Carreiras

Adelaide Franco



01.01.2000



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Adelaide Franco

As opções certas num só caminho

Foi o coração que lhe sussurrou ao ouvido para seguir psicologia clínica mas, ao fim de algum tempo, a barriga dizia-lhe que não ia conseguir sobreviver.
O sucesso bateu-lhe à porta, mas Adelaide Franco, administradora do projecto de e-Learning na Academia Global, não lhe deu importância, porque para si, ter visibilidade ou dinheiro é irrelevante. Diz que o que realmente interessa é sentir-se bem no que faz e se as coisas deixam de fazer sentido, o melhor mesmo é encontrar outro caminho.
O seu percurso é a prova de que tem feito as opções certas...muitas, num só caminho...

Fale-me do seu percurso profissional...
Comecei a trabalhar aos 18 anos e a entrar desde logo no mundo das empresas.
Durante cerca de 9 anos, entre 81 e 90, estive na Cimpor, depois trabalhei na Brisa durante 4 anos nos recursos humanos onde fui técnica de pessoal e directora das áreas de formação.
Mais tarde fiz um mestrado em Política e Gestão de Recursos Humanos e passado uns anos, em 93, fui para a Tracy International, uma empresa de consultoria, onde estive cerca de dois anos.
Entre 95 e 99 fui convidada a colaborar com o governo. Passei pela Secretaria de Estado da Juventude onde fui adjunta do Secretário de Estado e depois estive no Instituto Português da Juventude, onde fui vice-presidente.
Fui chefe de gabinete do Secretário de Estado da Administração Interna, uma experiência riquíssima com um trabalho muito duro, de grande tensão mas feito com muita dedicação e criatividade.
Ao fim de 4 anos entendi que devia regressar à minha actividade profissional porque não queria fazer carreira na área política.

A Cimpor foi o seu primeiro contacto com o mundo do trabalho, foi positivo?
Sim, passei por um desafio profissional muito grande. Peguei em projectos que mais ninguém queria pegar por serem muito arriscados. Em 85 fez-se pela primeira vez na Cimpor uma avaliação de desempenho dos dois mil trabalhadores da empresa, que iria ter repercussões salariais. Isto é, quem obtivesse bons resultados nessa avaliação passaria a receber mais salário. Esta situação pode parecer pacífica agora mas na altura não o era. Tratava-se de projectos complicados em que as reacções dos sindicatos e comissões de trabalhadores eram muito violentas.
A base do pensamento assentava em que todos os trabalhadores eram iguais e toda a gente devia ganhar de igual forma.
Foi um projecto onde me empenhei com grande entusiasmo. Tivemos de pensar da base zero, de que forma iríamos avaliar as pessoas. Pela quantidade de trabalho? Pela qualidade? Pela atitude?
Este trabalho envolveu o contacto quase permanente com 300 chefias da empresa.
Além disso metia-me no carro e percorria o país todo de fábrica em fábrica, conhecia-as como as minhas mãos, andava sempre para lá metida no meio do cimento, em contacto com as pessoas. Adorava fazê-lo porque acho que para se falar das coisas tem de se estar e conhecer o terreno.

Sentiu algum tipo de dificuldades?
Tive dificuldades, sobretudo com as chefias, as de maior responsabilidade. Normalmente são as que têm mais receio destes processos por serem violentos pelo facto de as obrigar a dizer olhos nos olhos aos seus colaboradores: "Não estou contente com o trabalho que faz" e ter de dar instruções sobre como fazer. Alguns líderes têm dificuldade em lidar com estas situações.


Qual o seu maior desafio profissional?
Tenho memórias muito interessantes e boas de todos os locais por onde passei, mas talvez possa destacar a limpeza dos cadernos eleitorais em 97. Um processo em que se eliminaram 500 ou 600 mil eleitores, onde se recolheram 9 milhões de verbetes, e onde havia um prazo de 8 ou 9 meses estimado para se fazer o trabalho e se preparar o referendo. Conseguimos reduzir esse prazo para 4 meses mas foi um trabalho indiscritível.
Falando com o antigo secretário de estado contava-lhe que uma vez às duas e tal da manhã fomos visitar a empresa onde estava a sair o primeiro caderno eleitoral, com os novos eleitores e as coisas actualizadas. Fui para casa às onze, dormi uma hora, levantei-me e fui acompanhar aquele processo que diz um pouco o que aquela equipa vivia. Se era preciso estar às duas e meia, lá estávamos a essa hora.

