poder de compra nos mais incautos. Para usar uma expressão popular, “juntou-se a fome à vontade de comer”, com consequências que se podem vir a revelar negativas não apenas para os clientes dos bancos mas também para os próprios bancos.

Se é certo que o sector bancário tem motivado esgares de inveja pelos seus elevados e constantes lucros, também é verdade que, ao facilitarem o financiamento imobiliário, os bancos portugueses correm o risco de, em situações de instabilidade, se verem confrontados com um crescimento abrupto do crédito malparado. E será que, nestes casos, terão capacidade de resposta? Esperemos que sim, embora o mais avisado seja repensar a lógica das operações de crédito em Portugal, dando prioridade a quem gera riqueza e postos de trabalho: as empresas.





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