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Empresários sem medo

Empresários sem medo

Que os tempos são adversos não é novidade para ninguém. Que o desemprego atingiu níveis históricos, também não. Que o clima económico está a causar o pânico global, também já não é segredo. O que parece estar esquecido, ou adormecido na mente dos portugueses, é a sua tradição conquistadora e a sua capacidade de desbravar novos caminhos em momentos adversos.
14.10.2010 | Por Cátia Mateus


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Ainda assim, há quem reavive esta memória e mostre que mesmo perante a crise é possível fazer acontecer e criar negócios com potencial. Diz o provérbio hindu que só depois de morto é que o peixe caminha ao sabor da corrente. Com facilidade este pensamento encontra uma analogia direta no mundo do empreendedorismo. A regra número um de quem quer empreender é mesmo diferenciação, seja ela na ideia e conceito de negócio, no posicionamento, na abordagem ao mercado, mas sobretudo na própria atitude de vencer o inconformismo e arriscar, mesmo quando a adversidade económica aconselha à cautela. Foi o que fizeram Tiago Silva e Raquel Brinca. Em pleno cenário de crise, os empreendedores acreditaram nas suas ideias e abraçaram o desafio de criar o seu próprio emprego, colocando no mercado empresas que contra todas as adversidades venceram e estão em rota de crescimento. Qual o segredo? Acreditar.

Tiago Henriques da Silva tem 35 anos, é engenheiro do ambiente e os seis anos que dedicou a trabalhar numa empresa de recolha e tratamento de resíduos não lhe bastaram para se sentir plenamente realizado. Mas foram suficientes para que conhecesse bem o mercado em que viria a atuar com a sua empresa. Em 2008, numa altura em que a economia mundial já dava o alerta da crise, o empreendedor avançou sem medos na criação da Purigi (www.purigi.pt). A empresa atua no segmento das limpezas urbanas e industriais e presta um enfoque curioso: a remoção das incómodas pastilhas elásticas do pavimento. “A minha experiência profissional anterior mostrou-me real necessidade de uma empresa que se especializasse na remoção de pastilhas elásticas do pavimento até porque não havia nada no mercado neste domínio”, relembra Tiago Silva.

O empreendedor realizou uma exaustiva pesquisa e após um levantamento de todas as variáveis decidiu importar para o mercado nacional a representação da GumBusters uma empresa inglesa especializada neste setor. Tiago Silva investiu 15 mil euros na criação da empresa e negociou a exclusividade para Portugal da marca GumBusters. Criou quatro postos de trabalho e integra na sua lista de clientes instituições como a Câmara Municipal de Lisboa, o Metro do Porto, o Edifício da Alfândega do porto, o Fontana Park Hotel, o Mar Shopping, a Universidade Católica Portuguesa, entre outros.

O facto de ter criado a empresa em contexto de crise trouxe dificuldades acrescidas ao lançamento deste projeto. “Tenho o claro sentimento que com o trabalho que a empresa tem desenvolvido, caso estivéssemos em época de abundância, estaríamos já uns quantos patamares acima”, explica Tiago Silva. Apesar disso, a empresa conseguiu atingir o seu break-even este ano, em pleno contexto de crise. O empreendedor não nega que “para além da falta de verbas no orçamento por parte dos potenciais clientes, sentimos dificuldades na entrada no mercado causados pelo desconhecimento dos responsáveis pela limpeza de espaços públicos que teimam em não querer resolver o problema da poluição”. Tal vez por isso, parte do sucesso alcançado pela empresa se deva também ao investimento pedagógico e de sensibilização realizado por Tiago junto dos seus clientes. A Purigi aspira agora entrar na área da saúde, “atuando na desinfeção de pontos críticos nos hospitais e clínicas portuguesas que continuam a permitir contágios perfeitamente evitáveis”, lamenta.

Quando o questionamos se teve medo de investir nesta conjuntura, Tiago responde que “prudência é uma coisa, ficar parado é outra. Até porque a história é feita de grandes exemplos, ideias e empresas que surgiram em contexto de crise”. O empreendedor confessa que pensou todo o seu projeto de modo a minimizar os riscos, apesar destes existirem sempre. “Poupar em tudo o que puder, não comprometer o nome da empresa com situações para as quais não há garantia de puder cumprir, investir onde é obrigatório para garantir o funcionamento da empresa, porque não se fazem omeletes sem partir os ovos”, foram as máximas que adotou para garantir o seu posicionamento no mercado numa altura de crise.

A fórmula mágica foi também aplicada na empresa de Raquel Brinca. A jovem engenheira de produção rendeu-se aos encantos da fotografia e em 2009, no auge da crise, trocou a estabilidade de um emprego por conta de outrem para realizar o seu sonho e criar a HUG (www.hug.pt). Foi investigadora, decoradora, chegou trabalhar no estrangeiro e a desenvolver um projeto com lobos, mas são os recém-nascidos e as famílias que a fascinam. Raquel faz produções fotográficas com grávidas, bebés e recém-nascidos (entre dois e 22 dias) e famílias, na sua ampla diversidade de momentos que é importante perpetuar. Paralelamente a esta componente promove as experiências únicas, pensadas para estreitar laços entre as mães e os seus rebentos. Na sede da HUG é possível encontrar aulas de preparação para o parto, yoguillates para grávidas, recuperação pós-parto, mummy & baby gym, dunstan baby language, babyoga e um infindável leque de atividades. Uma empresa que vive na figura da sua líder e que depende também dela para atingir o sucesso.

