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“A redução da TSU teria de ser de 8% para ter um efeito nas exportações”

“A redução da TSU teria de ser de 8% para ter um efeito nas exportações”

A Associação Portuguesa das Empresas do Sector Privado de Emprego (APESPE) tem um novo rosto. Joaquim Adegas sucede a Marcelino Pena Costa que deixa a presidência da associação, depois de 25 anos no cargo. Uma mudança que acontece num momento decisivo no panorama do emprego nacional, onde o trabalho temporário e as empresas do sector privado de emprego, assumem um papel de destaque na inversão da taxa de desemprego que não para de aumentar no país. O novo presidente destaca o papel da APESPE enquanto estabilizador social e fala das medidas prioritárias para travar aquele que já considerado o maior flagelo nacional de todos os tempos, o desemprego. Da Taxa Social Única aos baixos salário, Joaquim Adegas traça a radiografia de um país que precisa de oportunidades.
20.09.2012 | Por Cátia Mateus


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Portugal vive um dos seus momentos mais conturbados em matéria de emprego. De que forma se propõe ajudar a inverter esta situação com o mandato que agora inicia?

A indústria do Trabalho Temporário Agência (TTA), ou Setor Privado do Emprego (SPrE), poderá assumir um papel determinante enquanto estabilizador social. Se, por um lado, permite uma flexibilização das organizações perante os ciclos económicos, por outro, é um potenciador de competências e oportunidades para os jovens e desempregados, aumentando as possibilidades de empregabilidade. Trazemos o justo equilíbrio entre as necessidades económicas e sociais, à sociedade e ao mercado de trabalho. Para um papel tão nobre socialmente, a nossa indústria tem que estar fundada em fortes princípios ético-morais, agindo como uma indústria importante para a recuperação económica e social do nosso país. Não iremos ser o estandarte nem o tambor na guerra contra o desemprego, mas seremos, certamente, o soldado determinado e valoroso.



Em termos práticos em que é que isso se traduz?

A recuperação económica não irá depender da nossa indústria, mas sim, das medidas políticas, económicas e condições conjunturais que existirem. Mas, quando existirem os primeiros sinais de crescimento, estaremos, sem dúvida, na frente do pelotão. Precisamos de uma forte imagem associativa. Não são apenas os aspetos ético-morais que são relevantes, mas também o próprio movimento associativo. A capacidade de convergência com os parceiros sociais será outro fator determinante para a nossa indústria. Um princípio fundamental para a nossa cruzada pelo progresso e emprego.



Pegando na questão da convergência com os parceiros sociais, acredita que as novas medidas de austeridade agora anunciadas, a serem aprovadas, terão resultados efetivos na inversão do desemprego nacional e na criação de postos de trabalho?

Temos de ser cuidadosos nas observações sobre a Taxa Social Única (TSU) e ponderar vários fatores. Se por um lado a, a redução do poder de compra irá originar uma contração no mercado interno e, consequentemente, encerramento de empresas e perda de postos de trabalho, por outro lado, no mercado externo, poderá ser efetivamente um estímulo devido à redução do custo sobre o trabalho. No entanto, na minha opinião, a medida de redução da TSU para as empresas é escassa. A redução teria de ser de 8% para ter um efeito verdadeiramente dinamizador das nossas exportações, conforme indicavam os estudos da

troika

. Mas ficam as questões: o país ficará mais competitivo com esta medida? Valerá a perda real do poder de compra e o sofrimento dos portugueses, no mercado interno, versus o possível ganho de competitividade no mercado externo?



Na sua perspetiva, por onde passa o combate ao desemprego e quais as medidas mais urgentes?

