Até 2021, a indústria aeronáutica, espacial e da defesa vai precisar de mais dois mil técnicos qualificados e pelo menos 200 engenheiros, só em Portugal. O alerta foi lançado esta semana por João Romano, diretor-geral do cluster nacional da Aeronáutica, Espaço e Defesa (AED Portugal). Mas contratar estes profissionais não será tarefa fácil. Nos últimos cinco anos, o país formou mais de dois mil quadros técnicos para este sector e cerca de 300 engenheiros. Números insuficientes para as empresas a operar em Portugal, que continuam a denunciar dificuldades de contratação.
O sector aeronáutico emprega em Portugal um número próximo dos 19 mil profissionais, segundo contas realizadas recentemente pela AED Portugal. A maioria (64%) desenvolve atividade diretamente ligada à indústria, 32% atuam no campo das tecnologias e sistemas e só 4% dos profissionais desenvolve atividade de investigação na área. Há dois anos, as contas da AED apontavam para um total de 68 empresas a operar em Portugal, com um índice de exportação de 87%.
De lá para cá, o mercado cresceu e as necessidades de profissionais qualificados aumentaram. Sobretudo ao nível dos perfis técnicos. O negócio de gigantes nacionais como a CRITICAL Software ou Active Space Technologies está a crescer e nos últimos anos, empresas como as OGMA ou a Embraer criaram em Portugal milhares de postos de trabalho. As próprias OGMA reconheceram recentemente a dificuldade em contratar técnicos de aeronáutica, chegando a admitir ter recusado oportunidades de negócio por falta de mão-de-obra necessária. Um cenário que deverá intensificar-se nos próximos anos, aumentando a pressão sobre a já difícil contratação no sector.
Poucos para as necessidades
A AED Portugal estima que seja necessário formar mais dois mil novos técnicos qualificados e, pelo menos, 200 engenheiros nos próximos três anos, em Portugal. Mais de 200 profissionais já a CRITICAL Software contratou este ano e as vagas ainda não estão todas preenchidas. Jorge Rodrigues, delivery director da empresa e membro da equipa de gestão executiva da empresa, confirma que a empresa atravessa um momento de crescimento ambicioso e que “o recrutamento aumento muito nos últimos anos”. No ano passado, a empresa conseguiu atingir a sua meta e contratou mais de 100 novos elementos.
Este ano a ambição é maior: “o nosso objetivo será contratarmos 400 pessoas até ao final do ano”, confirma o diretor. Até agora a empresa já integrou mais de 200 profissionais e tem atualmente 75 vagas em aberto. As restantes contratações deverão ser fechadas até ao final de 2018. As maiores dificuldades prendem-se, curiosamente, com a contratação de engenheiros especializados em desenvolvimento de software.
A CRITICAL reconhece os desafios de contratar e acrescenta que para a empresa, a identificação de talento é também um desafio de qualificação. “Esforça-mo-nos por conjugar ambições e o potencial dos candidatos com a nossa capacidade de desenvolver competências de engenharia e conhecimento, o que fazemos por exemplo através de programas de reconversão profissional e de formação convencional”, refere. Para estar onde estão os talentos de que necessita, a empresa optou também por abrir um conjunto de escritórios no interior do país em cidades como Vila Real, Tomar, Viseu e Évora.
Na Active Space Technologies, o cenário é semelhante. A empresa recruta em menor escala, integrando apenas dez novos profissionais a cada ano - maioritariamente engenheiros aeroespaciais, aeronáuticos, eletrotécnicos, mecânicos e físicos - mas não é por isso que está imune às dificuldades de contratação. “As nossas maiores dificuldades residem na contratação de profissionais para a área aeroespacial”, admite a diretora de Recursos Humanos, Joana Portelo, explicando que “são necessários profissionais com experiência no sector para uma área que é muito exigente, com requisitos elevados, onde a experiência é da maior importância para o funcionamento das equipas”.
E é o requisito da experiência que complica tudo: “lamentavelmente, não se conseguem encontrar esses profissionais porque também não há muitas empresas em Portugal onde se possa ganhar essa experiência”, frisa Joana Portelo. A empresa procura contornar estas dificuldades com políticas sólidas de retenção e formação constante do talento que já tem e do que vai integrando “assumindo a curva de aprendizagem necessária para atingir o desempenho que procuramos”, refere.
Portugal Aeroespacial
Para João Romano, “Portugal tornou-se nuam geografia apetecível”, próxima da Airbus e “com condições de mercado muito competitivas”. O diretor-geral da AED Portugal acrescenta ainda que “a aquisição da Bombardier pela Airbus e da Embraer pela Boeing veio bipolarizar o mercado, o que poderá potenciar a capacidade nacional”.
O responsável explica que nos próximos cinco anos, os objetivos estratégicos definidos para este cluster passam por “duplicar a contribuição dos três sectores (aeronáutico, espaço e defesa) dos atuais 1,2% para os 3% do Produto Interno Bruto (PIB) português, duplicar o atual esforço de inovação no seio do cluster e tornar visível a nível internacional a marca Portugal Aeroespacial”. E neste campo, segundo a AED, a Agência Espacial Europeia está já a fazer estudos em Santa Maria, nos Açores, para que possa vir a ser criada uma plataforma comercial de lançamento de microsatélites, já que “existem poucos sítios na Europa com as condições desta ilha”.