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“Promover a formação profissional é uma das vias para aumentar o nível de qualificações”

“Promover a formação profissional é uma das vias para aumentar o nível de qualificações”

A poucos dias de Portugal receber o Campeonato Europeu das Profissões – Euroskills 2010 - Francisco Madelino, presidente do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), falou ao ExpressoEmprego sobre o esforço nacional rumo à afirmação da formação profissional enquanto ponte para a empregabilidade e explicou porque é que este evento vai levar à Feira Internacional de Lisboa, de 9 a 12 de dezembro, 50 mil visitantes.
02.12.2010 | Por Cátia Mateus


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Portugal atravessa um momento decisivo em matéria de combate ao desemprego. Qual é a importância de acolher, nesta conjuntura, um evento como o Euroskills?
Num momento como o que atualmente vivemos, muito marcado pela incerteza, a aposta na qualificação das pessoas constitui uma estratégia fundamental para se enfrentarem os desafios do desemprego ou para a manutenção do emprego. Sabemos que são precisamente as pessoas menos qualificadas as que, em regra, são as primeiras a serem dispensadas e também as que têm mais dificuldade em reingressar ao mercado. Ora, a realização deste campeonato cuja preparação está em curso há já 2 anos, promoverá um ambiente favorável à qualificação, contribuindo para a melhoria da imagem social das profissões, dando aos jovens pistas para a definição de novos percursos profissionais e projetos de vida que façam da qualificação para o emprego uma oportunidade.

Tendo a formação profissional como ponto-chave…
Este vai ser, de facto, um momento de afirmação da formação profissional e do seu contributo para o reforço da qualificação dos jovens. Um aspeto central de qualquer estratégia de desenvolvimento que se pretende que seja sustentado e de combate ao desemprego, num momento em que o sair da crise significará também o recrutamento de pessoal mais e mais qualificado, que seja capaz de responder aos desafios impostos por níveis de competitividade altamente exigentes duma economia global. Iniciativas desta natureza, obviamente que não resolvem os problemas da educação e da formação profissional mas colocam em evidência a importância da qualificação, sensibilizam para a temática e para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem, ajudando, consequentemente, na promoção de combate ao desemprego, através da criação de um ambiente favorável à aquisição de competências diretamente relevantes para o mercado de trabalho.

Quais as suas expectativas para o Euroskills 2010?
Os objetivos definidos para este campeonato em matéria de dimensão e relevância a nível nacional e europeu foram já alcançados. O que espero é que o Euroskills possa também constituir-se como um momento importante para a afirmação da importância do estatuto da educação e da formação profissional para a transformação da atitude dos jovens em relação ao trabalho e para a definição de projetos de vida que estimulem a s gerações mais jovens para a importância de se qualificarem e assim dar o seu contributo para a sustentação de um modelo económico mais competitivo. Por outro lado, se neste campeonato conseguirmos contribuir para desmistificar a ideia de que o ensino profissional é um ensino de segunda escolha, demonstrando que esta é uma via privilegiada para a obtenção de uma qualificação e uma importante alternativa para a inserção no mercado laboral, considero que o investimento realizado atingiu o seu objetivo.

Essa é uma batalha que o país tem vindo a travar: potenciar o ensino profissional entre as escolhas dos jovens. Acredita que esta é já uma batalha ganha?
A Estratégia Europa 2020 estabeleceu três grandes objetivos a atingir: uma economia europeia inteligente, sustentável e coesa. Um dos fatores chave do crescimento económico é o potencial humano e a qualificação dos recursos humanos. Promover a formação profissional é uma das vias para aumentar o nível de qualificações e de competências, potenciando a inserção dos jovens no mercado de trabalho e criando condições para que as empresas e a economia nacional se tornem mais produtivas e competitivas. Este esforço é nacional mas tem, também, uma importante alavancagem a nível da União Europeia. A estratégia de Lisboa, que faz agora dez anos, veio aprofundar a cooperação europeia ao nível da educação e da formação profissional, estabelecendo metas para os estados membros. Feita a avaliação do programa Educação e Formação 2010, sabemos hoje que a concretização desses objetivos e metas não foi uniformemente conseguida em cada um dos países. No nosso caso houve, de facto um forte investimento na qualificação dos jovens e adultos mas estamos ainda longe de ter alcançado os níveis de qualificação necessários à sustentação de um modelo de desenvolvimento mais competitivo. Por isso a Estratégia 2020, apresentada pela Comissão Europeia, vem mostrar a necessidade de se continuar e reforçar a cooperação europeia no âmbito da educação e formação profissional, inicial e contínua. Para reforçar a capacidade de atratividade da educação e da formação profissional, a Comissão europeia lançou duas iniciativas emblemáticas a “Agenda para as Novas Qualificações e Novos Empregos” e “Juventude em Movimento” que visam dotar os cidadãos europeus de novas e atualizadas competências que lhes permitam responder à atual crise e capacitar a Europa para competir com as economias emergentes do Brasil, Índia e China.

