Em terra de cegos quem tem olho é rei já dizia um ditado que bem se podia aplicar à situação que se vive no sector da logística que peca pela falta de pessoal qualificado. Isso leva a que os profissionais direccionados para esta área tenham muita procura por parte de quem recruta, num sector onde a crise tem tido um impacto bem mais suave.
“Existe uma carência de profissionais em todos os níveis de qualificação. De pessoal de armazém, operacionais, cargos intermédios até aos quadros que fazem o planeamento de a organização das actividades logísticas”, diz Carla Fernandes, presidente da Associação Portuguesa de Operadores Logísticos (APOL).
Segundo a responsável, existe um défice de informação em relação ao sector da logística o que o torna “pouco apelativo” para quem está em início de carreira ou à procura de trabalho.
Isto apesar de ser uma actividade que emprega 15 mil pessoas e movimenta 500 milhões de euros por ano. E que até está a recrutar em tempo de crise graças ao maior fluxo de trabalho: a contenção económica está a levar muitas empresas a recorrer ao serviço de quem actua neste sector, pois é possível reduzir custos. Fica sempre menos dispendioso, contratar uma empresa de logística do que empatar verbas fixas num armazém.
As dificuldades em contratar pessoal já devidamente qualificado obriga a que praticamente toda a formação seja dada por quem emprega no sector. “Até para os níveis hierárquicos mais baixos é necessário ter formação específica. Hoje em dia, por exemplo, os operacionais têm de andar com um mini-computador nas mãos para trabalhar. É preciso perceber os sistemas de informação implementados, saber como funciona os equipamentos de códigos de barra ou a rádio-frequência”.
Mesmo a nível académico, existe pouca oferta a nível de cursos e de licenciados com preparação nesta área, refere ainda a porta-voz da APOL. “A logística é uma actividade multidisciplinar e toca em diversas áreas como a da produção, marketing ou comercial. É preciso ter uma visão global e organizativa”.
Garland em crescendo
A Garland Logística é um bom exemplo de desenvolvimento num sector em expansão, com tudo o que isso acarreta. Inserida no grupo inglês Garland, com mais de dois séculos de existência - e que actua em áreas como a navegação, transitários, logística, pneus ou imobiliária – a Garland Logística é uma das empresas mais jovens desta organização. “E também aquela que mais tem crescido no âmbito das empresas do “core business” do grupo. Em 2009, mesmo com uma forte contenção da economia nacional, a Garland Logística cresceu 9%, depois de ter estado a crescer mais de 25% nos anos anteriores, estando prevista a manutenção desta tendência para os próximos anos”, realça Ricardo Costa, administrador da empresa.
Como explica este responsável, “muitas empresas nacionais de média dimensão estão agora a perceber que têm de aderir ao outsourcing logístico, visto que é uma excelente mais valia para os seus negócios, por permitir transformar custos fixos em custos variáveis. As multinacionais já o fazem há bastante tempo e agora são estas empresas que o querem fazer”.
Para fazer face às novas oportunidades de negócio, a Garland Logística tem investido em tecnologia - cerca de 400 mil euros nos últimos dois anos numa nova plataforma de sistemas de informação - e no reforço das equipas, quer recrutando a nível da gestão sénior, quer dando formação aos quadros médios e operadores.
Um esforço formativo fundamental até porque, como lembra Ricardo Costa, sendo reduzida a oferta específica de qualificação académica superior em Logística, os cargos superiores nesta área são essencialmente ocupados por profissionais com outras formações de base, que foram adquirindo experiência na área. “Isto acaba por tornar bastante difícil recrutar profissionais seniores que aliem a experiência e a formação específica em Logística. É sem dúvida uma excelente oportunidade apostar na formação neste sector, pois na nossa opinião o mercado está pronto a absorver todos esses trabalhadores”, sublinha ainda o administrador.
Sejam eles seniores ou juniores, com ou sem formação académica. A experiência da Garland Logística reflecte o que se passa, de modo geral, no resto do sector. “Até ao nível de quadros intermédios e mesmo a nível dos operadores. A título de exemplo, existe presentemente uma grande dificuldade em recrutar profissionais verdadeiramente especializados em condução de empilhadores e máquinas de movimentação, assim como administrativos com formação logística suficiente para gerir o dia-a-dia de uma operação logística. Na maior parte das situações, opta-se por reconverter profissionais de outras áreas, o que tem obviamente os seus custos e também alguns riscos”, acrescenta ainda Ricardo Costa. Uma prova de que mesmo em tempo de crise há sectores, empresas e profissões em alta no que respeita à procura de mão-de-obra.