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01.01.2000



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Pequenos génios

Manuela da Silva é uma lutadora nata. Durante toda a vida defendeu uma causa e foram vários os centros que fundou, tudo em nome de uma minoria com uma importância crucial: os sobredotados. Um diploma com um "Muito Bom" pouco lhe diz. Isto porque os seus centros servem para os apoiar e não para os avaliar.

Qual é a sua formação académica e profissional?
Tenho formação em Germânicas e tirei uma especialização na área da sobredotação há 16 anos, na Universidade da Florida nos Estados Unidos. Comecei essa temática em 1986, fiz essa formação em 1988 e 89 e estive sempre a dar aulas.
O centro não tem apoios até porque nem há legislação em Portugal sobre sobredotados, eles são não existentes. Fala-se de crianças com capacidades acima da média mas não se fala em sobredotados, eles só constam da legislação de Macau e da Madeira, é como se no resto do país não existissem sobredotados.

Como foi a fundação do centro?
Fundei o centro CPICIL - Centro para a Criatividade Inovação e Liderança - em 1989, com um conjunto de pessoas. Não tive grandes apoios económicos mas os pais foram chegando o que foi um apoio e um incentivo para continuar. Eu pertencia a outra associação que em 88 fechou e criámos esta aqui em Lisboa para trabalharmos directamente com as crianças.
Tivemos a preocupação de funcionar com programas de apoio adaptados a elas e de apoiar os pais que foram os primeiros a sentirem-se motivados e a incentivarem a associação. Para além do Centro de Lisboa, fundei um na Mealhada que serve o norte e o centro do país e depois a Anéis em Braga.

Como se determina se uma criança é sobredotada?
Para se detectar se uma criança é sobredotada temos que reparar o que é que ela faz mais depressa, melhor e de maneira diferente das crianças da sua idade.
A sobredotação é um conceito relativamente recente, vem da segunda metade do século XX, porque na primeira metade falava-se em génios. Por volta da década de 50, com o aparecimento de várias teorias, deixou-se de falar em génios, porque génio é aquele que aparece e altera o rumo do conhecimento e são muito raros.
Existem muitas capacidades, tais como inteligência criativa e produtiva, artes visuais, psicomotricidade e também liderança. Cada vez que aparece uma situação complicada na humanidade, há pessoas que têm a capacidade de se aperceberem desse problema tentando resolvê-lo. Assim vão despoletar o aparecimento de uma nova área do conhecimento. Por exemplo, hoje em dia está a estudar-se a inteligência ambientalista e um dos indivíduos que deu origem ao estudo foi o Comandante Cousteau.

Em termos práticos quais são os sinais que indiciam que uma criança é sobredotada?
Se a criança é sobredotada na área cognitiva, é uma criança que tem um bom vocabulário, tem uma expressão verbal muito fluente, aprende a ler com facilidade, ou tem um raciocínio lógico muito elevado. Pode ser muito bom por exemplo no desenho, ter um bom traço. Se for, por exemplo, uma criança sobredotada na liderança é muito perspicaz, tem uma excelente memória e uma personalidade muito forte. Normalmente são designados por chantagistas, manipuladores, e são indivíduos que têm realmente capacidades extraordinárias. O problema é que por vezes seguem uma linha negativa, podem vir a ser políticos ou empresários, mas muitas vezes acabam na marginalidade, porque a liderança não é muito considerada, é combatida mesmo pelos pais, porque apesar da criança ter uma personalidade muito forte, acham que ela tem de obedecer, e muitas vezes só encontra na marginalidade a valorização da sua liderança. Se for uma criança com a chamada inteligência emocional, gosta de dialogar, consegue encontrar consenso, tem grande facilidade em estar com os outros, sente empatia, conhece-se bem, está bem consigo próprio e não tem problemas existenciais, além de ser uma criança extremamente sensitiva. São pessoas que espalham a paz à sua volta, porque a têm em si. Se for, por exemplo, dotado na área da psicomotricidade seguirá o exemplo de uma Rosa Mota ou de um Carlos Lopes, porque têm uma capacidade física acima da média.
Há duas novas áreas que são a ambientalista e a existencialista. Nesta última as pessoas são espiritualmente muito fortes, sentem tudo de uma forma muito profunda e muito aguda, são pessoas sensitivas.

Tem alguma história particularmente marcante?
Houve um miúdo que os pais trouxeram ao centro quando tinha três anos.
O miúdo era de facto espectacular, quando abria a boca dizia coisas absolutamente espantosas para a idade dele, como por exemplo os advérbios em mente, aplicados correctamente, estilo adequadamente, intempestivamente, mas só falava se lhe perguntassem, apesar disso quase todas as outras áreas estavam baixas.
Com três anos, aprendeu sozinho a ler e passava a vida a ler , mas não saia da cadeira, não brincava com o irmão e também não tinha criatividade nem capacidade de se relacionar com os outros.
Em três anos fez o primeiro ciclo e aos 8 anos já estava a entrar no segundo, nesses anos o que se trabalhou mais foram as áreas em que ele estava mais necessitado, psicomotricidade e relacionamento.

Que programas costuma fazer com as crianças?
Fazemos um programa mensalmente e nesses programas gosto muito de canalizá-los para o futuro. Como vai ser o futuro? O que é que não existe que eles acham que faz falta? E saem ideias absolutamente espantosas. Fazemos também passeios, intercâmbio, trabalhos temáticos, estimulação da criatividade e comunicação. Além disso, porque somos o Centro para a Criatividade Inovação e Liderança, investimos muito nestes três factores. Fazemos actividades fora de portas, de observação de orientação e acima de tudo ensinamo-los a terem confiança nas suas ideias, há um espaço onde as ideias deles, por mais incríveis que sejam, são aceites.

O QI é importante para determinar a sobredotação de alguém?
O QI só nos dá a indicação de que a criança está apta a funcionar em termos de escola, de memória, de capacidade de atenção.
Depois é inversamente proporcional à idade, ou seja, ele é tanto mais alto quanto mais novo se é; à medida que se cresce vai baixando. Há problemas quando o pensamento criativo suplanta o cognitivo.

Quais os seus projectos para o futuro?
Agora convidaram-me para criar um espaço de atendimento a estas crianças nos arredores de Lisboa, para trabalho directo com as crianças e especialização das mesmas, investir nas áreas fortes de uma forma mais aprofundada e mais prática e específica, dar-lhes mais conhecimentos nessas temáticas e fazê-los avançar. São objectivos diferentes do CPICIL. Foi um desgaste muito grande porque estivemos cerca de treze anos a lutar sozinhos. Uma das nossas vitórias foi termos conseguido que, neste momento, as crianças possam entrar mais cedo na escola, com 5 anos, o que possibilita que os miúdos cheguem ao 10º ano com 14 anos.

CPCIL - Contactos
Zona Norte e Centro: 231 205773
Zona Sul e Grande Lisboa: 21 7169481

E-mail: cpcil@yahoo.com
Site: http://www.terravista.pt/nazare/4908/cpcil6.html


AF






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