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Portugal escapa a onda global de cortes

Portugal escapa a onda global de cortes

Tecnológicas despedem a nível global. Mas continuam a contratar

10.08.2018 | Por Cátia Mateus


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O caso mais recente é o da HP que anunciou, na passada semana, um processo de redução de efetivos que deverá levar ao despedimento de cinco mil profissionais, nos diversos países onde a empresa opera. No arranque deste ano, a Amazon e a IBM tinham já anunciado reestruturações semelhantes. A primeira não divulgou o números de postos de trabalho eliminados, mas sabe-se que rondam as centenas. Já a IBM, convidou a sair cerca de 10 mil profissionais em todo o mundo. Além destes, nos últimos cinco anos, a empresa quis também eliminar da sua estrutura perfis mais seniores. Dispensou mais de 20 mil trabalhadores acima dos 40 anos. A esta lista somam-se outras empresas, como a Microsoft, Siemens, Cisco, Nokia e Oracle. Todas despediram a nível global. Portugal está a escapar à tendência.  

A introdução ou substituição de tecnologias por parte das empresas (e consequente necessidade de adaptação das equipas), operações de fusão e aquisição e mudanças legislativas com impacto no desenvolvimento e na utilização da tecnologia (como o Regulamento Geral de Proteção de Dados) podem estar na origem destes processos de reestruturação. “Há empresas que se preparam para um  cenário e acabam por ter outro, mais modesto, o que as leva a redimensionar a operação”, explica Paulo Ayres, especialista em Tecnologias de Informação da consultora de recrutamento Spring Professionals. A Nokia é um bom exemplo. A empresa apostou forte no segmento da realidade virtual com a camera OZO para a captura e edição de vídeo, mas teve de repensar o negócio devido à “imaturidade deste mercado”, despedindo 310 pessoas na Nokia Technologies. 

Em muitos casos, o despedimento numa das áreas estratégicas da empresa vem acompanhado por contratações noutra. Siemens, Microsoft e IBM são disso exemplo (ver caixa). Embora tenham realizado despedimentos em larga escala a nível internacional, continuam a contratar em áreas que são chave para o futuro da empresa, como a cloud (nuvem), segurança, inteligência artificial, machine learning (algoritmos com capacidade de aprendizagem), entre outras. “Durante os últimos cinco anos, reinventámos a nossa força de trabalho e a nossa base de competências para liderar nos segmentos emergentes e de alto valor no sector das tecnologias de informação”, explica fonte oficial da IBM Portugal ao Expresso.

Portugal a contratar

Esse parece ser o caso do mercado nacional, que não parece ter sido alvo das reduções de postos de trabalho anunciadas globalmente pelas tecnológicas. A Siemens fez saber, no final do ano passado, que iria cortar 6900 empregos em todo o mundo, mas contratou 186  profissionais desde o início deste ano comercial em Portugal. E Pedro Pires de Miranda, presidente executivo (CEO) da empresa no país, afirma que a tecnológica “mantém o plano de criar 240 novos empregos líquidos em Portugal, até ao final do ano”, a maioria nas áreas da engenharia, tecnologias de informação e serviços digitais. O CEO garante ainda que o anúncio global de despedimentos não produziu impacto em Portugal: “não saiu nenhum colaborador fora daquela que é a dinâmica normal da empresa”.

Na Microsoft, que tem mais de 500 colaboradores em Portugal, o panorama é idêntico. “A Microsoft continua a crescer e a investir em Portugal, desde 1997”, assegura fonte oficial da empresa em Portugal. “O nosso centro de suporte internacional em Lisboa, que oferece suporte altamente qualificado para tecnologia da empresa, quadruplicou a sua dimensão nos últimos três anos”. O foco está na contratação de para funções nas equipas de pré-venda, engenheiros de suporte, especialistas em soluções na nuvem, entre outras. 

O Expresso contactou igualmente a Oracle, HP e Cisco para obter informações sobre o impacto dos cortes anunciados nas suas operações nacionais, mas as empresas não se mostraram disponíveis para comentar um cenário de eventuais cortes de pessoal.    

Emprego garantido

Falar de milhares de despedimentos no sector tecnológico está longe de ser o mesmo de falar da eliminação de postos de trabalho em áreas como as ciências sociais, as artes ou outras. “Quando existem trabalhadores dispensados na área tecnológica, o mercado absorve-os muito bem. Há centenas de outras empresas a querer contratá-los”, diz Pedro Oliveira, co-fundador e diretor de operações da plataforma de recrutamento tecnológico Landing.jobs. “O mercado está tão bom que o problema não é ter ou não um trabalho, é ter o trabalho certo”, acrescenta.

O especialista da Spring, Paulo Ayres, corrobora a opinião. O líder relembra que  a área tecnológica “tem sido, nos últimos anos, um dos sectores mais dinâmicos do mercado de recrutamento. Do ponto de vista global, a tecnologia deixou de ser vista como uma simples área de backoffice, mas sim uma maneira de reduzir custos, aumentar a competitividade e atrair mais clientes. E isso reflete-se diretamente em Portugal”. 

Há áreas com maior risco de despedimento do que outras. Tudo depende da aposta tecnológica das empresas, concordam ambos os especialistas. “Áreas como programação, data science (ciência de dados), business intelligence (inteligência de negócio), cloud e segurança mantêm uma elevada procura”, diz Paulo Ayres. Mas há outras que nunca chegaram a estar em alta como as infraestruturas tradicionais, não virtuais.

 

Por onde passam ?os cortes    

Siemens

O grupo industrial alemão anunciou no final de 2017 a intenção de suprimir, nos próximos anos, 6.900 postos de trabalho, metade dos quais na Alemanha. Segundo da empresa, Portugal não perdeu nenhum colaborador no âmbito deste processo. 

 

HP

A fabricante de computadores e impressoras anunciou a supressão de cinco mil empregos a nível global, até ao final do ano fiscal que termina em 2019. Os cortes de pessoal começaram já no ano passado e o número agora avançado é superior ao inicialmente previsto.

 

Oracle

Em setembro de 2017, a Oracle eliminou mais de 2.500 empregos em vários países. A maioria eram profissionais “herdados” da Sun Microsystems, adquirida pela empresa. A Oracle não comenta o impacto destes cortes em Portugal.

 

Microsoft

A tecnológica anunciou, em julho do último ano, que ia despedir três mil elementos das suas equipas de vendas. Os cortes afetaram maioritariamente as subsidiárias internacionais, mas Portugal ficou incólume. 

 

IBM

Planeia despedir dez mil profissionais da área de serviços e nos últimos cinco anos, já cortou 20 mil trabalhadores seniores. Apesar disso, fonte da empresa garantiu ao Expresso que, em Portugal e no resto do mundo, “continua a contratar de forma agressiva em áreas de crescimento como cloud, analítica, segurança, e tecnologias de mobilidade e social”.



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