O mercado de trabalho nacional enfrenta uma das piores crises de sempre, tendo superado, segundo dados do Eurostat, a fasquia dos 10% em Outubro altura em que a taxa de desemprego em Portugal se fixou nos 10,2%. Mas apesar disso, há ofertas de trabalho que ficam sem resposta no Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). O desemprego gerou milhares de vítimas no país durante o ano de 2009, mas as exigências dos portugueses em relação ao emprego colocam de lado funções que não encontram trabalhadores. Uma situação que para muitos se agrava na mesma proporção em que aumenta a qualificação média dos portugueses. É que quanto mais qualificados são os trabalhadores, menor a sua disponibilidade para aceitarem tarefas mais tradicionais e, hoje, com menor reconhecimento social. As tecnologias de informação e comunicação estão na moda e de fora ficam funções menos especializadas em sectores como a construção, comércio, serviços ou indústria transformadora.
Um estudo recente, realizado pela IDC a pedido da Microsoft em 13 países da Europa, revela que dentro de cinco anos a tecnologia será fundamental para obter emprego e que, por essa altura, os empregadores contam ter somente 10% de trabalhadores sem competências informáticas nos seus quadros, independentemente do sector de actividade ou do posto de trabalho. Há muito que os portugueses perceberam que é urgente a qualificação na área das tecnologias de informação e comunicação (TIC) para quem quer manter-se activo e competitivo no mercado de trabalho. Mas para os que ainda tinham dúvidas, Jan Muehlteit, presidente executivo da Microsoft para a Europa clarifica a questão: “as competências TIC são fundamentais para a próxima geração de trabalhadores e para a construção da sociedade da inovação na Europa. As tendências tecnológicas determinarão a necessidade de melhores competências neste segmento por parte dos trabalhadores”.
O especialista vai ainda mais longe e diz que “até 2013, este mercado deverá gerar cerca de 7500 novos empregos, sendo ainda de prever o aparecimento de 400 novas empresas na área das TIC”. Uma conjuntura que leva Jan Muehlteit a defender que “os governos deverão concentrar-se continuamente na formação, qualificação e ensino nesta área”. Mas se a qualificação nas áreas tecnológicas tem as suas vantagens, a verdade é que por cá ela também trouxe um estranho paradigma ao mercado laboral. Há desemprego e é elevado, mas há empregos que ninguém quer: aqueles com melhor carência de qualificação.
Segundo Valter Lemos, secretário de Estado do Emprego e Formação Profissional, “entre Outubro de 2008 e Outubro de 2009, Portugal perdeu 170 mil postos de trabalho não qualificado, ou seja, 170 mil pessoas com formação abaixo do 9º ano ficaram sem emprego, mas ganhou 102 mil com qualificação, dos quais 60 mil com o ensino secundário concluído”. Valter Lemos acredita que “as pessoas finalmente já interiorizaram a mensagem e já perceberam que o aumento das qualificações aumenta a oportunidade de terem uma vida melhor” e refere ainda que “neste momento temos um milhão de inscritos em programas de formação profissional e Novas Oportunidades”.
Mas este retracto de um país em busca de maiores e melhores competências tem um revés. A crescente qualificação dos portugueses está a aumentar o fosso entre os empregos de sonho e aqueles que ninguém quer. De acordo com dados do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), em Outubro foram recepcionadas 11 mil ofertas de emprego e dessas, foram preenchidas menos de seis mil. Uma realidade que dá que pensar quando o desemprego atinge em Portugal os 10,2%.
São sobretudo funções onde pesa o pouco reconhecimento social como a construção civil, a indústria transformadora, o comércio, os serviços e as empresas de segurança. Profissões também associadas a baixos salários, horários rotativos ou nocturnos e com mobilidade constante, mas que fazem com que num país onde o desemprego disparou a pique existam empregos que ninguém quer.