Precisamos de terminar as reformas estruturais e equilibrar a nossa balança comercial. Mas acima de tudo, precisamos de medidas de estímulo económico. O combate ao desemprego e ao défice económico, é possível se efetuado em conjunto, mas terrão de existir apoios da União Europeia para esse efeito recorrendo, por exemplo, ao novo pacote de “eurobonds” para os projetos de infraestruturas. A batalha passará por dois pilares de investimento com a mesma finalidade: a redução do défice energético em Portugal e, consequente, redução do desemprego e crescimento económico. Atualmente, Portugal compra ao exterior mais de dez mil milhões de euros de energia (ano), sendo, sobretudo, 7.5 mil milhões de euros gastos com petróleo. Para resolvermos este problema, teremos primeiro de investir na construção de um projeto de dimensão nacional a nível energético e almejar a redução para 50% do nosso défice energético em 6 anos (ambiciosos mas pragmáticos). Permitir-nos-á poupar mais de 5 mil milhões de euros, por cada ano. Por outro lado, apenas com a retoma do setor da construção civil e obras públicas (CCOP) é que o desemprego irá descer. Não existe outra possibilidade já que mais de 300.000 desempregados são deste setor. E, é preciso recordar que por cada emprego direto criado na CCOP, são criados 3 empregos de forma indireta. É a única solução para baixar o desemprego. Esta fórmula foi aplicada há alguns anos atrás e dava-se pelo nome de New Deal, investimento maciço em obras públicas, controle sobre os preços e a produção, e a diminuição da jornada de trabalho. Pode parecer um retrocesso ao passado mas, neste caso, não irá passar pela construção e estádios de futebol ou três autoestradas em paralelo e sim pela autossuficiência energética. A solução keynesiana é a única, capaz de encontrar uma solução econometricamente ajustada às políticas de intervenção na economia (por parte do estado), tratando-a como um todo sistêmico, sujeita a correções constantes, dentro de políticas de desenvolvimento integrado (sustentabilidade, crescimento e emprego).



E o segundo pilar...

Será o investimento num parque automóvel totalmente elétrico. Precisamos de estimular o investimento e construção de uma indústria automóvel, nas diferentes vertentes (carroçarias e componentes, motores e baterias para este género de veículos). Além disso, terão de ser dados fortes estímulos fiscais à compra deste género de viaturas e, a longo prazo, penalizar as viaturas a gasolina. Com estes investimentos, conseguimos resolver a nossa crise. Reduzir o défice energético, criando uma autossuficiência energética, dando estímulos à economia, e, ao mesmo tempo, criar emprego de forma massiva. Dessa forma traçaremos o caminho do progresso.



Que riscos corremos com as medidas que têm vindo a ser anunciadas?

As reformas estruturais são fundamentais, o ajustamento necessário, mas neste momento precisamos de estímulos. O risco que corremos é seguir o exemplo da Grécia e a taxa de desemprego poder subir muito mais, infelizmente.



Qual será a grande bandeira da APESPE sob a sua presidência?

A nossa indústria e a APESPE, tendo a nobre função de ser um estabilizador social, devem assegurar o respeito e dignificação do trabalho. Temos de mostrar as reais vantagens que a nossa indústria pode trazer ao país e, através da razão, apelar à emoção das pessoas e entenderem que é uma forma legítima e vantajosa de termos um mercado de trabalho com mais empregabilidade. Estima-se que 12 milhões de trabalhadores na Europa utilizem anualmente os serviços das Empresas de Trabalho Temporário de Agência (ETTA) para entrar no mercado laboral, mudar de emprego, atualizar competências ou mesmo passar para posições permanentes. As ETTA fornecem um trampolim no acesso ao emprego em todo o mundo.



Quais as metas mais importantes a alcançar neste mandato?

Elevar a indústria do TT a um novo e incontestável nível, perante as evidências que apresentei no parágrafo anterior. Queremos mudar regras da discussão sobre a nossa indústria e levar o debate para todo um novo território, distanciando-nos dos velhos e estafados argumentos circulares. Precisamos de fazer com que os benefícios dos SPrE sejam inegáveis, de forma a conquistar o coração e a razão das partes interessadas.



Que contributo pode o trabalho temporário dar ao Governo em matéria de combate ao desemprego?

Os ciclos económicos são cada vez mais voláteis, dando origem a uma crescente tensão entre criação e destruição de emprego. A adaptação dos mercados de trabalho a esta nova dinâmica é um dos maiores desafios que as sociedades enfrentam hoje. Trabalhadores e empregadores precisam de um intermediário para reagir, rapidamente, e para equilibrar a oferta com a procura, e garantir que os níveis máximos de participação no mercado de trabalho são mantidos. O TTA permite reduzir o desfasamento entre a recuperação e a criação de emprego. Caso o Governo esteja na disposição de dialogar com a nossa indústria, temos duas vertentes em que poderemos ser muito úteis ao país. A primeira é ao nível da cooperação formal com os centros de emprego. Segundo dados que temos, o setor privado do emprego (SPrE) coloca o dobro das pessoas em comparação com o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). Depois, temos um plano que pode criar mais de 100 mil empregos a médio prazo, no exterior.



