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Falta talento às tecnologias

Falta talento às tecnologias

Portugal tem um défice de profissionais com competências tecnológicas ?e o problema está a agravar-se a cada ano.

16.01.2017 | Por Cátia Mateus


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Portugal é, segundo dados recentes do Eurostat, o país da União Europeia que nos últimos anos mais aumentou a proporção de população empregada pelo sector das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). No final do ano passado, o organismo europeu de estatística deva conta de que o peso de perfis TIC no total do emprego nacional evoluira de 1,4% em 2011 para 2,3% em 2015. Apesar da progressão, no final desse ano, trabalhavam na área menos de 105 mil profissionais e o país continuava aquém da média europeia de especialistas a trabalhar no sector (3,5%). Desde então o cenário nacional mudou.
O país tem atraído um número crescente de empresas tecnológicas e centros competências e, consequentemente, criado mais emprego no sector. Uma evolução positiva, mas que tem agravado um problema que não é só nacional: a falta de profissionais com as competências tecnológicas necessárias para suprir as necessidades das empresas. As contas da Comissão Europeia revelam que em cinco anos o desequilíbrio entre o talento disponível e as necessidades das empresas aumentou 14%, estimando que até 2020 estejam por preencher na Europa mais de 900 mil postos de trabalho. Em Portugal estaremos a falar de 15 mil postos de trabalho. O número aumentará à medida que novas tecnológicas entrem em Portugal, se o país não conseguir acelerar a formação de especialistas na área.
2017 agravará esta tendência. António Costa, líder da área de Tecnologias da Informação da multinacional de recrutamento Michael Page, confirma o país está na mira de inúmeras multinacionais para a instalação de centros de serviços partilhados e de competências já este ano e que as dificuldades de contratação para o sector, que já são muitas, deverão intensificar-se. Tal como nos últimos anos, também neste, “o posicionamento de Portugal como pólo tecnológico é reforçado pela mobilização de equipas de desenvolvimento para Portugal, pela internalização de multinacionais em crescimento que procuram outsourcing e pela necessidade de novas competências em áreas como a virtualização, inteligência artificial, cloud e cibersegurança”, perspetiva adiantando que 2017 se destacará também como “o ano de consolidação de Portugal como destino de preferência para a criação de centros de serviços partilhados, com especial interesse para as áreas de serviços financeiros, serviços tecnológicos e de apoio ao cliente”.
Ter perfis qualificados para alimentar estas operações é já uma “dor de cabeça” para os empresários. António Costa sintetiza as bases do problema: por um lado, o país não está a formar profissionais em número suficiente para as necessidades das empresas, por outro, ainda não conseguiu travar a emigração de especialistas tecnológicos. “A qualidade do ensino nacional, a capacidade técnica dos nossos profissionais e o seu desejo de condições financeiras mais aliciantes, continuarão a conduzir a outros países europeus como Inglaterra e Irlanda, muitos dos nossos profissionais”, confirma. De onde virão então os talentos necessários para alimentar as novas operações que se perspetivam para Portugal? Para alguns especialistas em recrutamento a solução pode vir de fora (ver caixa). Para outros, é preciso intensificar internamente a reconversão de profissionais de outras áreas para carreiras no sector. E neste patamar, têm sido as próprias empresas os principais agentes da mudança.

