A necessidade de abordar novos mercados, novos clientes e investidores, habituados a padrões de excelência na consultoria imobiliária, levou as empresas do sector imobiliário a adotarem um novo posicionamento na hora de recrutar, mais focado na qualificação e no profissionalismo do que “na queda para as vendas”, que durante anos norteou as opções das empresas na altura de constituir as suas equipas comerciais. Numa consultora imobiliária cabe hoje um amplo painel de profissionais. Ricardo Sousa, administrador da Century21 Portugal, não tem dúvidas de que o cenário na mediação imobiliária, “que tradicionalmente não é um sector de destino ou uma primeira opção para muitos profissionais de diferentes áreas”, mudou. O especialista fala numa evolução clara do perfil dos colaboradores do sector, impulsionada pela crise e pelo desemprego elevado que ainda se regista em sectores estratégicos como a Engenharia, a Arquitectura, o Marketing ou em perfis ligados à área da Banca e Seguros e acrescenta que “nos últimos anos muitos profissionais encontraram e descobriram as vantagens desta profissão e o potencial ilimitado de rendimento desta atividade”.
Durante muitos anos, a atividade de mediação imobiliária foi encarada com algum preconceito por parte dos profissionais, funcionando quase sempre como uma carreira de “segunda escolha“ e raramente como uma primeira opção. Um cenário que o recente contexto de desemprego nacional e o crescente investimento de marcas internacionais de mediação imobiliária em Portugal, ajudou a alterar. “Atualmente, as marcas internacionais estão a dominar o mercado e a oferecer diversas perspetivas profissionais, boas condições e sólidos apoios para o desenvolvimento da carreira”, explica Ricardo Sousa garantindo que este investimento e a dinâmica que o mercado imobiliário nacional tem vindo a registar nos últimos dois anos, está a atrair “perfis cada vez mais elevados para o sector”.
Depois de um longo período de crise e estagnação do sector que empurrou para o desemprego e para a emigração centenas de profissionais ligados ao sector imobiliário e da construção, e obrigou as empresas a reinventarem os seus modelos de negócio e a inovar no seu posicionamento para se manterem ativas, o presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), Luís Lima, fala numa clara fase de recuperação do sector, com um aumento do número de transações imobiliárias e do valor das mesmas”, que foi, realça, “fruto do trabalho desenvolvido pelas empresas no sentido de se internacionalizarem e mudarem o seu paradigma de ação”. O especialista hesita em falar numa recuperação plena do sector, e prefere referir que “a estagnação está ultrapassada”, reconhecendo contudo que o sector ainda enfrenta múltiplos desafios.
Interesse internacional impulsiona recuperação
Do lado dos promotores imobiliários, a análise é semelhante. Hugo Santos Ferreira, secretário-geral da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII), refere que “o sector imobiliário tem sido o motor da economia nacional que mais tem contribuindo para a saída da profunda crise que atravessamos”, e realça o importante papel que o investimento estrangeiro tem tido na crescente dinâmica do sector. “O investimento feito por não residentes cifrou-se, no ano passado, nos 3,3 mil milhões de euros, uma importante fatia dos quase 15 mil milhões de euros que o mercado totalizou em 2015”, explica. Mas para Hugo Santos Ferreira, “mais importante que esta vaga de investimento estrangeiro, é o efeito de contágio que a mesma começa a causar nas empresas portuguesas, que desde meados do ano passado começaram lentamente a regressar ao mercado, relançando projetos que haviam ficado suspensos em virtude da crise” e, consequentemente, reforçando as contratações.
Em matéria de criação de emprego, o secretário-geral da APPII, fala numa dinâmica crescente e numa aposta em perfis cada vez mais qualificados, sejam eles jovens ou seniores, atraindo para o sector profissionais qualificados em distintas especialidades. Contudo, relembra que segundo os números recentes da Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário, “a fileira da construção e do imobiliário que em 2002 representava um total de 943 mil postos de trabalho e que mesmo antes da crise contabilizavam-se ainda 800 mil postos de trabalho”. Hoje, refere, “mercê da crise, registou-se uma perda de quase 300 mil empregos na fileira, estimando-se que a mesma represente 600 mil postos de trabalho”, tornado-se para o secretário-geral da APPII urgente “repor, rapidamente, os números do período pré-crise”.
Pese embora o facto do sector estar a atrair um número crescente de profissionais qualificados de outras áreas que se viram “empurrados” para o desemprego ou a emigração pela recente crise económica nacional, Luís Lima relembra que “o sector imobiliário não é um refúgio nem a solução para o desemprego”. Para o presidente da APEMIP, “há perfis que terão mais facilidade em integrar este mercado, mas o recrutamento destes profissionais não se concretiza como solução para, por exemplo, escoar o desemprego qualificado ou ocupar gente em idade de pré-reforma ou mesmo na reforma”. A contratação para o sector, enfatiza, “faz-se hoje orientada pela necessidade que o sector imobiliário tem de ser servido por profissionais com formações crescentemente exigentes”. E essa exigência foi impulsionada por um novo paradigma de procura - hoje mais exigente e diversificada - e que carece de uma resposta imediata por parte das empresas.