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Elites desqualificadas

19.09.2003


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Ruben Eiras

INE diz que 80% dos dirigentes de PME só têm o 9º ano


A MAIORIA da elite laboral portuguesa possui um nível educacional não superior ao 9º ano. De acordo com os dados do último Inquérito ao Emprego do INE, quase 34% dos quadros superiores da Administração Pública e directores de empresa e perto de 80% dos directores e gerentes de pequenas empresas possuem aquele grau de habilitações literárias.

As únicas categorias profissionais onde o grau de formação superior é maioritário são os "quadros superiores da Administração Pública e directores de empresa" (51,9%) e os "profissionais de nível intermédio das ciências da vida e da saúde" (67,2%).

Somente 5,9% dos directores e gerentes de pequenas empresas detêm uma educação de nível superior.

Para a CIP, esta situação deriva do "mau e inadequado funcionamento do sistema de ensino em Portugal", que caracteriza como sendo "pouco atractivo, demasiado rígido, pouco adaptado às necessidades da vida prática, designadamente às necessidades concretas das empresas".

A associação patronal refere que este défice de qualificações afecta negativamente a qualidade da gestão no sector privado a nível da capacidade organizativa, da falta de capacidade de adaptação à constante mudança e da falta de propensão para a inovação. A CIP sublinha ainda que esta insuficiência também se verifica na Administração Pública, "embora de modo menos visível".

Mário Ceitil, director-geral da Cegoc, uma multinacional de recursos humanos e formação, também enfatiza que esta baixa escolaridade dos quadros portugueses gera um défice de liderança que afecta negativamente a produtividade.

"Existem nas nossas organizações populações mais ou menos alargadas de bons profissionais, dispostos a trabalhar e até com boa qualidade de desempenho. No entanto, se as respectivas contribuições não forem encaminhadas e alinhadas com as estratégias das empresas, através de uma liderança forte e credível, a existência de défices de liderança, de sentido de risco e espírito empreendedor nos gestores portugueses pode muito bem constituir um dos vários factores que justifiquem a baixa produtividade do país", explica.

Os profissionais de nível médio também não escapam às malhas do baixo nível de escolaridade. Com efeito, perto de 40% das categorias dos "técnicos e profissionais das ciências físicas e químicas, de engenharia e trabalhadores similares" e da dos "outros profissionais de nível intermédio" possuem um nível de habilitações não superior ao 9º ano.

Segundo a CIP, esta situação "não pode ser invertida", porque se trata da "maioria da população". Ou seja, aquela confederação patronal considera ser impossível neste contexto elevar a qualificação actual das camadas dirigentes do país.

Por isso, a via defendida pela CIP é uma aposta na evolução rápida da escolaridade nas camadas mais jovens, através de "reformas radicais" e por meio do reconhecimento "de que os melhores têm de ser estimulados e promovidos, ultrapassando-se sistemas igualitários".





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