Um mundo de oportunidades
Há cada vez mais profissionais decididos a consolidar uma carreira global. A crise ajudou, em Portugal, a impulsionar a tendência mas está longe de ser a única responsável pela vontade, cada vez maior, que os profissionais têm de trabalhar com um pé no mundo. As oportunidades estão em todo o lado, mas a Europa e a América são os destinos que mais atraem os portugueses, seja para trabalhar ou internacionalizar negócios.
28.09.2012 | Por Cátia Mateus
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O último Guia Salarial da consultora Hays não deixa grande margem para dúvidas. Quando a empresa de recrutamento e seleção analisou pela última vez as tendências de recrutamento e remuneração no mercado de trabalho português concluiu que a grande maioria dos profissionais (75,3%) estava disposta a trabalhar no estrangeiro. Os dados, recolhidos para 2012, apontam ainda a Europa como um destino de eleição para 88,7% dos inquiridos. Logo a seguir no ranking dos destinos de emigração estão a América do Norte (com 48,4%), a América do Sul (com 46,4%), África (32,6%) e Ásia (23,6%). Apesar da tendência crescente de investimento em Angola e Moçambique, os países de língua oficial portuguesa reúnem apenas 38,4% das intenções de emigração, segundo o estudo.
Os dados comprovam que quando a meta é internacionalizar, seja a carreira ou o negócio, os portugueses encontram oportunidades nos quatro cantos do mundo. A seu favor têm a facilidade de adaptação e de aprendizagem de novos idiomas, competências que aliadas ao seu nível de qualificação os colocam na mira das empresas internacionais. Os engenheiros e os profissionais ligados à área das tecnologias de informação figuram entre os perfis que mais oportunidades encontram nos mercados internacionais.
E as oportunidades podem vir até de empresas portuguesas em expansão. É o caso da tecnológica Safira. A empresa que conta atualmente com uma equipa de 130 colaboradores está a expandir a sua atividade, mas não abre mão dos profissionais portugueses. Desde o início de 2012 já recrutou 41 profissionais e tem agora 46 novas posições em aberto para preencher até ao final do ano, numa altura em que acaba de inaugurar o seu escritório em Londres.
A tecnológica tem vindo a conquistar projetos em países dos quatro continentes, incluindo a Suíça, França, Dinamarca, Chile, Emirados Árabes Unidos, Angola, Espanha e Polónia, contando nos dois últimos com uma subsidiária já instalada. Com um negócio global que deverá alcançar até ao final do ano os 6,5 milhões de euros. Cerca de 60% da faturação é alcançada em patamares internacionais e este ano já cresceu dois dígitos face a 2011.
A Safira procura sobretudo engenheiros na área das tecnologias para desempenharem funções em Portugal ou junto dos seus clientes internacionais. Pedro Penedo, partner da empresa, esclarece que “a Safira tem estado a recrutar desde o inicio do ano e tem ainda mais 46 posições em aberto”. O responsável acrescenta que “a empresa continua a apostar forte na estratégia de exportação da inovação construída em Portugal, reforçando o seu compromisso com o crescimento do país e proporcionando à equipa experiências além-fronteiras extremamente estimulantes e enriquecedoras”.
E basta aceder ao portal da Rede Eures (www.iefp.pt/eures) para perceber que todos os dias há novas ofertas de empresas internacionais à procura de portugueses. A Alemanha é líder nas missões de recrutamento em solo luso. Estima-se que no país existam cerca de 400 mil oportunidades disponíveis, das quais a maior fatia é para engenheiros. Noruega, Finlândia, Dinamarca, Reino Unido e Bélgica, são também potenciais países de destino para profissionais portugueses, não só nas engenharias como também na saúde, ensino, restauração, gestão ou banca.
Fora da Europa, Brasil, Angola e Moçambique são oportunidades de peso. Angola tem uma forte carência de profissionais qualificados em quase todas as áreas, mas tem vindo a acolher em grande escala perfis ligados à industria da construção (profissionais técnicos, engenheiros e arquitetos), docentes, gestores (incluindo os vocacionados para a área dos recursos humanos) e perfis da areada logística e finanças. Necessidades semelhantes tem Moçambique, enquanto no Brasil, a dinâmica do recrutamento está ao rubro em quase todos os setores. Com os eventos desportivos que se aproximam, o país tem gerado inúmeras oportunidades para portugueses qualificados na área da engenharia civil, arquitetura, marketing, organização de eventos e gestão. O país tem uma previsão de criar até 2015 oito milhões de novos empregos e poderá tornar-se, até pela proximidade linguística um importante mercado para os portugueses altamente qualificados.
Projetos globais cativam portugueses
O número de colaboradores que se movimentam em projetos internacionais cresceu dois terços desde 2009. Os dados são da consultora Mercer que apurou, no seu estudo “Benefits Survey for Expatriates and International Mobile Employees”, que esta internacionalização de quadros está a criar novos desafios às empresas, nomeadamente no que diz respeito aos programas de benefícios para expatriados.
“A necessidade das empresas em internacionalizar a sua atividade, competir no mercado global e ganhar experiência em diversas geografias provocou um aumento na mobilidade internacional dos seus colaboradores”, explica a consultora que enfatiza o facto do número de colaboradores com contratos internacionais ter registado, desde 2009 até este ano, relativa estabilidade enquanto o número de “nómadas globais” (colaboradores que viajam de país para país em múltiplos projetos) e expatriados a longo prazo, aumentou cerca de dois terços nos últimos três anos.
O estudo da consultora foi realizado entre 2011 e 2012 junto de 288 empresas multinacionais, com cerca de 119 mil expatriados. O objetivo foi, segundo a Mercer, “dar uma perspetiva das políticas de expatriação nas grandes empresas multinacionais”. Segundo o estudo, o número de “nómadas globais” aumentou de 6% para 10% e o número de expatriados de curto prazo, com missões inferiores a um ano, caiu de 17% para 11%. Por sua vez, a percentagem de expatriados a longo prazo cresceu de 21 para 41%, entre o estudo realizado pela consultora em 2008/2009 e o relatório agora divulgado.
Para Tiago Borges, responsável nacional da área de estudos de mercado da Mercer, explica que esta tendência de internacionalização tem benefícios efetivos para as organizações. “Os colaboradores trazem experiência internacional sólida e um conhecimento profundo de vários ambientes geográficos que são essenciais para as empresas que procuram alargar o seu negócio a nível internacional e ganhar vantagens competitivas”. O especialista refere que “cada vez mais verificamos que as empresas multinacionais esperam que os seus talentos tenham experiência em diversas geografias, como um pré-requisito para subir na carreira”.
E com exigências neste patamar, torna-se claro que para a generalidade das organizações os benefícios para expatriados são uma prioridade. 85% dos inquiridos pela consultora no seu estudo, têm procedimentos específicos para medir o sucesso e o impacto dos seus programas de benefícios e a forma como estes respondem às necessidades dos trabalhadores globais. “A maior parte das empresas inquiridas (63%) mantém a gestão dos planos de reforma dos seus expatriados no país de origem, por considerarem ser este o local mais provável da sua reforma”, explica. 98% das empresas oferecem também seguros de assistência médica aos colaboradores com mobilidade internacional. Um número que tem vindo a crescer.
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