Pedro Maia Ramos
PORTUGAL tem apenas três empresas na lista das "100
Melhores Empresas para Trabalhar" na União Europeia (UE),
divulgada a 27 de Março em Bruxelas pela comissária europeia
para o Emprego e Assuntos Sociais, Anna Diamantopoulou.
No entanto, não são empresas de capitais nacionais, mas
sim as filiais portuguesas das multinacionais Accenture (consultadoria),
a Bristol-Myers Squibb (farmacêutica) e a DHL (correio urgente).
"Não é o número que me choca, mas o facto
de serem multinacionais. É um atestado à gestão portuguesa,
que não tem a característica de despertar motivações.
Em Portugal, alguns gestores defendem que a importação de
modelos de gestão estrangeiros não funciona. Mas o modelo
das três empresas nomeadas é o anglo-saxónico, o qual
me parece ter grande adesão por parte dos empregados. É
que não basta 'acenar' com salários competitivos para contratar
bons profissionais. As empresas têm de saber como os conservar ao
seu serviço", diz Pedro Bettencourt da Câmara, docente
universitário e consultor.
O estudo da Comissão Europeia foi efectuado pela Oxford Research/
Great Place to Work Europe Institute (GPW Europe) Consortium e foram englobadas
mais de mil corporações dos 15 Estados-membros, entre empresas
públicas e privadas, agências governamentais e ONG. Responderam
ao questionário 124.196 empregados de um universo de cerca de 210
mil.
As empresas concorrentes são seleccionadas pela reconhecida qualidade
do ambiente no posto de trabalho, resultado de um processo de avaliação
que analisa as políticas das entidades empregadoras e as opiniões
dos seus trabalhadores.
Só que esta metodologia de classificação também
poderá ter algumas lacunas. "Mais do que 'rankalizar' as
empresas, importa colocar a questão na devida dimensão,
nos aspectos conjunturais dos diferentes contextos económicos.
Como se 'classifica' a empresa que disponibiliza aos seus empregados 'cursos
de gestão do stresse' para melhor se adaptarem ao ritmo (que a
própria empresa induz) dos ambientes laborais? Ou a concessão
de telemóveis, para que possam estar sempre disponíveis?
Falamos do melhor local para trabalhar ou do melhor local para viver?",
questiona José Sampaio, vice-presidente da Associação
Portuguesa dos Profissionais em Sociologia Industrial, das Organizações
e do Trabalho.
Critérios à parte, segundo a página da UE (www.europa.eu.int/comm/employment_social/soc-dial/crs/eu100best.htm),
num bom local para trabalhar, o empregado deverá confiar na pessoa
para quem trabalha, ter orgulho na tarefa que executa e possuir um bom
relacionamento com os colegas.
A Comissão Europeia, e um comité de gestão representativo
dos accionistas das corporações, providenciam monitores
que aconselham e acompanham toda a evolução do processo.
Para as administrações das empresas de cada um dos países
são adaptados diferentes modelos de perguntas. O objectivo é
captar as diversas estruturas do mercado de trabalho, a legislação
existente, as condições laborais e outras questões
relevantes, específicas de cada Estado-membro.
Às organizações é-lhes pedido que respondam
a um questionário dividido em duas partes. Na primeira, deverá
ser esclarecido, detalhadamente, a quem pertence a empresa, a sua estrutura,
a demografia existente e que tipos de benefícios são oferecidos.
A segunda parte procura clarificar como são as comunicações
internas, a conduta da gestão do local de trabalho, as formas de
reconhecimento ao empregado, a diversidade, que formação
contínua é providenciada e a paridade entre os géneros.
A finalizar, a empresa é encorajada a enviar material que esclareça
melhor a sua cultura e políticas, como vídeos, comunicados
de imprensa, programas de introdução, de orientação
de trabalhadores e livros, por exemplo.
Questões iguais para os empregados
Para os empregados as perguntas são idênticas nos quinze
países. Apenas sofrem as necessárias adaptações
linguísticas, de modo a assegurar uma eficaz comparabilidade das
respostas. O documento, com 53 questões, tenta avaliar, principalmente,
o nível de confiança na gestão, a satisfação
do trabalhador no seu posto e na empresa e a camaradagem.
Os comentários pessoais são bem aceites e os questionários,
com as respostas, enviados directamente para a entidade encarregada de
gerir os dados a nível nacional (a GPW Europe), o que garante a
confidencialidade das respostas.
A perspectiva do empregado é mais valorizada que a do empregador
- as respostas do primeiro valem dois terços enquanto as da gestão
da empresa valem um terço. Nas listas nacionais, as empresas são
classificadas tanto pela quantidade como pela qualidade.
O convite à candidatura da empresa (com 50 empregados, no mínimo)
é feita por carta, com base numa lista de cerca de 15 mil entidades
tidas como "bons locais para trabalha". Ao mesmo tempo,
são efectuadas campanhas publicitárias dentro do país.
O requerimento pode ser apresentado pela administração,
pelos trabalhadores, por clientes ou por alguém alheio à
entidade. A avaliação é efectuada a nível
nacional de cada um dos 15 países pela GPW Europe.
Os dados recolhidos são depois tratados a nível europeu
pela Oxford Research, que os envia à Comissão Europeia.
As 15 empresas classificadas em primeiro lugar em cada país entram
directamente para a lista das 100 melhores da UE.