Quando se fala de colaboração entre o tecido empresarial e as instituições de ensino, o que está em causa é o fornecimento de mão de obra e de soluções científicas e tecnológicas, fundamentalmente.
Aquela relação nem sempre funciona de forma eficaz. Ou, muitas vezes, nem sequer funciona, pela simples razão de que não existe.
Na Guarda, os responsáveis pelo Politécnico local e as principais empresas do sector automóvel instaladas na região não perderam tempo com discursos sobre o problema e acabam de anunciar duas novidades: a criação de um curso técnico superior profissional de indústria automóvel e um centro tecnológico de apoio ao sector.
Para o Instituto Politécnico da Guarda (IPG) que já forneceu, em 2016, mão de obra qualificada para a Altran — instalada no Fundão —, isto nem sequer é novidade. Porém, com a criação de um novo curso especialmente direcionado para uma necessidade da região, “é dado um passo em frente e a demonstração clara do nosso empenho na relação com o tecido industrial local”, nota Constantino Rei, presidente do IPG.
Este responsável disse ao Expresso que a relação entre o instituto e o sector empresarial tem sido frutífera e que a taxa de empregabilidade dos cursos está, em média, acima dos 75%.
Parcerias em várias áreas
Atualmente, além das parcerias agora anunciadas com o ramo automóvel, o IPG tem protocolos com empresas do sector mineiro, dos transportes, da construção e obras públicas, entre outras. E trabalha não apenas para a região como também exporta conhecimento, por exemplo, para Angola, onde tem uma parceria com a Mota-Engil, na área da geotecnia.
Constantino Rei fala com orgulho do trabalho que o IPG tem vindo a seguir e diz que apesar de ter perdido alguns alunos, “nos últimos três anos estabilizámos nos 3000, sensivelmente”.
O presidente do IPG tem consciência que uma das queixas recorrentes dos empresários tem precisamente a ver com a falta sistemática de mão de obra qualificada nos locais onde pretendem investir. E também sabe que quando os investimentos são no interior do país, o problema é ainda mais grave. Não só porque há menos gente, mas também porque a que está disponível raramente tem competências adequadas.
E são vários os casos de concelhos do interior — alguns na região da Guarda — que perderam oportunidades de investimento precisamente por não terem pessoas para trabalhar.
“Queremos garantir que isso não voltará a acontecer e por isso estaremos cada vez mais atentos ao que se passa à nossa volta. Já somos uma parte da solução, mas queremos ser cada vez mais”, sublinha aquele responsável.
Sobre o curso agora anunciado para atender ao cluster automóvel da região, Constantino Rei já tinha dito à agência Lusa que será difícil “que haja um envolvimento mais profundo das empresas do que o que foi seguido neste caso”.
Potenciar mais emprego
Garante que “esta é a missão do Politécnico” e pretende que este e outros cursos sirvam também de exemplo para outras áreas, “porque esta interação potenciará a empregabilidade dos futuros diplomados que, afinal, é o nosso principal objetivo: formar pessoas para o mercado de trabalho”.
Na Guarda estão instaladas quatro empresas do sector automóvel: a Coficab Portugal — Companhia de Fios e Cabos, a ACI —, a Automotive Compounding Industry, a DURA Automotive Portuguesa e a SODECIA Powertrain Guarda.
A Coficab acaba de anunciar um investimento de €30 milhões para a criação de uma segunda unidade industrial no concelho. Esta fábrica deverá gerar 300 postos de trabalho.