Qual?

De uma forma muito sucinta, passa por utilizar a nossa indústria para poder ajudar as pessoas a encontrar outras soluções de trabalho de forma estruturada, noutros países, e com o devido apoio e orientação de profissionais do SPrE. Em vez de dizermos às pessoas para emigrarem e ficarem “entregues à sua sorte”, parece-me que será mais lógico dizermos: “temos uma forma organizada e estruturada de escolherem oportunidades noutros países, terem orientação, apoio e suporte por parte de profissionais e, quando a situação for mais favorável em Portugal voltarem ao nosso país”. Estou certo, de que não perderemos tanto capital humano de grande valor e que tanto custou ao nosso país a formar, pelo menos, de forma definitiva.



Acha que reduzirá a emigração?

Este capital humano poderá regressar com outros conhecimentos e motivação para ajudar o país a prosperar. E desta forma, estas pessoas poderão continuar a contribuir para a Segurança Social Portuguesa e manter ligação com o seu país, almejando o regresso a Portugal. Esta é uma solução possível, mas o Governo terá de ouvir e trabalhar juntamente com o SPrE. Para termos uma noção do potencial deste tipo de movimentos a nível europeu, existem de momento, mais de 1 milhão de pessoas a trabalhar através de SPrE na Europa, mas em Portugal, não estamos aproveitar esse potencial.



O que é necessário para o aproveitarmos?

O apoio do Governo para em conjunto conseguirmos, pelo menos, 10% desta cota no mercado europeu. É possível, não é nenhuma demagogia, mas sim pragmatismo e ambição. Os portugueses são muito bem vistos a nível mundial e, infelizmente, neste momento, são os mais qualificados que procuram soluções de emprego fora de Portugal.



Qual é atualmente o perfil dos temporários portugueses?

Neste momento, é bastante transversal. Existem TT desde os cargos indiferenciados até aos mais qualificados, em diferentes setores.



Quanto representa o sector?

Segundo os últimos dados que temos do IEFP (2010), representava 1,8% da população ativa.



Como se pronuncia em relação à crescente política de baixos salários?

É uma consequência da lei da oferta e procura. Em períodos de crise económica, em que existe capital humano em grande número para certas profissões, o preço diminui de forma drástica. Mas, podemos verificar que, curiosamente, há profissões onde isso não acontece, como os canalizadores, alguns tipos de soldadores e operadores de máquinas industriais. Apesar, de mesmo neste tipo de profissões ter existido uma redução no valor dos salários, a diferença não é tão acentuada como em algumas profissões qualificadas (licenciados). Temos que começar a recuperar o conceito de escola industrial para equilibrar as necessidades do mercado de trabalho e acabar com estes fenómenos de desvalorização excessiva dos salários de profissionais qualificados. Estes fenómenos são prejudiciais a um bom funcionamento do mercado de trabalho, acabando por criar tensões económicas e sociais.



Bilhete de identidade

Joaquim Adegas
35 anos
Presidente da Associação Portuguesa das Empresas do Sector Privado de Amprego (APESPE) e administrador da SPT – Trabalho Temporário.

Formação É licenciado em Ciências da Comunicação pela Universidade Fernando Pessoa.

Percurso Iniciou a sua carreira na Associação Nacional de Jovens Empresário (ANJE), como estagiário, tendo depois passado por várias organizações. Nos últimos anos tem desenvolvido atividade na liderança da SPT, como administrador. Tinha 23 anos quando assumiu o seu primeiro cargo de direção.

Ambição “Deixar um legado profissional”.

Desafio atual “Elevar a indústria do emprego privado (vulgo trabalho temporário de agência) a um novo patamar e mostrar a diferença que podemos fazer no mercado do emprego”.

Princípio de gestão “Equidade nas decisões do dia a dia”.

Maior desafio da carreira “Faturar o primeiro milhão”.

Maior dificuldade “Reunir uma equipa que transmita o espírito e a dinâmica que pretendo. O mais importante é o valor e a essência do capital humano”.

Defeito profissional “Pouca tolerância para as falhas profissionais”.

Característica de liderança “A capacidade de encontrar soluções nos momentos mais difíceis (criatividade), mas com sentido ético-moral”.

Guru Benjamin Franklin “pela diversidade de conhecimentos e pela sua fabulosa publicação Almanaque do Pobre Ricardo e a atualidade da mesma”.

Hóbis Leitura e trekking em alta montanha.


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