Dr.José Luís Ferreira
Dr.José Luís Ferreira é um dos responsáveis
pela criação da ACTUAL - Academia Tecnológica da
Universidade Autónoma de Lisboa.
Pretende que seja um projecto inovador e que traga uma lufada de ar fresco
ao panorama da formação em Portugal já que acha que
"se deita muito dinheiro fora em coisas que não têm
interesse nenhum".
Como é que se desenvolveu o seu percurso
académico?
Comecei em Coimbra, onde tirei o curso de engenharia electrotécnica,
já há 16 anos. Na altura já estava com os olhos postos
na informática e o final do meu curso já foi para aí
orientado. Quando acabei ainda não havia Departamento de Engenharia
Informática em Coimbra. Foi criado depois o Laboratório
de Informática de Sistemas e só mais tarde foi criado o
Departamento de Engenharia Informática onde, desde o príncipio,
eu estive envolvido.
Fiz toda a minha carreira académica em Coimbra, primeiro no Departamento
de Engenharia Electrotécnica e depois no Departamento de Engenharia
Informática.
Ao mesmo tempo comecei a ter outras actividades
paralelas em projectos fora da Universidade e acabei por ir parar em Lisboa,
na Universidade Autónoma, onde comecei por ter apenas uma pequena
colaboração esporádica.
Depois de ter concluido o meu mestrado e o meu doutoramento acabei por
encontrar aqui esta alternativa como director do Departamento de Ciências
e Tecnologias da Universidade Autónoma, onde tenho desenvolvido
os meus últimos anos e onde têm aparecido todos estes projectos.
Seja a reformulação das licenciaturas, seja o lançamento
das pós-graduações, seja aqui na Academia.
Como
é que surge a Academia Tecnológica?
Quando eu e o meu colaborador mais próximo, que é o Miguel Gonçalves,
entramos aqui há três anos para tomar conta do departamento, foi
preciso fazer a reformulação das licenciaturas, enriquecer o corpo docente,
investir em parcerias com empresas e organizações, enfim, abrir a Universidade
para fora.
No meio desta abertura apareceram-nos relações com parceiros,
entre os quais a Oracle, que acabaram por se tornar fundamentais no processo
de criação da Academia. O Miguel Gonçalves além
de ser meu parceiro e Director-adjunto do Departamento, foi eleito para
a presidência da Associação Portuguesa de Oracle.
No meio deste seu papel ligado à Oracle acabou por se aperceber
que uma coisa muito discutida internamente era a necessidade de formação
de quadros médios. Não necessariamente licenciados, mas
com especialização em tecnologias de Oracle.
Não existia nenhuma entidade, a não ser a Oracle, a dar
essa formação e havia muita apetência no mercado por
pessoas com este perfil, com capacidades técnicas mas sem licenciatura
e sem as grandes ambições que o licenciado tem. Tinham de
ser pessoas que gostam de mexer na técnica. A APO, na altura, propôs-me
fazer uma formação e o projecto começou dentro da
APO. Simplesmente, rapidamente começaram a perceber que internamente
não se conseguiam juntar parceiros suficientes para se gerir uma
solução deste género. Começou-se a questionar
a necessidade efectiva de ter um parceiro exterior: uma universidade,
uma escola.
A Universidade Autónoma surge como a parceira ideal. Surge então o que
temos hoje: um modelo de formação que assenta justamemente em parcerias.
O que nós estamos a fazer é formar pessoas com o 11º ou o 12º anos e que
não entram na Universidade. E as expectativas em relação aos candidatos
excederam aquelas que para nós eram as melhores prespectivas.
Como
é que têm sido os resultados?
A nível da inserção no mercado de trabalho ainda não podemos avaliar porque
começámos em Janeiro e só no final deste ano é que sairão os primeiros
formados. Só em Janeiro do ano que vem é que eles vão ser colocados nas
empresas. As nossas percepções dos resultados são muito boas. Toda a formação
aqui é gratuita e no final tem a certificação técnica das empresas parceiras,
que neste momento são a Oracle e a Compact. E é todo este desenho que
se montou para cumprir com uma formação técnica mas não só. Também têm
inglês, técnicas de comunicação, português. Eles têm um ano de formação
aqui mais um ano e meio na empresa. Ao fim de dois anos e meio terão com
certeza uma experiência de formação em ambiente efectivo de desenvolvimento
de um projecto de trabalho.
Como
é que se desenvolve o seu trabalho dentro da Actual?
O meu trabalho está repartido entre a direcção do
Departamento de Ciências e Tecnologias, onde tenho a responsabilidade
de três cursos, entre as pós-graduações do
departamento e a direcção deste projecto. Também
dou aulas aqui porque acho que é importante conhecer os alunos
e que eles me conheçam.
O que é que mais aprecia naquilo que faz?
Acho que o que mais aprecio é quando algum aluno nos diz que as
mudanças que se deram na vida dele nos cabe a nós e, felizmente,
já houve alguns que me disseram que foi por minha culpa que escolheram
determinada opção. É esse impacto positivo na vida
das pessoas e o conseguir apaixoná-las por uma determinada área
que eu acho fantástico e faz valer a pena. Por outro lado, também
aprecio o facto de lidar constantemente com malta nova. Faz-nos esquecer
aquilo para que nos vamos aproximando cada vez mais. Rejuvenesce-nos.
E depois também é importante o facto de ir tendo sempre
novos desafios.
Quais
considera terem sido os pontos altos da sua carreira?
Obviamente há uma fase fundamental para quem segue uma carreira
académica, que é o concluir o doutoramemto. Devo confessar
que quando acabei o doutoramento ele já não era um desafio,
já era qualquer coisa que tinha que ser. Foi um momento importante
em termos de carreira, mas foi muito mais interessante, por exemplo, ter
começado o trabalho que levou a esta carreira. Um momento muito
bom para mim, também, foi ter feito a reestruturação
destes cursos. A constituição da Actual também foi
extremamente importante. Foi uma pedrada no charco naquilo que é
o ambiente da formação em Portugal.
Acha
que em Portugal e na área das novas tecnologias, se aposta na formação
errada?
Eu acho que se deita muito dinheiro fora em coisas que não têm
interesse nenhum. Ainda continua a haver muita falta de critério
em termos dos resultados dos cursos.
Qual
é a sua maior ambição profissional?
Eu quase que diria libertar-me do trabalho. Gostava de abrandar o meu
ritmo de trabalho. Gostava de sentir que o esforço que empreendi
colocasse a Universidade Autónoma ao nível de qualquer instituição
pública. Ter projectos próprios que não passem pela
universidade nem pela formação também é qualquer
coisa que pode começar a surgir.
SW