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Polémicas universitárias lesam alunos

Os cursos da Universidade Independente podem ter um custo demasiado alto para os alunos no seu ingresso no mercado de trabalho.
04.04.2007


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Marisa Antunes
A polémica na Universidade Independente (UnI) tem custos inquantificáveis para os seus mais de dois mil alunos que mais cedo ou mais tarde irão entrar no competitivo mercado de trabalho. Um verdadeiro balde de água fria para quem durante anos gastou milhares de euros em propinas e que agora vê o seu investimento descambar num retorno negativo.


Uma situação que poderia ter sido evitada, como lembra Humberto Silva, presidente da Federação Nacional das Associações de Estudantes do Ensino Superior Particular e Cooperativo (FNESPC): "Todo o processo foi mal conduzido desde o início pois nunca se deveria ter deixado que uma situação administrativa problemática acabasse por ter repercussões tão negativas para os alunos".

Repercussões que poderão ter consequências desastrosas quando se procura o primeiro emprego. "Quando até o diploma do primeiro-ministro tirado na Independente está a ser colocado em causa, o que se dirá de todas as outras pessoas que lá tiraram ou ainda estão a tirar o curso?", questiona Humberto Silva.

Ana Loya, administradora-executiva da Ray Human Capital, empresa de recrutamento e "executive-search" salienta que "as consequências relacionadas com os escândalos ligados aos gestores destas instituições têm a curto prazo algumas implicações, à semelhança do que aconteceu com a Universidade Moderna. Mas, para além dos escândalos, será seguramente a falta de exigência nos critérios de ingresso na Universidade Independente (em alguns casos médias negativas) que terá implicações na vida profissional dos seus licenciados.

Ana Loya lembra ainda que "há uma diferenciação nas oportunidades de entrada no mercado de trabalho consoante a escola de origem dos recém-licenciados já que, é do conhecimento público que em algumas universidades se verificam graus elevados de exigência e qualidade - Clássica, Nova, Católica, ISCTE, por exemplo - e, noutras universidades se pode entrar com média de 8,5. Isto diferencia logo os grupos".

Administradora de uma outra empresa de "executive-search", a MRI Worldwide Portugal, Ana Luísa Teixeira, corrobora, acrescentando que as empresas não excluem directamente os candidatos de certas universidades, antes verbalizam as suas preferências em relação a determinadas faculdades.

"Mas uma má gestão da imagem da faculdade junto do público, dúvidas sobre a qualidade de ensino e sobre processos e procedimentos, padrões de Ética duvidosos, dúvidas quanto à qualidade de ensino, entre outros, em geral não contribuem de forma positiva para a empregabilidade do licenciado", aponta ainda.

Apesar de tudo, a responsável faz questão de salientar que "o peso da instituição vai diminuindo à medida que a pessoa vai ganhando experiência".

Para quem está agora a formar-se na UnI e nunca trabalhou, não podendo valer-se dessa mais-valia, Ana Luísa Teixeira deixa, ainda assim, algumas dicas: "Como já comprovou um estudo elaborado pela MRI, um dos factores mais importantes não só na fase do recrutamento como ao longo da carreira, é a atitude pessoal ainda mais que a formação académica. A energia interior de cada um tem um peso extraordinário".

Conscientes, no entanto, das dificuldades que se avizinham, muitos têm sido os estudantes da Independente a procurar alternativas, como confirma Humberto Silva. "Já muitos alunos iniciaram consultas noutros estabelecimentos de ensino para tentar saber quais as possibilidade de equivalências e de transferência, mas, até agora, além das consultas, nada se efectivou", disse o porta-voz da FNESPC.

Humberto Silva espera agora que o Ministério do Ensino Superior, tutelado por Mariano Gago, auxilie os alunos que queiram fazê-lo, lembrando que o Estado tem "obrigação moral de ajudar estes universitários".

Já em conferência de imprensa realizada na passada semana, Mariano Gago admitiu que as universidades públicas e privadas de Lisboa têm capacidade para acolher os estudantes da UnI, em caso de encerramento, não sendo preciso criar um regime especial de transferências, uma vez que uma portaria do Governo, que aguarda publicação em 'Diário da República', já prevê que estas possam ocorrer em qualquer momento do ano lectivo.





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