Quando é que aparece a Academia Global?
A Academia nasce formalmente em Setembro de 2000. Vim da Tracy International para onde voltara em Dezembro de 99, altura em que começámos a pensar na questão do e-learning.
Fizemos o projecto e o business plan, e propusemo-lo à PT que aceitou. A Academia Global é o resultado da parceria entre a PT e a Tracy International.
A empresa foi criada e eu que acompanhei o projecto desde o inicio, transitei para a a Academia Global, tendo como principal área de responsabilidade a produção de conteúdos. Como vê, tudo coisas diferentes daquilo a que me habituara.

Quais os aspectos positivos e negativos do seu actual trabalho?
Um aspecto muito positivo tem sido constatar que a ideia e o modelo de e-learning que a Academia Global tem está à frente do que se tem feito no resto do mundo.
Estive recentemente no INSEAD, uma business School de referência na Europa e estavam a lançar na altura o INSEAD-online. Verifiquei que poderiam aprender muito com a nossa experiência.
Fui também a uma reunião na Suiça com gente de todo o mundo, de Israel a Singapura, de França aos Estados Unidos e cheguei à mesma conclusão. Estamos à frente do que está a ser feito em muitos outros países. As pessoas ouvem-nos e dizem-nos que "afinal percebemos disto".
Para a semana vou estar em Nova York, com o senhor Elliot Masie, o "gurú" do e-learning em todo o mundo. Vou aprender coisas novas sobre o tema e sobre a formação das pessoas que trabalham no e-learning, para confrontar o que hoje fazemos com o que é feito de melhor.
O aspecto negativo é o receio de arriscar que vejo em muitos dos gestores de empresas. Vai ser publicado a 31 de Maio, um artigo intitulado e-learning: O Medo de Ser o Primeiro. Para mim não faz sentido propôr a alguém obter o mesmo resultado por menos dinheiro e menos esforço e a pessoa dizer-nos "não".

Quais os cursos ministrados na Academia Global?

Temos cursos nas áreas das línguas, das tecnologias de informação, da gestão.
Alguns são produzidos pela própria Academia outros pelos nossos parceiros. Um desses parceiros é aliás uma referência em todo o mundo ao nível da formação e da produção de conteúdos - a McGraw Hill.
Há uma variedade muito grande de cursos que se encontra estruturada em academias: a academia das línguas, a academia do lazer, a academia da liderança, ....


Qual a duração média dos cursos?
É variável. Temos por exemplo um curso de informática com 11 meses de formação. Há uma sessão uma vez por semana e depois existe o acompanhamento mas é tudo variável. Há cursos que demoram 3 ou 4 horas, outros uma semana, outros 15 dias, depende.

Acha que as pessoas estão receptivas ao ensino à distância?
As pessoas que ousam experimentar estão encantadas, fascinadas!
Posso contar o testemunho de um aluno que temos que é do interior do país que diz que nunca teria acesso a um curso como aquele que agora frequenta, se não fosse o e-Learning.
A dimensão social é importante neste trabalho, e também a pensar neste aspecto vamos criar um observatório de e-Learning.

Se tivesse de escolher uma segunda profissão, o que gostaria de ser?
Física nuclear. Hoje sei que não tenho características para investigação porque sou uma pessoa muito do terreno, na Cimpor metia-me dentro dos silos para ver como era feito o cimento, e quando estive na Brisa estava sempre a ver se os portageiros atendiam bem as pessoas. Em relação ao curso que tirei, ainda tive consultório durante uns anos mas a actividade profissional extra não me permitia acompanhar doentes com regularidade, porque andava muito fora, em reuniões e em viagens.

Que conselho daria a alguém que quisesse seguir a sua profissão?
Os conselhos que posso dar têm a ver com as características de cada um e não com uma profissão em particular. O que é importante é ter determinação, humildade, lealdade e espírito de entre ajuda.
A psicologia foi-me muito útil para fazer o que faço nas empresas, mais do que se escolhesse um curso de gestão. O que é essencial aprender é a forma de estar com os outros porque o que se passa nas organizações só acontece por causa das pessoas.
A psicologia tem sido o pano de fundo da minha acção, aprender coisas novas como marketing, estratégia ou finanças é fácil, o que é difícil é aprender a lidar com o que é interior a cada um de nós.

Em criança, o que é que queria ser?
Queria ser tropa como o meu pai. Passei grande parte da minha infância em quartéis e por isso pensava que gostaria por exemplo de comandar uma parada. (risos) mas isso era antes...

AF






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