Intensidade do Conhecimento e Inovação Organizacional
(03-11-2006)
Maria Márcia Trigo
Directora Científica do EMBA «Liderança & Gestão de Negócios» da Business School/UAL
Durante longos anos, a maioria das empresas mais tradicionais da economia industrial, adoptaram uma « abordagem baseada nos recursos », enquanto as empresas mais competitivas são hoje « organizações criadoras de conhecimento e produtoras de inovação », o que lhes garante uma liderança global, em determinado produto, serviço ou sector de actividade (...), se e enquanto continuarem a ser líderes de inovação e na criação de valor, nesse mesmo domínio ou produto/serviço.
Estas «Organizações Globais do Conhecimento» são complexas e até paradoxais, suportadas por cadeias de « Supply-Chaining » de fornecimento e distribuição igualmente globais, infra-estruturas tecnológicas poderosas que permitem a desconstrução da cadeia de valor, passando da integração vertical para a integração horizontal, com estratégias de produção em « outsourcing global » e/ou mesmo estratégias de concepção (sourcing de inovação).
Mas, à complexidade dos modelos de negócio, dos processos de concepção e produção, à diversidade de trabalhadores do conhecimento e dos diferentes stakeholders (investidores, accionistas, trabalhadores, gestores, fornecedores, clientes, etc.) corresponde, nessas empresas globais, uma estrutura e uma gestão cada vez mais flexível, mais fluída e mais descentralizada, semelhantes a Orquestras de Jazz, nas quais « a criatividade e o erro fazem parte do processo de inovação» (Weick, 1998).
Podemos sintetizar e sistematizar as principais macrotendências organizacionais, no que respeita a cinco dimensões críticas: 1) ambiente externo; 2) estrutura organizativa; 3) gestão das pessoas; 4) relações de trabalho; 5) novas e inovadoras dimensões.
Ambiente Externo
DE
• Centradas no País
• Centradas no produto
• Simplicidade
• Competição
• Planeamento
• Estabelecimento de prioridades
PARA
• Competição global
• Orientadas para soluções e clientes
• Complexidade
• Coopetição
• Imprevisibilidade/mudança contínua
• Gestão de contradições e paradoxos
Estrutura Organizativa
DE
• Estruturas hierárquicas e piramidais
• Organizadas por departamentos
• Empresas localmente integradas
• Serviços próprios da empresa
• Trabalho individual
• Trabalho na empresa
• Responsabilidade individual
PARA
• Estruturas ágeis, modelo banda de Jazz
• Organização por processo
• Empresas globalmente integradas
• Outsourcing local e global
• Trabalho em equipas de especialistas
• Mais trabalho junto dos clientes e à distância
• Responsabilidade da equipa e seu líder
Gestão de Pessoas
DE
• Trabalhadores pouco qualificados
• Trabalhadores fáceis de satisfazer
• Elevada distância hierárquica
• Empresa escolhe colaborador
• Nacional/unicidade
PARA
• Trabalhadores qualificados e do conhecimento
• Trabalhadores cada vez mais exigentes
• Redução drástica dos níveis hierárquicos
• Colaborador escolhe a empresa para trabalhar
• Global, multicultural e diversidade.
Relação de Trabalho
DE
• Viver para trabalhar
• Mercado local/nacional de trabalho
• Salário fixo
• Relação de contrato legal
• Normas e regulamentos
• Gestão de Recursos Humanos
PARA
• Trabalhar, viver e conviver (capital relacional)
• Mercado global de trabalho
• Pagamento indexado ao resultado
• Relação de valor acrescentado
• Visão e valores (capital de esperança e de confiança)
• Gestão de Pessoas (capital humano)
Novas e Inovadoras Dimensões
DE
• Controlo
• Redução de custos
• Objectivo é o lucro
• Shareholders (proprietários)
• Remuneração dos accionistas
PARA
• Envolvimento e compromisso
• Criação de valor, com redução de custos
• Objectivo é lucro com ética
• Stakeholders (+ trabalhadores, clientes, fornecedores)
• Remuneração com Responsabilidade Social
Estas novas organizações de uma economia global e digital, porque improvisam criativa e intencionalmente, são capazes de dar respostas aos desafios da mudança rápida e paradoxal, da turbulência contínua, das solicitações inesperadas, da descontinuidade continuada e da hipercomplexidade crescente. A improvisação intencional e criativa, como sucede na Orquestra de Jazz, torna-se assim a competência nuclear de um líder organizacional: induzir as organizações a fazer convergir no tempo a concepção/composição e a execução (Stacey, 1996; Brow Eisenhardt, 1997; Nonaka, Ikujiro et al (1995).
Os líderes globais são inclusivos, valorizam a diversidade, o trabalho e o jogo de equipas multiculturais, a interdependência, confiam mais no processo que na estrutura e as suas mentes globais fluem com a mudança que eles próprios não param de influenciar, antecipando-a. São continuamente os construtores de um «Capital de Esperança» que não para de crescer.