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Empresários apostam nas vindimas

19.09.2003


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Cátia Mateus e Fernanda Pedro

A Região Demarcada do Douro está a fomentar a criação de empresas de recrutamento especializadas na actividade agrícola


NA REGIÃO Demarcada do Douro, a crescente falta de mão-de-obra para as vindimas tornou-se um nicho de mercado a explorar. É cada vez mais difícil assegurar os recursos humanos necessários para a produção do "néctar dos Deuses" e há quem aqui encontre uma oportunidade de negócio.

Nos últimos anos surgiram na região várias empresas cuja razão de existência é fornecer mão-de-obra para os trabalhos agrícolas nas grandes quintas vitivinícolas locais.

A época da vindima está oficialmente aberta e a "caça" aos trabalhadores necessários para cumprir as tarefas que se exigem é cada vez maior.

Na Rural Douro, esta é a época de maior trabalho. A empresa criada há dois anos pelo empresário João Edgar, assegura grande parte da mão-de-obra para as quintas vitivinícolas daquela que é a mais antiga região demarcada do país.

Apercebendo-se da crescente dificuldade que era angariar trabalhadores para as actividades agrícolas, o empreendedor fez da necessidade um negócio que garante "está para durar".

A diminuição e envelhecimento da população no Douro torna mais difícil o recrutamento na época das vindimas

Ao seu serviço tem, no momento, cerca de 80 trabalhadores. "Na sua maioria são portugueses com baixos índices de escolaridade", explica.

Todavia, a Rural Douro emprega também estrangeiros e a dificuldade de João Edgar em recrutar trabalhadores na região demarcada é tal, que este ano o empresário teve mesmo de ir a Amarante buscar quem quisesse trabalhar nas vindimas.

Apesar da actividade da Rural Douro ter o seu pico nesta altura do ano, a empresa labora o ano inteiro assegurando mão-de-obra para as várias actividades agrícolas da região. "Em média, nesta altura do ano, um trabalhador ganha 25 euros por cada oito horas de trabalho", explica o empresário.

É discutível se será por esta razão que grande parte dos trabalhadores locais opta por ir para o estrangeiro trabalhar em actividades agrícolas. Mas o certo é que segundo João Edgar, "aqui é cada vez mais difícil encontrar pessoas para trabalhar na agricultura e por isso temos de ir buscá-las fora da região".

Demografia penaliza vindimas

Ao longo dos anos, o Douro sofreu diminuições cíclicas da sua população. Na última década, a região perdeu cerca de 9% da população, o equivalente a 22.900 habitantes.

A agravar esta conjuntura está o facto de 15,6% da população ter mais de 65 anos de idade, de apresentar uma baixa densidade demográfica (58 habitantes por quilómetro quadrado) e da força de trabalho local preferir outros países para trabalhar na agricultura nesta altura do ano.

Talvez por isso, segundo João Calacho, técnico da Sociedade de Promoção de Empresas e Investimento do Douro e Trás-os-Montes (SPIDOURO), se tenha vulgarizado na região a ideia de que "já não são os portugueses que fazem o vinho do Porto, mas sim os estrangeiros sobretudo trabalhadores provenientes dos países de Leste".

Para o especialista, grande parte das quintas do Douro recorre a empresas de trabalho temporário para recrutar a sua mão-de-obra. "Os antigos angariadores deram lugar a empresas estruturadas que agora começam a surgir, muitas delas centradas apenas na actividade agrícola", explica.

Além da época das vindimas, as empresas asseguram também a força laboral especializada para as demais actividades que se desenvolvem ao longo do ano.

Mas se são muitos os produtores que recorrem a empresas especializadas em fornecer mão-de-obra agrícola, António Girão, proprietário da Quinta das Torres em Mesão Frio e produtor vinícola, "a actual conjuntura económica, a subida da taxa de desemprego e a estagnação do sector da construção civil, originou o retorno à terra".

Para este produtor, há zonas onde é mais difícil encontrar mão-de-obra, mas a realidade é que nos últimos tempos a oferta de trabalhadores cresceu. Gente desempregada que encontra na época da vindima e nas actividades agrícolas uma forma de subsistência.

António Girão ainda teve por isso de recorrer aos serviços de uma empresa especializada nesta área. Tem os seus próprios trabalhadores e quando é necessário recorrer a mão-de-obra extra, diz encontrá-la facilmente junto da população local.

"Este ano chegaram a vir oferecer-se à quinta para trabalhar", confessa. Todavia, não tem dúvidas de que "nas zonas mais interiores, encontrar trabalhadores agrícolas não será tão fácil e aí o papel de um angariador ou das, agora vulgarizadas empresas é determinante", explica.

Sinais de que a aposta em negócios ligados à terra poderá ser uma alternativa de futuro.





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