Em 2005, o fundador e então CEO da Apple, Steve Jobs, dirigia-se aos estudantes da Universidade de Stanford referindo que “a única maneira de ter sucesso profissional é amar o que se faz”. Jobs construiu um império seguindo esta premissa, demonstrando que o afeto e o interesse dos profissionais pelo seu trabalho, marcam a diferença não só na sua carreira como no sucesso de uma marca ou organização. Um estudo publicado na revista americana Psychological Science, da Association for Psychological Science, vem agora dar créditos científicos a esta teoria emocional. A investigação “Employees Interest Predict How They Will Performe on the Job” (os interesses dos trabalhadores determinam o seu desempenho profissional), demonstra que a personalidade dos trabalhadores e os seus interesses são a melhor forma de avaliar o desempenho que terão na empresa. Na essência, trata-se não só de recrutar os melhores, mas de saber colocá-los exatamente onde o seu perfil pode impactar benefícios à organização.
Ao selecionar um novo colaborador para integrar a sua empresa, a maioria dos gestores ou diretores de recursos humanos aplicam aos candidatos uma intensa bateria de testes e entrevistas de modo a garantir que estão a recrutar o melhor entre os melhores. Ainda assim, as estatísticas demonstram que em cada quatro novas contratações, três acabam por se revelar não tão acertadas, levando a que muitos profissionais se sintam “presos” a uma função para a qual não se sentem motivados. Esta realidade tem custos incalculáveis para as organizações e seguindo o estudo agora publicado pode perfeitamente ser evitada se mais do que selecionar bem, os gestores souberem organizar as suas equipas tendo em atenção os perfis e talentos de cada um dos seus elementos (ver caixa).
Segundo a Psychological Science, há diversas fórmulas que possibilitam a medição dos interesses de um profissional. A Holland Occupational Themes, desenvolvida pelo psicólogo John L. Holland, é a defendida pela equipa de investigadores que liderou o atual estudo. A teoria de Holland prevê que os profissionais sejam classificados de acordo com seis categorias distintas: executores, investigadores ou pensadores, artísticos, sociais, empreendedores ou persuasivos e os convencionais ou organizadores. É o mix destes profissionais e o seu posicionamento em funções compatíveis aos seus interesses que dita o sucesso de uma contratação e garante benefícios imediatos à empresa.
O psicólogo americano Christopher Nye, coordenador do estudo, admite que “os interesses dos profissionais foram ignorados pelas empresas até muito recentemente”. O investigador defende que “mais do que toda a bateria de testes realizada no momento do recrutamento para avaliar a adequação do candidato à empresa e ao negócio, esta análise demonstra que é mais eficiente para os recrutadores perceberem quais os interesses dos candidatos”. Diz Nye que “se o candidato estiver sintonizado com o projeto e com função, se tiver motivação, apetência e interesse, então é o candidato certo” tanto mais que “a chave da produtividade é ter trabalhadores e equipas a desempenharem funções que os motivem e das quais retirem prazer e nós obtemos prazer em perseguir os nossos objetivos”, defende o investigador.
Christopher Nye é também apologista de um correto e equilibrado mix de vários perfis numa mesma equipa como garante de produtividade e sucesso. Uma das premissas do investigador é que “nenhum trabalhador é apenas um executor ou um artista e nenhum emprego requer apenas uma destas características”. Assim, defende, “são necessárias três características para formar um perfil de interesses. Encontrando estas três áreas o recrutador está também a detetar o cenário onde aquele colaborador pode de facto prosperar e levar a empresa a atingir bons resultados”. O autor do estudo que é também professor acredita que este modelo de seleção de candidatos pode assegurar melhores trabalhadores e mais satisfeitos. “Os profissionais que têm interesse no que fazem tem um melhor desempenho, ajudam os colegas e têm uma menor taxa de rotação profissional”, enfatiza.
Seis perfis profissionais que equilibram uma equipa
O estudo “Employees Interest Predict How They Will Performe on the Job” (os interesses dos trabalhadores determinam o seu desempenho profissional), sustenta que a personalidade e os interesses dos candidatos a um emprego são o melhor filtro para determinar o sucesso do seu desempenho organizacional. Com base nesta teoria que delega para segundo plano competências mais técnicas, a investigação defende que o bom gestor é aquele que consegue organizar as suas equipas combinando em equilíbrio seis perfis profissionais-chave:
. Os Executadores. Profissionais com interesse e aptidão pelo desempenho de trabalho manuais, físicos ou mecânicos.
. Os Sociais. Perfis que encontram realização plena em todas as tarefas que envolvam a comunicação, o trabalho em equipa e cujo objetivo seja contribuir ativamente para a melhoria da sociedade.
. Os Empreendedores ou Persuasivos. Profissionais que são líderes naturais, com forte capacidade oratória e inspiracional, capazes de motivar a equipa onde se inserem para o sucesso.
. Os Convencionais ou Organizadores. São o elemento atento ao detalhe que tantas vezes faz a diferença. São profissionais confiáveis e sempre preocupados com a organização e o cumprimento de prazos. Numa organização serão, por exemplo, os secretários, administrativos, contabilistas ou engenheiros.
. Os Investigadores ou Pensadores. Destacam-se nas áreas académicas e científicas e no acompanhamento dos últimos estudos e investigações, procurando beneficiar com as novas descobertas a organização onde se inserem ou a atividade que desempenham.
. Os Artísticos. Têm apetência por trabalhar com conceitos e ideias, destacando-se pela criatividade com que abordam os problemas e desafios e pela inovação das soluções.