Nos últimos anos, quer no Turismo quer na Saúde, os desafios somaram-se para os profissionais portugueses. Os primeiros, fruto da crescente dinâmica do sector, viram surgir novas oportunidades em sectores de nicho, qualificaram-se e viram os seus processos de recrutamento intensificar o grau de exigência. Os segundos, como resultado da estagnação de carreiras e dos cortes no sector da saúde, estão a virar-se de forma crescente para a indústria, sobretudo a farmacêutica e de dispositivos médicos. O cenário nacional do emprego no Turismo e na Saúde está a mudar e garantem os especialistas, o mercado mexe-se hoje mais rápido. A partir de segunda-feira, 12 de outubro, a plataforma Portugal a Recrutar dá início à feira de emprego virtual no Turismo e Saúde. Há centenas de oportunidades, mas há dados que precisa de conhecer para as aproveitar em pleno.
Cerca de 9.621,6 mil hóspedes, 26.800,3 mil dormidas e 6.002,3 milhões de euros são os números do turismo nacional em Julho deste ano. Os dados fornecidos ao Expresso pelo Turismo de Portugal demonstram, segundo a entidade, a dinâmica do sector face ao período homólogo traduzida num crescimento de 8,8%, 13,4% e 12%, respetivamente. A acompanhar esta evolução está, segundo o Turismo de Portugal, o crescente interesse do público mais jovem pela qualificação e formação nesta área. Os dados disponibilizados pela instituição dão conta de um aumento de 20% de inscritos em cursos de formação inicial e 3% em ações de formação contínua, nas escolas de turismo nacionais, no presente ano letivo.?
Raúl Filipe, presidente da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril (ESHTE), confirma este interesse. A escola que lidera disponibilizou no último concurso nacional de acesso ao ensino superior 430 vagas, preenchidas na totalidade. Os cursos de Gestão Hoteleira são os que registam, segundo o responsável, índices de procura mais elevados. Pedro Martins, conselheiro da escola suíça Les Roches em Portugal, também realça a tendência. Apesar de se tratar de uma escola internacional de topo que todos os anos se posiciona entre as melhores do mundo na área da formação hoteleira, que representa um investimento elevado em termos de custo e que realiza apenas dois cursos por ano - com início em janeiro e agosto - fora de Portugal, o responsável assegura que todos os anos cerca de 50 alunos portugueses rumam ao campus de Marbella, geograficamente mais próximo, para consolidar a sua formação. Muitos optam por fazer uma carreira internacional após a conclusão do curso.?
Uma decisão que poderá estar relacionada com alguns constrangimentos que Raúl Filipe ainda aponta ao sector, apesar das melhorias evidenciadas nos últimos anos. “Entre 2012 e 2014 foram perdidos alguns postos de trabalho, nos sectores do alojamento e da restauração, que têm vindo a ser recuperados devido á crescente procura do país enquanto destino turístico”, explica o presidente da ESHTE acrescentando que “a revisão e correção das debilidades atuais passa também pela alteração da atitude dos empresários turísticos face à mão-de-obra que empregam, apostando na valorização da sua carreira, na aposta em profissionais com formação técnica especializada e na reciclagem/formação contínua dos profissionais que já se encontram a operar no sector”. Uma preocupação com a qualificação que é partilhada por Fernando Magalhães, diretor de Recursos Humanos do grupo Vila Galé. O responsável de recrutamento aponta a aposta na qualificação dos profissionais como um dos investimentos prioritários para o sector.
Na área da saúde, os desafios são distintos. Ao contrário da expansão acelerada das oportunidades de trabalho evidenciada pelo Turismo, na área da saúde, fruto das restrições de investimento no sector e da estagnação da progressão de carreira, Pedro Caroço, manager Michael Page Healthcare & Life Sciences, prefere falar em diversificação das oportunidades, sobretudo para os médicos e enfermeiros. “Há um número crescente de médicos e enfermeiros, com forte especialização, a ponderar e optar por carreiras internacionais na sequência da estagnação que a progressão na carreira no sector público tem sido alvo, mas também há um número cada vez maior destes profissionais a optarem por percursos de carreira associados à indústria, nomeadamente nos sectores farmacêutico e de dispositivos médicos onde há uma procura crescente de profissionais especializados”. Salários mais aliciantes, possibilidade de integrar plataformas de inovação e investigação associadas ao sector e progressão profissional mais rápida são alguns dos planos onde a indústria ganha.?
Ainda assim, fora da indústria mas no sector privado, as oportunidades também estão em evolução para os perfis com formação na área da saúde. Em 2010, a José de Mello Saúde tinha 4700 profissionais. E, 2015 fechará o ano com oito mil. “Em 2015, só até agosto tinham sido criados 400 novos postos de trabalho e estimamos chegar aos 550 no final do ano”, explica Rosário Frias, diretora de recursos humanos da empresa. Médicos, enfermeiros, auxiliares de ação médica, mas também administrativos e assistentes de atendimento ao cliente representam a maior percentagem das novas contratações da empresa. Uma tendência que deverá manter-se no último ano.