Algo que não assusta Raquel Brinca que diz que é “capaz de comer mato à dentada” para chegar onde quer chegar e onde acredita que merece estar. Em parte, foi o que fez até colocar a HUG no patamar em que hoje está. “A HUG foi criada e vive com base no valor humano e tudo aparece como fruto do meu trabalho e esforço pessoal, mas tem sempre dificuldades que acredito tenham sido acrescidas neste contexto”, explica Raquel acrescentando que “uma coisa é certa hoje qualquer empresa é motivo de orgulho, pois as dificuldades para a tornar rentável são enormes. Se conseguimos nascer e crescer num contexto destes, certamente teremos muito sucesso daqui para a frente”.

Raquel teve como primeira preocupação saber se iria conseguir cumprir os objetivos a que se propôs visto que a elaboração de todo o plano de negócios tinha sido realizada em estimativas e análises anteriores ao contexto atual. “Como vantagem temos o facto da compra dos nossos serviços ser uma escolha mais emocional do que racional”, explica a empreendedora. Toda a HUG existe baseada em estruturas que não dependem de terceiros ou de outros fornecedores o que para Raquel “representa uma segurança quase total na qualidade e autonomia do trabalho, bem como uma redução tremenda nos custos”. A empresária acrescenta que “o facto de não termos dívidas a fornecedores e o nosso trabalho ser pago no ato, leva-nos a conseguir ter uma boa noção de tesouraria e das entradas e saídas de capitais da empresa e desta forma é sempre possível perceber o estado da nossa saúde financeira e essencialmente avaliar em tempo real os resultados ao longo dos meses”.
Para Raquel o facto de não estar dependente de terceiros para garantir o sucesso da sua empresa revelou-se a chave do seu sucesso. “A HUG ultrapassou, neste contexto, largamente as nossas expectativas. Financeiramente falando ainda não estamos em velocidade de cruzeiro que nos dá a segurança necessária, mas estamos muito perto disso apesar de sermos uma empresa muito recente e com muito caminho a percorrer no mercado”.

Com capitais próprios, recurso ao microcrédito, capital de risco ou demais programas de apoio, o certo é que a crise está a aguçar o engenho dos portugueses que perante uma situação de desemprego ponderam cada vez mais criar pequenos negócios que lhes garantam rentabilidade e sustento. São cada vez mais o que empreendem e também os que procuram formação e conhecimento para fazê-lo minimizando os riscos do seus investimento. Se há expert capaz de ajudar qualquer empreendedor a traçar um plano realista para lançar negócios em contexto de crise, esse alguém é Brad Sugars (ver caixa). O homem que aos 12 anos vendia jornais e aos 26 era já multimilionário, lidera a Action Coach onde partilha com empresários de todo o mundo aquilo que a experiência e o seu perfil de empreendedor desde muito cedo lhe ensinaram. O futuro promissor de Brad Sugars ficou visível aos 7 anos de idade, pelo menos aos olhos do pai que o apanhou a alugar os seus presentes de Natal aos irmãos para conseguir encaixe financeiro. Uma solução de emergência, em manifesto contexto de crise da qual retirou, ensinamentos válidos.

Para Brad Sugars, “todos os empresários procuram estratégias não só para que o seu negócio sobreviva, mas sobretudo para que ele se expanda e prospere”. Uma realidade que assume importância vital em contexto de crise económica, onde em muitos casos o empreendedor investe tudo o que tem na materialização de um negócio que assegure o seu autoemprego.
 

Combater a crise à Brad Sugars

Autor de 14 livros sobre negócios, quatro deles best-sellers internacionais, o empreendedor australiano, especialista em business coach , delineou aquilo a que chama a fórmula mágica dos seis passos, a pensar em todos os que sonham prosperar o seu negócio. Se o seu sonho é empreender, mesmo em contexto de crise, agarre a fórmula de Sugars e arrisque!

1. Controle todos os elementos básicos do negócio. Dinheiro, tempo e distribuição são vitais. O primeiro fator (o dinheiro) merece a sua atenção diária e inclui as questões ligadas à orçamentação e reporting . O controlo do tempo permite a avaliação de prioridades e o controlo da distribuição exige mais consistência do que excelência na gestão.
2. Encontre um nicho de mercado. Planifique o seu negócio numa posição competitiva e diferenciadora que lhe garanta margem para praticar o “seu preço”.
3. Produza mais com menos recursos.
Dividir para multiplicar permitirá alavancar o seu negócio, seja ao nível das finanças, do marketing, do capital humano ou até da tecnologia. Aplique esta regra.
4. Aposte na sua equipa. O recrutamento é a base de sucesso para qualquer negócio. É fundamental que coloque a bordo do seu barco as pessoas certas nos lugares certos. Isto implica uma comunicação eficaz para que os colaboradores compreendam o que se espera deles.
5. Crie sinergias . A meta é que o seu resultado seja sempre maior do que a soma das partes.
6. Potencie os resultados. Analise sempre o impacto das suas ações em dois vetores: tempo e dinheiro.



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