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Crise baixa remunerações

O período económico difícil que se vive provocou um abrandamento na taxa de crescimento dos salários em todo o mundo.
22.12.2010 | Por Maribela Freitas


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Os números não enganam. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a crise económica e financeira global provocou um abrandamento significativo na taxa de crescimento dos salários reais em todo o mundo. Baseado em estatísticas nacionais oficiais de 115 países e territórios, o Relatório Global sobre os Salários de 2010/11 da OIT estima que “o crescimento dos salários médios mensais reais baixou de 2,8% antes da crise, em 2007, para 1,5% em 2008 e para 1,6% em 2009” .

Excluindo a China – onde as estatísticas só abrangem ‘unidades urbanas' ligadas ao Estado -, o relatório calcula que o crescimento salarial real baixou de 2,2% em 2007 para 0,8% em 2008 e 0,7% no ano passado. “Embora a taxa de crescimento salarial tenha registado um abrandamento em praticamente todos os países, apresentou resultados negativos em mais de um quarto dos países e territórios incluídos na nossa amostra e num quinto deles em 2009” , revela a OIT.

Pormenorizando os dados, registam-se variações regionais significativas no crescimento salarial. A título de exemplo, nos países avançados e após um crescimento de cerca de 0,8% ao ano antes da crise, os salários reais caíram efetivamente -0,5% no início da crise em 2008, antes de voltarem a crescer 0,6% em 2009. Já na América Latina e nas Caraíbas o crescimento salarial real abrandou de 3,3% em 2007 para 1,9% em 2008 e 2,2 % em 2009.

Nos países avançados os impactos de curto prazo que a crise provocou nos salários médios devem ser analisados num contexto de continuada moderação salarial e de declínio prolongado do peso da massa salarial no PIB antes da crise. A OIT revela que ao longo da década de 2000 os salários médios globais subiram quase 25%. “Este aumento foi impulsionado por regiões em desenvolvimento, como a Ásia, onde os salários mais que duplicaram desde 1999, e por países da Europa de Leste e da Ásia Central, onde os salários mais que triplicaram. Em comparação, nos países avançados, os salários reais só subiram cerca de 5% em termos reais ao longo da década, refletindo um período de moderação salarial” , acrescenta a OIT.

Uma realidade que se vive no mundo é que a percentagem de pessoas que recebem remunerações baixas, definidas como menos de dois terços do salário mediano, aumentou desde meados da década de 1990 em mais de dois terços dos países com dados disponíveis. Entre eles estão a Alemanha, Argentina, China, Espanha, Indonésia, Irlanda, Polónia e República da Coreia. De acordo com a OIT “nestes e noutros países com uma percentagem elevada de baixos salários, ou em que essa percentagem está a aumentar, existe o risco de um grande número de pessoas ficar em dificuldades” . A possibilidade de transitar para empregos mais bem pagos mantém-se reduzida e o risco de ficarem presos em trabalhos com baixa remuneração é grande. O que pode levar a um aumento da tensão social.

“A persistência dos baixos salários e das disparidades salariais está associada a fortes elementos discriminatórios» , revela a OIT. Tanto nos países industrializados como nos que estão em desenvolvimento, os trabalhadores com baixas remunerações tendem a ser jovens, são desproporcionadamente do sexo feminino e têm maior probabilidade de serem membros de uma minoria étnica desfavorecida, de um grupo racial ou imigrante. “A concentração destas características entre os trabalhadores com baixos salários leva a uma subestimação dos seus empregos” , salienta o relatório.

Na perspetiva da OIT a estagnação salarial antes da crise pode ter contribuído para a crise e enfraquecido a capacidade das economias para recuperar rapidamente. Futuramente os países poderão vir a concluir que é do seu interesse basear o crescimento económico num reforço do consumo das famílias, consumo esse suportado mais pelo rendimento do trabalho do que pelo aumento da dívida.

O relatório avança mesmo que “as políticas salariais podem dar um contributo positivo para um modelo económico e social mais sustentável” . A negociação coletiva e o salário mínimo podem auxiliar a uma recuperação mais equilibrada e equitativa, assegurando que as famílias que trabalham e as que auferem baixas remunerações obtêm uma percentagem equitativa dos frutos de cada ponto percentual do crescimento económico. “Em épocas de crise e de recuperação, não se pode sobrestimar a importância de garantir um ‘rendimento mínimo' para as famílias vulneráveis que trabalham” , finaliza a OIT.


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