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França quer médicos portugueses

França quer médicos portugueses

Ser médico em Portugal já não é garantia de emprego seguro e são cada vez mais os profissionais que encaram a emigração como uma alternativa às perspetivas de carreira disponíveis em Portugal. Para o bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, o país não está só a perder jovens médicos em início de carreira, mas também clínicos seniores com uma relevante experiência profissional.
15.11.2012 | Por Cátia Mateus


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Um alerta feito na semana que antecede a chegada a Portugal de uma empresa de recrutamento francesa que tem 150 vagas para preencher em França, com médicos portugueses. A Riviere Consulting chega a Portugal na próxima quinta-feira, 23. Na bagagem tem 150 vagas em hospitais franceses para preencher com médicos portugueses. E se na primeira incursão que a empresa de recrutamento realizou, há cerca de um ano e meio em Portugal, o cenário não foi de grande abertura por parte dos clínicos lusos, Matthieu Riviere, o presidente da Riviere Consulting, acredita que a conjuntura atual é em tudo diferente. Para os dois dias do evento, agendado para 23 e 24 de novembro, no Hotel Tivoli Oriente, estão já inscritos 100 médicos. Uma adesão que reforça o número crescente de pedidos de esclarecimento que a empresa francesa tem recebido por parte dos médicos portugueses interessados em trabalhar naquele país. O principal propósito da missão da Riviere Consulting em Portugal é contratar no imediato. Mas ao Expresso Matthieu Riviere adiantou que “o objetivo é também esclarecer os profissionais portugueses sobre o sistema de saúde francês e as oportunidades de carreira que nele podem aproveitar, lançando as bases para o desenvolvimento de um projeto de cooperação com Portugal, a médio ou longo prazo, ao nível do recrutamento”. A empresa está no mercado há 30 anos e desenvolve programas de recrutamento de médicos generalistas e especialistas em diversos países da Europa, para integrarem o sistema de saúde francês onde há graves carências de pessoal médico especializado, quer no sistema de saúde público, quer no privado. Carências que se têm vindo a agravar desde 2006, com a diminuição significativa do número de diplomados em medicina no país e com o aumento dos médicos em idade de reforma. Com o número de médicos longe de crescer ao ritmo necessário para fazer face às necessidades da população, aos franceses não resta outra hipótese senão o recrutamento de clínicos estrangeiros. Só a Riviere Consulting já colocou nos hospitais franceses centenas de médicos oriundos de países como Itália, Espanha, Grécia e Bulgária. “O trabalho da Riviere Consulting passa por identificar profissionais competentes e qualificados, motivados para abraçar um desafio profissional no estrangeiro”, explica Matthieu Riviere. E nessa medida, os clínicos portugueses estão na mira da empresa de recrutamento, quer pela reconhecida qualidade da sua qualificação, mas também pela dimensão que a comunidade portuguesa tem no país e pela capacidade de integração e adaptação à cultura francesa dos portugueses. E esta contratação não se restringe a jovens médicos em início de carreira. A empresa quer bons clínicos, seja qual for a sua idade (ver caixa). E o presidente da Riviere Consulting reforça mesmo que muitos dos contactos recebidos são de médicos na casa dos 50 anos que se queixam da elevada carga fiscal existente em Portugal. Entre os jovens, esclarece, “há sobretudo uma preocupação com o futuro, relativamente às colocações, à aprendizagem e à evolução na carreira”, explica o responsável. Preocupações que José Manuel Silva, o bastonário da Ordem dos Médicos, confirma. “Há médicos experientes, alguns com 50 anos, com vencimentos muito baixos e que são obrigados a emigrar para sobreviver”, alerta. Segundo José Manuel Silva, “são médicos que custaram muito dinheiro a formar, que são necessários ao país e aos doentes, mas que estão neste momento com vencimentos base baixíssimos e sem a possibilidade de equilibrar o seu orçamento com as horas extraordinárias”. O bastonário não precisa o número de profissionais que já emigraram, mas confirma um aumento dos pedidos de certidão de médicos que querem apostar numa carreira noutro país, sobretudo por três razões: melhoria das condições remuneratórias, perspetiva de uma carreira profissional e procura de melhores condições para o exercício da profissão e tratamento dos doentes. Uma realidade que atinge também os jovens médicos portugueses que rumaram ao estrangeiro para realizar a sua licenciatura e rejeitam agora voltar ao país, por falta de perspetivas futuras ao nível do emprego. Profissionais que podem beneficiar com as oportunidades do sistema de saúde francês que tem, atualmente, a taxa mais baixa de médicos por cada mil habitantes (cerca de 3,4 médicos a cada mil). A maioria das vagas que a Riviere Consulting disponibiliza, e que podem também ser consultadas no site da empresa – www.riviere-consulting.pt – são para o sistema público de saúde francês. No evento, além de divulgar estas oportunidades, a empresa quer dar a conhecer o potencial do sistema de saúde do seu país e o contributo que os clínicos portugueses podem dar na sua melhoria. Ajuda estrangeira valorizada no salário A diminuição significativa do número de diplomados em medicina que o sistema de saúde francês enfrenta desde 2006, colocou o país a braços com a necessidade de recrutar fora o que não consegue produzir internamente: médicos. Segundo Matthieu Riviere “é há muito evidente que o número de profissionais em atividade não cresce ao ritmo necessário para substituir os profissionais que se retiram da atividade, levando as diferentes instituições - públicas, privadas ou mistas - a procurar colmatar as carências de pessoal médico especializado com profissionais recrutados no estrangeiro”. E França sabe retribuir a disponibilidade destes profissionais em apoiar com conhecimento o seu sistema de saúde. O país recruta, sobretudo, médicos formados no Espaço Europeu, pela maior facilidade e celeridade no sistema de reconhecimento de diplomas e segundo dados da Riviere Consulting, “um médico português que inicie a sua carreira em França, ganha um salário líquido entre os 3500 e os 4000 euros mensais para um horário de trabalho de 35 a 39 horas semanais”. A partir do momento em que seja colocado, terá igual acesso à progressão na carreira prevista na lei francesa. Todas as prevenções e urgências são pagas adicionalmente aos valores indicados e os médicos gozam ainda de cinco semanas de férias remuneradas. Valores que são superiores no privado. Aos profissionais que recruta, a Riviere Consulting assegura ainda ajudas de custo nas viagens e alojamento, na fase inicial de integração. Na sua missão de recrutamento em Portugal, a empresa quer captar especialistas nas áreas de maior carência: medicina geral e familiar, radiologia, psiquiatria, medicina do trabalho, anestesiologia, medicina física e de reabilitação, cardiologistas, ginecologistas, gasteroenterologistas, pneumologistas, pediatras, oftalmologistas médicos e cirúrgicos Para exercer medicina em França, os médicos deverão ter nacionalidade na UE, ter diploma de medicina e especialização na UE, falar francês ou ter uma forte motivação para aprendizagem da língua e inscreverem-se na Ordem dos Médicos em França.


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