Amândio da Fonseca
Administrador do Grupo EGOR
A discussão e controvérsia que a questão do trabalho temporário suscita em toda a Europa e de forma mais activa em Portugal constitui um «fait-divers» no processo complexo e moroso como se processam as transformações de natureza económica, politica e social sobretudo quando põem em causas direitos e motivações adquiridas e sentidas como legitimas.
O paradigma da segurança do emprego para toda a vida constitui uma herança de uma Europa social que teve a oportunidade de desenvolver e concretizar no séc. XX condições excepcionais de sucesso e de prosperidade económica. O mundo ocidental baseado numa política selvagem de exploração dos recursos do planeta e dos povos que dominou mercê da sua superioridade tecnológica e de uma cultura newtoniana e taylorista centrada na eficiência e no lucro atingiu condições de prosperidade nunca antes alcançadas pela Humanidade.
A situação actual é totalmente diferente. Como consequência do surto de desenvolvimento e bem estar económico e social , da hiper-aceleração do progresso tecnológico, do processo de globalização dos mercados e da perda de valores que tendem a acompanhar o progresso económico e o poderio político o mundo está a atravessar, nas últimas décadas, não mais uma fase de mudança mas sim um profundo e irreversível processo de transformação.
O sucesso desta transformação passa por um renovado paradigma dos negócios e organizações nas quais as práticas corporativos de responsabilidade social e o papel regulador dos governos, se traduzam em novos modelos de equilíbrio com níveis de sustentabilidade económica, social e ecológica que substituam os padrões exclusivamente centrados no lucro que ainda predominam.
Passa, finalmente e, decisivamente por uma transformação de mentalidades das pessoas resultante de um processo de educação e conscienciali- zação de que o único e exclusivo factor de segurança de emprego e crescimento pessoal e profissional depende de um processo de aprendizagem e de competências ao longo da vida. Sob pena de continuarmos a discutir enquanto o barco se afunda...