Empresas-escola
Programadores, arquitetos de sistemas, cientistas de dados, especialistas em cibersegurança e tantos outros profissionais engrossam as listas de necessidades por preencher nas tecnológicas nacionais, com particular relevo para os perfis ligados à programação e desenvolvimento de sistemas. A braços com dificuldades de contratação empresas como a Microsoft, a SAP ou a iTGrow chamaram a si a missão de reconverter perfis de outras áreas para suprir as suas necessidades.
Desde 2014, altura em que foi criado, o programa Ativar Portugal, dinamizado pela Microsoft e vários parceiros, já assegurou a formação e certificação de mais de três mil formandos, a esmagadora maioria dos quais foram absorvidos pela tecnológica ou pelos seus parceiros. Teresa Virgínia, líder de desenvolvimento de negócio (partner business & development lead) da Microsoft Portugal, reconhece que o número permanece insuficiente para as necessidades do sector e para acelerar a reconversão lançou em dezembro, a nível mundial, o projeto Azur Skills, uma plataforma que disponibiliza cursos e certificações Microsoft, tornado gratuitas formações que antes poderiam custar entre €600 a €1200 euros, para os os profissionais que apostassem na reconversão.
A SAP associou-se à Nova IMS, a escola de gestão da informação da Universidade Nova, para criar um centro de competências capaz de requalificar 300 profissionais por ano, beneficiando não só a SAP mas a sua rede de parceiros. Pedro Simões Coelho, diretor da escola, afirma que a parceria com cerca de um ano já envolveu mais de 70 formados de áreas diversas, “alguns até encontraram emprego durante a formação”. O curso é pago e garante uma empregabilidade de 100%, após a conclusão com aprobveitamento.
Um projeto semelhante ao da iTGrow que se uniu à Universidade de Coimbra para desenvolver o “Acertar o Rumo”, em 2013. O programa tem uma duração de dois anos, contempla formação em sala e estágios em empresas como a Critical Software, Novabase, BPI Accenture e outras. A empregabilidade é de 100% e segundo Bárbara Rodrigues, porta-voz da empresa, já viabilizou a reconversão de perfis de áreas tão diversas como as análises clínicas, a docência ou o direito para carreiras tecnológicas. O programa prepara nova edição para junho e ambição da iTGrow é que ele possa chegar a Lisboa e Porto, através de parcerias com outras universidades. Até porque reconhecem as empresas, é urgente acelerar a formação de profissionais para o sector.

A solução pode vir de fora
Com a reconversão de profissionais ainda longe de conseguir suprir as necessidades do sector, as universidades a formarem menos técnicos do que o mercado necessita e muitos dos recém-formados a optarem por carreiras globais, as empresas estão a voltar-se para o mercado internacional enquanto fonte de talento. O retrato é traçado por Ricardo Nobre, líder da empresa de recrutamento Cross Border Talents (CB Talents), que nos últimos anos se têm dedicado a recrutar e reconverter profissionais de diferentes áreas para carreiras tecnológicas.
“É muito importante trazermos centros de competências para Portugal, mas temos de ter consciência de que isso não significa necessariamente uma criação de emprego para profissionais portugueses, esses continuam a querer ir para fora onde há outras perspetivas de carreira e melhores salários. Estamos a trazer para Portugal profissionais estrangeiros, altamente qualificados, que aceitam trabalhar por €1200 de salário”, alerta o responsável. O líder da CB Talents cita como exemplo uma recente operação de identificação de talento que liderou para uma multinacional tecnológica em Portugal onde a totalidade das contratações foi de estrangeiros. “Os portugueses que conseguimos integrar chegam por via da requalificação de profissionais de outras áreas. Os especialistas com formação de base na área tecnológica preferem outros mercados que oferecem condições salariais mais aliciantes”, explica.
Uma realidade que tende a agravar-se com a entrada de novas empresas em Portugal, sem que o sistema de ensino e os próprios mecanismos de reaqualificação consigam dar resposta, à velocidade e na quantidade necessárias, às exigências das empresas. A recente aposta do Governo na criação do “Startup Visa”, anunciado esta semana na Índia pelo primeiro ministro, António Costa, vai no sentido de atrair profissionais indianos, com fortes competências tecnológicas, para o mercado de trabalho nacional, seja através da criação em solo nacional de novas startups ou da integração em projetos já existentes. Recorde-se que segundo um estudo recente do MIT, 40% das tecnológicas registam dificuldades de contratação e só este ano, a nível global, faltarão às empresas mais de 1 milhão de perfis qualificados.

14%
foi quanto aumentou, em cinco anos, o desequilíbrio entre o talento tecnológico disponível no mercado europeu e as necessidades das empresas do sector. tecnológicas.

900
mil vagas ficarão por preencher nas empresas tecnológicas europeias, até 2020, se não forem adotadas medidas concretas capazes de combater a escassez de profissionais no sector.

3000
é o número de profissionais que a Microsoft já requalificou, com certificações da empresa, no âmbito do programa Ativar Portugal, criado em 2014 para atrair talento para carreiras tecnológicas.



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