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Opinião - A competitividade depende das pessoas



01.01.2000



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A competitividade depende das pessoas
(12-10-2005)

Armindo Monteiro
Presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários

Portugal não tem recursos naturais de grande valia, revela debilidades no capítulo da logística internacional (particularmente, infra-estruturas ferroviárias e portuárias), a sua posição geográfica é periférica, o mercado interno apresenta uma dimensão reduzida e o nível de sofisticação tecnológica do país é baixo. Neste sentido, a aposta da competitividade tem de passar pela capacidade dos seus recursos humanos.
Mas esta é, igualmente, uma área em que o nosso país patenteia enormes fragilidades. O modelo de desenvolvimento do Portugal contemporâneo não contemplou, ao contrário do que se verificou na Irlanda ou na Finlândia, uma verdadeira aposta na qualificação das pessoas. Aliás, a competitividade portuguesa assentava, até há pouco tempo, no baixo custo de uma mão-de-obra com poucas habilitações. Acontece que, com a abertura das fronteiras da União Europeia a Leste e a ascensão das economias asiáticas emergentes, o factor trabalho português deixou de ser competitivo. Hoje, é mais caro e menos produtivo do que o dos novos concorrentes.

Ora, o peso da massa salarial nas empresas dificilmente baixará, uma vez que não é plausível nem desejável uma diminuição da qualidade de vida das pessoas. Logo, a valorização do capital humano surge como um imperativo nacional. O grau de formação da força de trabalho tem obrigatoriamente de aumentar em Portugal, assim como o investimento na inovação e investigação. Só assim será possível aproximarmo-nos dos níveis de produtividade dos nossos parceiros comunitários, factor crucial para a competitividade das empresas nacionais.

Por outro lado, importa promover o espírito empreendedor na nossa sociedade. Prevalece ainda entre os portugueses alguma aversão ao risco, o que se explica, em grande parte, pelo desfasamento dos conteúdos escolares em relação aos valores do empreendedorismo. Por ora, os nossos estabelecimentos de ensino não estão formatados para promover a iniciativa e a pró-actividade. Em alguns casos, limitam-se a transmitir saberes sem ponderar a sua aplicabilidade no mercado de trabalho.

Esta situação tem, aliás, raízes históricas. A Europa do pós-guerra impôs a presença, compreensível no contexto da altura, de um Estado-Previdência forte, com um amplo controlo sobre o desenvolvimento económico e social. Em Portugal, esta perspectiva foi ainda aprofundada por um regime de matriz autoritária, cuja omnipresença no tecido socioeconómico chegava a ser sufocante. A cultura social desenvolvida nesta época esteve, por isso, sempre associada ao modelo de funcionalismo público caracterizado, no geral, por valores ligados à segurança, à carreira, à estabilidade profissional, ao emprego para toda a vida. De fora ficava o espírito empreendedor, algo pouco compaginável com a natureza repressiva do Estado Novo.

Ao condicionamento industrial que prevaleceu até à década de 70 sucedeu a agitação associada à revolução de Abril e ao processo de descolonização. Só na década de 80 e, em particular a partir da adesão, em 1986, de Portugal à CEE, se assistiu a uma mais forte preocupação de organizar e estimular o tecido económico e empresarial. Este esforço não foi, no entanto, acompanhado por uma preocupação com a educação e com a promoção do espírito empreendedor nas escolas.

Importa agora recuperar o tempo perdido em matéria de qualificação profissional e de estímulos ao empreendedorismo, de forma a solucionar do problema da competitividade portuguesa. A aposta na educação e na formação técnica deve congregar grande parte dos esforços das autoridades públicas, funcionando o Estado como motor/promotor de uma verdadeira "Sociedade do Conhecimento".




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