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"A criação de emprego, infelizmente, não se decreta"

Nos primeiro cinco meses do ano, a Fundação da Juventude já bateu os todos seus records em matéria de número de vagas disponibilizadas através das bolsas de estágio que promove. Até ao final do ano, a previsão é de que esta instituição privada, de interesse público, focada na formação, empreendedorismo e apoio ao emprego jovem, possa potenciar a realização de 1220 estágios em Portugal. O presidente executivo da Fundação da Juventude, Ricardo Carvalho, faz ao Expresso um balanço destes número e fala dos grandes desafios de combate ao desemprego jovem em Portugal.

13.05.2016 | Por Cátia Mateus


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No mês passado, a Fundação da Juventude já tinha superado o seu record de vagas de estágio, disponibilizadas através dos vários programas que promove. Como justifica estes números logo nos primeiros meses do ano?
Por um lado existe já um longo historial associado ao Programa de Estágios para Jovens Estudantes do Ensino Superior nas Empresas (PEJENE) enquanto programa de estágios cuja primeira edição teve lugar em 1992. O feedback tem sido de tal forma positivo que muitas das empresas aguardam a abertura das candidaturas para lançar vagas e, muitas vezes, procederem ao recrutamento de estagiários e potenciais colaboradores. Por outro, acreditamos que muitas das vagas estão relacionadas com o “amadurecimento” do tecido empresarial e com a necessidade de fazer face a um mercado cada vez mais competitivo no qual os jovens de elevada qualificação têm uma palavra a dizer e um contributo a dar. Muitos dos estágios estão relacionadas com áreas que começam agora a ser encaradas como prioritárias, como seja a comunicação, marketing, design ou tecnologias.

Em termos concretos, que balanço faz das várias iniciativas de promoção da empregabilidade que têm vindo a ser impulsionadas pela Fundação da Juventude?
O balanço não poderia ser mais positivo. Na área da empregabilidade foram desenvolvidas estratégias de oferta de programas diferenciados capazes de responder a várias realidades: o PEJENE destina-se a estudantes do ensino superior que se encontrem a frequentar o último ou penúltimo ano. Já o Santander Jovem – Programa de Estágios nas PME’s, lançado pela primeira vez este ano, destina-se a jovens licenciados e mestres há menos de dois anos e com idades até 28 anos. Ambos os programas têm tido uma ótima recetividade, com o PEJENE a revelar uma forte adesão por parte das empresas que aumentaram 84%, face a 2015 e geraram um aumento de 25%, no número de estágios disponíveis. Na área do apoio e da promoção ao empreendedorismo jovem pretendemos também, através do nosso NIDE – Ninho de Empresas, no início do segundo semestre deste ano, abrir dois novos espaços de incubação e de coworking, no Porto e em Lisboa, continuado desta forma a criar condições aos jovens para o surgimento de novas empresas tendo por base uma forte aposta no empreendedorismo de base local.

Há números que traduzam esta evolução e o impacto destas iniciativas?
Desde o início deste ano a Fundação da Juventude recebeu inscrições de 391 empresas, mais 84% do que as inscrições totais registadas em 2015. Estas empresas abriram até ao momento 1043 vagas de estágios, em várias áreas. O crescimento do número de empresas refletiu-se também num aumento de 25% no número de estágios disponíveis, face a 2015. Porto, Lisboa e Aveiro são as cidades que congreram maior oferta disponível, com 19%, 22% e 11%, respetivamente. Das cerca de 100 áreas de formação disponíveis para desenvolvimento de estágios, a maior oferta centra-se nas áreas de Economia, finanças e gestão de empresas (21%- 212 vagas), Comunicação Publicidade e Marketing (15%-150 vagas) e Informática e tecnologias (11%-111 vagas). A nossa previsão é de que Fundação da Juventude possa finalizar o ano com a realização de 1220 estágios.

Como justifica esta maior adesão das empresas aos programas da Fundação e, consecutivamente, criação de maior número de oportunidades? Podemos falar de uma retoma sustentada da criação de emprego em Portugal?
Ao analisarmos a oferta disponibilizada percebe-se que as áreas de formação com maior procura são as que se encontram ligadas à gestão, marketing e tecnologias, o que nos leva a acreditar que possa existir uma maior consciência da importância dessas mesmas áreas, num contexto marcado por uma nova realidade empresarial que se revela cada vez mais competitiva e voltada para o mercado exterior, com uma aposta forte na internacionalização. Infelizmente, e atendendo à atual conjuntura económica, caraterizada por alguma incerteza, nem sempre é fácil para as empresas investir em recursos humanos com experiência comprovada, pelo que uma das soluções encontradas é recrutar jovens que possam ajudar a empresa a crescer e a promover a criação do seu próprio posto de trabalho, o que acaba por traduzir-se numa oportunidade importante para estes mesmos jovens. Neste caso, poder-se-á falar de criação sustentada de emprego, ainda que não nos níveis desejáveis, até pelo nível elevado de desemprego registado, em especial o desemprego jovem.

Quais as áreas que registam maior dinâmica na criação de oportunidades?
As áreas que registam maior dinâmica na criação de oportunidades são as ligadas às áreas de Economia, Finanças e Gestão de Empresas, Comunicação, Publicidade e Marketing e Informática e Tecnologias de Informação. Entendemos que são aquelas em que as empresas tendem a investir para se tornarem mais competitivas e para se afirmarem no mercado.

Que desafios enfrentam, na sua opinião. os jovens portugueses em matéria de empregabilidade neste momento?
Além dos constrangimentos económicos que se refletem na falta de investimento por parte das empresas, existe uma fraca cultura empresarial no que toca à valorização do potencial humano e da capacidade de inovação. Muitas vezes estamos perante empresas muito fechadas, de base familiar e pequena dimensão, que não têm sensibilidade para reconhecer e aproveitar o potencial do conhecimento que os jovens possuem e podem aplicar em prol do desenvolvimento empresarial. ??

Enquanto presidente da Fundação da Juventude, em que eixos considera essencial intervir para potenciar a criação de emprego a nível nacional e oferecer oportunidades de carreira aos jovens formados nas universidades portuguesas?
A criação de emprego infelizmente não se decreta e não pode depender do Estado, por via da promoção de emprego público, como no passado recente, mas sim da iniciativa privada, por via do investimento privado, nacional e, em especial, estrangeiro, o que faz com que o Estado tenha um papel preponderante na criação de condições à sua promoção e atração. Assim sendo, considero de elevada importância a intervenção na Educação e na promoção do Empreendedorismo como eixos prioritários. Na Educação através de uma reforma, sucessivamente adiada, do Ensino Superior, assente por uma lado na reorganização da rede de estabelecimentos universitários e politécnicos e por outro lado na reformulação da respetiva oferta educativa, sem esquecer as especificidades regionais e a ligação ao tecido empresarial tendo por base a oferta e procura do mercado de trabalho. Na promoção do Empreendedorismo tendo por base uma política nacional única de apoio ao jovem empreendedor (como está a ser feito, e bem, com o novo programa Start Up Portugal) na facilitação e incentivo à criação do seu próprio negócio e/ou emprego sem esquecer a aposta no desenvolvimento de competências e de uma cultura empreendedora, uma vez que o empreendedorismo não deverá ser visto como solução única no combate ao desemprego jovem, mas sim complementar, uma vez que todo o jovem deve ser empreendedor mas nem todo o jovem deve ser empresário.



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