Ruben Eiras
INE diz que 80% dos dirigentes de PME só têm
o 9º ano
A MAIORIA da elite laboral portuguesa possui um nível educacional
não superior ao 9º ano. De acordo com os dados do último
Inquérito ao Emprego do INE, quase 34% dos quadros superiores
da Administração Pública e directores de empresa
e perto de 80% dos directores e gerentes de pequenas empresas possuem
aquele grau de habilitações literárias.
As únicas categorias profissionais onde o grau de formação
superior é maioritário são os "quadros
superiores da Administração Pública e directores
de empresa" (51,9%) e os "profissionais de nível
intermédio das ciências da vida e da saúde"
(67,2%).
Somente 5,9% dos directores e gerentes de pequenas empresas detêm
uma educação de nível superior.
Para a CIP, esta situação deriva do "mau e inadequado
funcionamento do sistema de ensino em Portugal", que caracteriza
como sendo "pouco atractivo, demasiado rígido, pouco
adaptado às necessidades da vida prática, designadamente
às necessidades concretas das empresas".
A associação patronal refere que este défice de
qualificações afecta negativamente a qualidade da gestão
no sector privado a nível da capacidade organizativa, da falta
de capacidade de adaptação à constante mudança
e da falta de propensão para a inovação. A CIP
sublinha ainda que esta insuficiência também se verifica
na Administração Pública, "embora de modo
menos visível".
Mário Ceitil, director-geral da Cegoc, uma multinacional de recursos
humanos e formação, também enfatiza que esta baixa
escolaridade dos quadros portugueses gera um défice de liderança
que afecta negativamente a produtividade.
"Existem nas nossas organizações populações
mais ou menos alargadas de bons profissionais, dispostos a trabalhar
e até com boa qualidade de desempenho. No entanto, se as respectivas
contribuições não forem encaminhadas e alinhadas
com as estratégias das empresas, através de uma liderança
forte e credível, a existência de défices de liderança,
de sentido de risco e espírito empreendedor nos gestores portugueses
pode muito bem constituir um dos vários factores que justifiquem
a baixa produtividade do país", explica.
Os profissionais de nível médio também não
escapam às malhas do baixo nível de escolaridade. Com
efeito, perto de 40% das categorias dos "técnicos e profissionais
das ciências físicas e químicas, de engenharia e
trabalhadores similares" e da dos "outros profissionais
de nível intermédio" possuem um nível
de habilitações não superior ao 9º ano.
Segundo a CIP, esta situação "não pode
ser invertida", porque se trata da "maioria da população".
Ou seja, aquela confederação patronal considera ser impossível
neste contexto elevar a qualificação actual das camadas
dirigentes do país.
Por isso, a via defendida pela CIP é uma aposta na evolução
rápida da escolaridade nas camadas mais jovens, através
de "reformas radicais" e por meio do reconhecimento
"de que os melhores têm de ser estimulados e promovidos,
ultrapassando-se sistemas igualitários".