Ainda assim, o Euroskills está a conseguir captar a atenção de inúmeros jovens e escolas, talvez fruto do investimento nacional nesta batalha…
O EuroSkills Lisboa 2010 pode considerar-se um momento privilegiado da estratégia que tem estado a ser seguida em Portugal, ao longo dos últimos anos, de valorização da qualificação da nossa população, sobretudo da população ativa, que teve expressão legal na nova arquitetura do Sistema Nacional de Qualificação (SNQ), decorrente da Reforma da Formação Profissional de 2007, concretizada através da Iniciativa Novas Oportunidades. Esta iniciativa trouxe para o centro da agenda política a necessidade de se fazer um forte investimento no combate ao abandono escolar precoce e à necessidade de se diversificar a oferta formativa que deverá ser, tendencialmente, de nível secundário, ao mesmo tempo fez uma forte aposta na recuperação dos défices de qualificação da população adulta, hoje estão envolvidos em percursos de formação ou em validação e certificação de competências (escolares e profissionais) mais de um milhão de adultos.

De que forma é que isto se traduz em matéria de empregabilidade?
As taxas de integração no mercado de trabalho são, em regra, mais elevadas para quem tem uma qualificação, variando de acordo com a saída profissional ou a região. São as profissões que fazem apelo ao uso de máquinas e ferramentas as que têm maiores níveis de integração.

Mas é possível estimar o tempo médio que um jovem que invista no ensino profissional demora a entrar no mercado laboral?
Sabemos que existem diferenças significativas no acesso ao mercado de trabalho entre pessoas com maior ou menor qualificação. As pessoas com qualificações de nível superior permanecem metade do tempo desempregadas, em média, cerca de 8 a 9 meses, enquanto que alguém sem qualificação pode estar o dobro do tempo. Também sabemos que o que o mercado de emprego hoje exige, são níveis de competência e excelência cada vez mais elevados e que há sempre lugar para quem for realmente “bom”. Ora, neste campeonato vamos encontrar padrões de rigor, excelência e competência. Até porque, este tipo de eventos, pela sua própria natureza, potencia esses padrões. Lembro-me, por exemplo, que jovens participantes no EuroSkills de 2008, saíram desse Campeonato com convites para integrarem de imediato, o mercado de trabalho ou para a frequência de estágios profissionais, quer a nível nacional, quer internacional.

Quantos jovens vão estar em Lisboa para participar no Euroskills 2010?
Neste evento vamos ter 468 jovens oriundos de 27 países europeus, a competirem entre si em 51 profissões. Estas profissões vão estar organizadas em seis cluters (Artes Criativas e Moda; Produção, Engenharia e Tecnologia; Transportes e Logística; Tecnologias de Informação e Comunicação; Construção Civil e Obras Públicas; Serviços Sociais e Pessoais). Portugal estará representado por 61 jovens. Teremos ainda mais 14 outras profissões (que envolvem 40 jovens) que não estando integradas na competição, vão estar em demonstração.

Quantos visitantes são esperados para este evento?
No final da semana passada estavam já inscritas cerca de 49.000 pessoas o que indicia uma adesão fantástica. A nossa expectativa inicial era a de que iríamos ter cerca de 50.000 visitantes. Este número irá ser, claramente, superado. Realço a importante colaboração das Delegações Regionais de Educação e do IEFP na mobilização das escolas de diferentes níveis de ensino e dos Centros de Formação e de outras entidades formadoras, bem como da AIP no contributo que deu para a sua divulgação junto dos seus associados.

Qual é a grande missão deste evento?
Pretendemos que o campeonato tenha todas as condições para ser um espaço de demonstração das competências dos jovens profissionais de cada país, mas, também, um espaço onde os jovens visitantes possam ver ao vivo como se trabalha em cada profissão, possam experimental uma profissão, possam conversar com profissionais, tenham acesso, através do espaço organizado pelo Programa Ciência Viva, ao diálogo com cientistas e à experimentação científica, clarificando a relação do desenvolvimento científico com a evolução das tecnologias. Este campeonato pode ser um contributo essencial para a orientação vocacional dos jovens visitantes. Será também um espaço de encontro dos formadores, dos professores, dos especialistas, dos decisores e de outros profissionais da formação que vão ter disponível, em complemento ao campeonato, um programa variado de conferências, seminários e workshops , sobre diferentes temáticas e com a intervenção de diversos especialistas nacionais e europeus.



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