A pastelaria portuguesa é há quase três décadas um sucesso no Canadá. O empresário português Jack Carvalho, fundou em Toronto a padaria Jack’s Bakery que tem dado a conhecer ao país receitas tradicionais portuguesas e europeias. Na altura, o empresário arriscou ao explorar um nicho de mercado que poderia não ter aceitação no estrangeiro. Hoje, a estrutura que criou tem já agregado um centro de formação profissional na área da restauração e pastelaria europeia, certificado pelo Governo canadiano. O estabelecimento do português é usado como sala de aulas práticas pelo George Brown College e tem assegurado emprego a vários portugueses que escolhem a região.
A Jack’s Bakery não é caso único quando falamos de empreendedorismo luso. Há vários anos que o chef português Nuno Mendes, “pai” do conceituado restaurante “Viajante”, que em 2011 recebeu a sua primeira estrela Michelin, faz Londres render-se aos seus encantos. Se dúvidas houver em relação ao talento deste português que conquistou pela boca terras de sua majestade, basta procurar na imprensa inglesa o que se tem escrito sobre Nuno Mendes que é considerado um dos chefes mais criativos e relevantes a nível mundial.
Desde que o entrevistou em 2011, o Expresso Emprego não tem perdido o rasto deste português que se prepara agora para novos desafios. Segundo o site Caterer and Hotel Keeper, Nuno Mendes deixa o Viajante para abraçar um novo projeto no Hotel Chilten Firehouse, a abrir nesta primavera, em Marylbone (Londres). Mas este não será provavelmente o único projeto do chef luso que se prepara para abrir um novo “Viajante”, noutra localização. Antes de criar escolher Londres para criar o seu projeto pessoal, Nuno viveu em cinco cidades diferentes em países como Espanha, Ásia ou Estados Unidos. De todos bebeu influências até criar um conceito muito próprio onde focado numa cozinha que tempera influências do mundo com um sabor português.
De olhos na internacionalização
Além da pastelaria e da gastronomia, as cores nacionais têm conquistado o mundo com outros sectores e uma grande diversidade de marcas. Um estudo recente do Reputation Institute, representado em Portugal pela OnStrategy, revela que um número crescente de empresas nacionais estão a conquistar reputação internacional. No grupo das 23 mais reputadas é possível encontrar tecnológicas, empresas do sector do calçado, dos vinhos, do sector têxtil ou até dos cafés. Marcas como a Delta, a Logoplaste, a EDP, a Brisa, a Fepsa (que produz chapéus para mais de 23 países, entre os quais o Japão), a Altitude Software, a Aerosoles, a Parfois, Corticeira Amorim, Pablo Fuster ou a Salsa, fazem parte deste ranking que inclui outras estrelas nacionais.
Mário Genésio, responsável pela área de Internacionalização da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), confirma que “os empreendedores portugueses estão mais sensibilizados para a necessidade, não só de exportarem os seus bens ou serviços, mas também de internacionalizarem os seus negócios, designadamente através de parcerias locais e da abertura de sucursais no exterior”. Um processo que, enfatiza, tem os seus riscos e exige preparação (ver caixa). “É certo que a maioria das PME nacionais ainda não dispõe de competências para a exportação e internacionalização, mas nota-se um esforço no sentido de as adquirirem”, explica o especialista acrescentando estar convicto de que “esta predisposição para internacionalizar terá impacto no crescimento do investimento, condição essencial para que a vocação exportadora da nossa economia se consolide e se expanda ainda mais até representar, desejavelmente, 50% do PIB”.
Mário Genésio não nega que a crise nacional terá levado algumas empresas a internacionalizarem e os dados da Associação Industrial de Portugal comprovam-no: há mais de 40 mil empresas nacionais a exportarem parte da sua produção, abrangendo um total de 202 mercados distintos. O mais recente investimento da Portugal Ventures, com a abertura de um centro para o empreendedorismo português de base tecnológica, em Boston (Estados Unidos) é o espelho desta estratégia. Em comunicado, o organismo de capital de risco esclarece que o objetivo do portugal Ventures Accelerator in Boston é “promover a incubação e aceleração de empresas, num dos pólos mais inovadores do mundo, com particular enfoque na área de Life Sciences”. O centro está a ser lançado em parceria com a LB Ventures, uma entidade local de criação e acelereação de negócios, e dispõe de competências nas áreas do marketing, abordagem ao mercado local, análise e mitigação de riscos e financiamento.
Para o responsável de internacionalização da ANJE, “em todas as fileiras se olha, de um modo geral, para o mercado externo como uma via expedita para fazer crescer os negócios”. Mário Genésio destaca a maior predisposição de internacionalização dos sectores com grande intensidade de inovação, tecnologia e criatividade - “desde logo porque os seus empreendedores são geralmente mais qualificados, cosmopolitas e audazes” -, mas confirma a tendência crescente de globalização de sectores que até aqui olhavam menos para fora. De um modo geral, explica, “a predisposição (quando não a necessidade) para internacionalizar atividades e investimentos é hoje transversal a praticamente todos os sectores. As fileiras agroalimentar, a indústria têxtil, do vestuário, do calçado e das tecnologias de informação e eletrónica revelam hoje uma dinãmica exportadora nunca antes vislumbrada, fruto sobretudo da maior qualidade, valor acrescentado e capacidade diferenciadora dos seus produtos e serviços”.
Apesar de toda a instabilidade que afetou a Europa nos últimos anos, o velho continente continua a ser o mercado que oferece maior número de oportunidades às empresas portuguesas, na opinião de Mário Genésio. Contudo, convém não esquecer o potencial de outros mercados como os países lusófonos.
Minimizar o risco de fracasso
São cada vez mais as empresas e os empreendedores nacionais a triunfar em cenários globais. Um patamar de sucesso e notoriedade alcançado sobretudo à conta de muita determinação e preparação. A generalidade dos líderes empresariais reconhece que abordar novos e competitivos mercados é uma decisão que não se compadece com experimentalismos.
Para Mário Genésio, responsável pela Área de Internacionalização da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), os principais riscos associados à aposta noutros mercados “são basicamente de natureza comercial, jurídica, política e catastrófica”. Minimizar estes fatores, exige na opinião do especialista uma estratégia cuidada e rigorosa. “As empresas nacionais devem inteirar-se da situação económica e política do país de destino das suas exportações. Depois é importante saber, através de pesquisas de mercado, se os bens ou serviços de empresas portuguesas têm procura nos países onde se deseja exportar e se são competitivos face a outros concorrentes”.
Na lista de outros cuidados a acutelar, Mário Genésio elenca a avaliação das condições legais de acesso ao mercado, o conhecimento profundo das condições de distribuição dos bens ou prestação de serviços ou os investimentos nas matérias-primas que a exportação implicará.