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Óbidos: vila empreendedora

Como se transforma uma prestigiada mas pequena vila medieval num centro cultural e artístico, cujas iniciativas se desdobram e prolongam por todo o ano? Com empreendedorismo autárquico, um conceito seguido à letra no município de Óbidos e que já deu resultados assinaláveis na economia da região
12.09.2008


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Marisa Antunes
Óbidos está sempre em festa. Literalmente. O frenesim cultural e artístico começa no início do ano com um dos mais procurados eventos desta vila — o Festival do Chocolate — e termina com chave de ouro, com o muito popular Óbidos Vila Natal. Duas acções que arrastam atrás de si quase meio milhão de turistas. Pelo meio, as iniciativas desdobram-se — Semana Santa, Maio Barroco, Junho das Artes, Festival de Ópera, Mercado Medieval, Semana Internacional do Piano, Festival de Ópera, Temporada do Cravo, Teatro em Óbidos, etc. Tudo para que a vila não pare, o fluxo de turismo se mantenha, os restaurantes e a oferta hoteleira registem níveis significativos de ocupação.

Para manter este dinamismo turístico, a autarquia criou uma empresa, a Óbidos Patrimonium, que funciona como uma mega-agência de promoção de eventos. Esta empresa funciona com um orçamento de três milhões de euros e uma equipa de produção que chega a atingir uma centena de pessoas, como electricistas, carpinteiros ou pintores.

Quando se contabilizam os artistas, os músicos, os cantores necessários para animar os eventos e o pessoal de segurança e de limpeza para o reforço nesses dias fala-se, então, em cerca de 1000 pessoas. Só o Festival de Ópera movimenta cerca de 500 pessoas. Profissionais que chegam de todos os pontos do país. Um pequeno exemplo: para se encontrar os Pais Natais necessários para o evento de maior sucesso de Óbidos e que dura cerca de um mês foi realizado um «casting» nacional.

A liderar este empreendimento autárquico está Telmo Faria, presidente da Câmara de Óbidos, desde 2001. “Há sete anos, os únicos eventos que aqui existiam eram as celebrações religiosas. Ou seja, partimos de uma situação onde existia uma marca forte, com um castelo e um centro histórico único e bem preservado, mas nós queríamos mais do que uma relíquia do passado. Queríamos construir uma economia criativa para as pessoas e para os investidores. O caminho passou pela mediatização cultural. E hoje não há ninguém que não associe Óbidos aos eventos que entretanto fomos organizando”, realça o autarca social-democrata, que é também presidente do conselho de administração da Óbidos Patrimonium.

10 milhões só no Natal

Telmo Faria dá números que traduzem bem o «boom» turístico que Óbidos tem vivido nos últimos anos: “Em Dezembro, que era o pior mês para o turismo devido ao frio e à chuva, passámos a ter um movimento idêntico a Agosto, com a iniciativa Vila Natal. Esse movimento gera, em média, cerca de 10 milhões de euros para os comerciantes locais, restauração e hotelaria. Basta dizer que de 24 mil dormidas em 2004, temos actualmente registadas, em média, cerca de 100 mil por ano, no concelho de Óbidos”.

Um incremento de fluxo turístico ainda mais assinalável porque ocorreu, como faz questão de sublinhar o presidente camarário, no “momento de maior crise económica”. “Que a nós não nos afectou. Pelo contrário”, reforça ainda.

Esta “economia do turismo” que alimenta não só Óbidos mas as localidades vizinhas, vive para além dos eventos culturais. A oferta turística de qualidade que foi entretanto surgindo nos últimos anos tem atraído os apreciadores de golfe e quem pode desfrutar de temporadas de lazer em ambiente de SPA.

Reflexo do sucesso no turismo são os números do desemprego: “O mais baixo de sempre dos últimos 30 anos. No centro de Emprego das Caldas da Rainha, por exemplo, não há mais de 200 desempregados inscritos”.

«Cluster» criativo

A complementar todos estes resultados está uma das mais recentes conquistas do município: Óbidos tornou-se líder do projecto comunitário ‘Clusters Criativos em Áreas Urbanas de Baixa Densidade', inserido no Urbact II e que visa promover o dinamismo económico-social e territorial das áreas de baixa densidade, tendo como motor as actividades criativas.

A candidatura de Óbidos foi uma das 24 aprovadas, entre 120 projectos em toda a Europa. A de Óbidos é a única liderada por um município português. “É uma responsabilidade e uma honra estar na liderança de um projecto europeu em parceria com quatro cidades europeias (Reggio Emília - Itália, Mizil - Roménia, Enguera - Espanha e Catanzaro - Itália)”, refere Telmo Faria. “Estamos a montar o projecto Óbidos Criativa que vai ser anunciado ao país no início do próximo ano e onde queremos demonstrar que podemos ser um bom exemplo a nível nacional”, confidencia ainda o autarca.

O projecto assenta no pressuposto de que as actividades criativas atraem pessoas criativas (sejam elas jovens talentos, adultos em fase de mudança de carreira ou reformados activos) e, por outro lado, também pequenas empresas nas áreas de «design», artesanato, arte, antiguidades, música, publicidade ou arquitectura.





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