Apenas 6% dos casos de trabalho extraordinário ocorridos em empresas nacionais, são justificados com a necessidade de dar resposta ao excesso de encomendas de última hora. A maior percentagem das horas de trabalho extraordinárias realizadas são causa direta de um planeamento interno desajustado (42%), uma dimensão desadequada das equipas (24%) ou ineficiência (16%). Em suma, decorrem de problemas de gestão. O retrato é traçado pelo Kaizen Institute, no seu barómetro de Recursos Humanos, que nos últimos seis meses inquiriu 80 diretores de recursos humanos de empresas públicas e privadas, em sectores como a banca, indústria, saúde, logística, retalho e serviços.
“Trabalharmos mais horas não significa trabalharmos melhor”, afirma António Costa, sénior partner do Kaizen Institute Western Europe. O líder realça que as conclusões do último Barómetro de Recursos Humanos apresentado pelo instituto a que preside demonstram isso mesmo: “apenas 6% dos inquiridos apontam questões urgentes como causa para o trabalho extraordinário. Isso significa que o tecido empresarial português tem uma enorme margem de progressão para melhorar processos que terão reflexos em ganhos de eficiência e do negócio”.
Privados contra redução de horários
Em matéria de gestão de horários de trabalho, António Costa chama a atenção para um aspeto relevante que se destaca nas conclusões do estudo agora divulgado que é o facto de 72% dos diretores de recursos humanos inquiridos encararem como negativa a redução da carga horária no sector privado, sob o argumento de que pode estar em causa a diminuição da competitividade das empresas. “Somente 28% dos diretores de recursos humanos, consultados no âmbito do Barómetro Kaizen de Recursos Humanos, encara esta alteração como positiva e 20% estão convictos de que os colaboradores seriam mais produtivos face a uma redução da carga horária”, explica.
este propósito, Adelaide Martins, diretora de recursos humanos da Ascendi, realça que “tão importante como o número de horas suplementares trabalhadas, ou a reposição das 35 horas semanais, é saber atingir resultados e cumprir objetivos, com eficácia, com sistemas e ferramentas de apoio à gestão, como aumentar a produtividade”. Para a diretora de recursos humanos, “isto pressupõe capacidade de liderança e de pensar estrategicamente, de motivar e promover a felicidade, ou mesmo a espiritualidade nas organizações, pois se o absentismo elevado constitui um problema, atualmente é o presentismo e as suas implicações que devem captar a nossa atenção”. Segundo Adelaide Martins, o presentismo laboral “afeta igualmente a produtividade e indicia desequilíbrios na vida profissional, pessoal e na saúde dos trabalhadores, comprometendo o tão desejado work-life balance”.
O barómetro semestral de Recursos Humanos do Kaizen Institute analisa ainda as perspetivas dos líderes em relação à estabilidade do mercado de trabalho e às tendências de evolução futura. Este último estudo cruza as opiniões dos inquiridos com um relatório recente da OCDE, que aponta para um nível de incerteza do mercado laboral nacional muito superior à média europeia, com os portugueses a enfrentarem uma probabilidade de 8,6% de perda do seu emprego (uma probabilidade muito superior aos 5,4% da média europeia). Para a maioria dos diretores de recursos humanos portugueses (70%), “estes dados são preocupantes já que a estabilidade é crucial para o bem-estar profissional dos colaboradores e para o negócio de qualquer empresa”, enfatiza António Costa.
Os níveis de motivação dos trabalhadores nacionais foram também analisados neste estudo que visa reunir informação na área da gestão de recursos humanos. “Numa escala de 0 a 20, o índice de motivação dos trabalhadores nacionais está neste momento nos 12,5, um valor que tem vindo a subir semestre após semestre, embora de forma muito gradual”, explica António Costa. O partner do Kaizen Institute Western Europe destaca ainda um indicador positivo para Portugal que tem a ver com a evolução da criação de emprego: 88% dos diretores de recursos humanos inquiridos acreditam que se irá assistir a uma estabilização ou mesmo diminuição da taxa de desemprego nacional.