Cátia Mateus e Fernanda Pedro
Temporários precisam-se em tempo de Verão.
São os jovens estudantes quem mais procura os trabalhos temporários
nesta época do ano.
O TRABALHO temporário (TT) tem verificado nos últimos tempos
um acréscimo na procura. A explicação para esse facto
deve-se, na opinião dos especialistas deste segmento de mercado,
ao crescimento do desemprego no nosso país. Mas o TT esteve quase
sempre associado à época de Verão, uma altura do
ano em que o recurso aos temporários é em número
mais significativo.
Com o calor à "porta", o EXPRESSO decidiu ouvir os responsáveis
envolvidos neste regime de trabalho e saber o que esperam neste meses
que se aproximam.
De acordo com Marcelino Pena Costa, presidente da Manpower em Portugal
e da Associação Portuguesa de Empresas de Trabalho Temporário
(APETT) mesmo com o aumento do desemprego há um número significativo
de trabalhadores que sabem que os empregos de Verão correspondem
a situações normalmente melhor remuneradas e capazes de
lhes dar um valor acrescentado ao currículo, para colocações
futuras.
"Surgem novas oportunidades, sobretudo aos jovens do interior ou
zonas suburbanas que deste modo contactam com outras regiões, outros
modos de viver. Alcançam assim um enriquecimento profissional",
salienta o presidente da APETT.
Este responsável assegura ainda que existe um número significativo
de estudantes que procuram este período para trabalhos de curta
duração, porque "lhes proporciona um acréscimo
de dinheiro para 'comprar' as férias. Este grupo normalmente é
pouco qualificado para as exigentes tarefas de sazonalidade".
Substituir quadros
De uma maneira geral, os temporários neste período do ano
vão substituir os trabalhadores das empresas que gozam o seu período
de férias. Mas também são procurados pelo acréscimo
de actividades das empresas ligadas ao turismo de lazer. Segundo Carlos
Manuel Horta, director comercial da Intelac, empresa de Recursos Humanos
que actua na área de TT, as funções com mais procura
são de recepcionistas, telefonistas, administrativos e empregados
de armazém.
Mas Marcelino Pena Costa acrescenta ainda os profissionais de hotelaria
e restauração, actividades de lazer e ocupação
de tempos livres. Segundo este responsável, o sector alimentar
também regista uma subida sobretudo nas zonas do litoral ou destinos
de férias, assim como o comércio tradicional, roupas e artigos
de desporto. As zonas com mais oferta de trabalho registam-se no Algarve
e no litoral alentejano e isso repercute-se no acréscimo de actividade
das empresas de TT.
Para a Intelac, a sazonalidade depende muito das áreas de trabalho
e "consideramos que o Verão não é uma época
com grandes piques de trabalho, é apenas uma altura do ano em que
as empresas necessitam de substituir os seus trabalhadores",
refere Carlos Horta.
Uma opinião contrária à de Marcelino Pena Costa que
reconhece um aumento da actividade nesta altura do ano, não só
pela substituição do pessoal que vai de férias como
também pelo aumento de produção das actividades económicas.
"Apesar da crise, temos sinais na empresa de que a sazonalidade
vai ter efeito, menos do que em anos anteriores mas, de qualquer maneira,
vai fazer-se sentir positivamente", admite o responsável.
Inês Lameiras é estudante universitária. Frequenta
o terceiro ano do curso de Relações Internacionais mas há
muito que decidiu não deixar a sua experiência profissional
ao abandono. "Nos dias que correm, um curso superior é
garantia para conseguir emprego por isso acho que se procurarmos ter uma
experiência profissional é um bom trunfo na altura de procurar
emprego na nossa área", explica.
Adquirir experiência
Inês sabe que não será fácil conseguir emprego,
mas avança que "a experiência profissional que tenho
tido já me permite ver outras opções". Uma
experiência conseguida essencialmente através de empresas
de TT.
Todos os anos, por altura do Verão aproveita para tentar angariar
outras experiências e há três anos que ocupa as suas
férias em empregos de regime temporário, "e alguns
foram bastante agradáveis e permitiram-me até alargar conhecimentos
em áreas distintas da minha formação, mas que sempre
me cativaram".
Para Inês Lameiras este regime de trabalho é uma excelente
oportunidade para jovens que queiram aproveitar o Verão para ganhar
experiência profissional e angariar algum dinheiro. A jovem explica
ainda que "embora nem sempre se possa contar muito com isso, nunca
se sabe de não será numa das empresas onde somos colocados
que estará o nosso futuro emprego".
A prová-lo, lembra a história de uma amiga que foi colocada
numa empresa durante o Verão a substituir uma funcionária
e "gostaram tanto do seu desempenho que acabaram por recrutá-la".
Também para Marta Novais, estudante de Ciências da Comunicação,
o TT é uma boa forma de "entrar no mercado". A
jovem está consciente das dificuldades que encontrará no
próximo ano quando tentar arranjar emprego, mas acredita que a
experiência que tem alcançado com os trabalhos de Verão,
será um ponto a seu favor.
"Já desempenhei várias funções desde
apoio de secretariado, administrativos, até já num hotel
trabalhei. Acho que a capacidade de adaptação é importante
nos dias que correm e nesse campo trabalhar em regime temporário
tem também um aspecto pedagógico já que nos ensina
a gerir a resistência à mudança", explica.
Diz Marta que se não conseguir emprego na sua área vai continuar
a trabalhar em regime temporário, "quem sabe não
será esta a saída". É que para Marta Novais,
"o futuro do emprego não passará aparentemente pela
estabilidade e assim, o melhor é que nos comecemos a adaptar o
mais rapidamente possível".
Luís Gonzaga Ribeiro, director comercial da Select revela que "muitos
jovens estudantes continuam com a opção dos empregos de
'Verão' uma vez que os horários normais não permitem
estudar e trabalhar simultaneamente".