Oportunidades sustentadas por uma cultura de meritocracia e talento, num modelo onde o contrato de trabalho é o menos relevante. Os freelancers estão a ganhar expressão e os portugueses estão cada vez mais orientados para trabalhar por tarefas.
A crise nacional está a levar as empresas à prudência nas contratações, como forma de controlar os custos fixos e os encargos com recursos humanos. Mas apesar desta contenção, o investimento das empresas e a sua aposta em novas áreas de negócio, mais lucrativas, não pára. Às organizações, continuam a faltar trabalhadores de talento e com mérito para ajudar a vencer a crise em Portugal ou noutros mercados. O que mudou e está a mudar é o modelo de trabalho. Se antes ter um contrato ou ser efetivo era a ambição máxima de qualquer profissional, hoje há cada vez mais profissionais de talento, altamente qualificados, a trabalhar por tarefas ou projetos.
Há uma clara diferença entre ter um emprego e ter trabalho. E a distinção é cada vez mais nítida. Luís Pedro Martins, economista de formação, e Saurabh Khanna acreditam que o mundo se orienta, cada vez mais, para a segunda hipótese: conquistar trabalho. E foi por isso que criaram em Portugal uma plataforma pensada para ajudar os profissionais a vender o seu trabalho. A Zaask.com está online o sucesso que alcançou desde o primeiro minuto é a prova de o mercado de trabalho português enfrenta uma revolução e uma mudança de mentalidade. A segurança não é um mito, mas conquista-se a pulso, num trabalho que é constante e onde a melhor montra de qualquer profissional não é a universidade onde se licenciou ou a média com que concluiu o curso, é a qualidade do trabalho desenvolvido.
Luís Pedro Martins insiste em salientar que “crise, em chinês, significa oportunidade”. O mentor da Zaask - o site onde os freelancers se encontram com quem precisa do seu trabalho - acredita que a crise nacional não eliminou as oportunidades, apenas as modificou. “As oportunidades estão lá, mas mudaram. já não são as mesmas porque as necessidades das empresas e das pessoas também mudaram”, explica acrescentando que “é necessária uma adaptação a uma nova realidade por parte dos profissionais”. Uma mudança de mentalidade em relação ao trabalho que passa por assumir o desempenho da atividade profissional em regime de freelancer, como um modo de vida que não só pode permitir o enriquecimento curricular e profissional, como também pode ser um importante contacto junto de potenciais empregadores. Em situações de adversidade e desemprego estar ativo no mercado, seja de que forma for, só pode ser encarado como oportunidade. É esta a premissa da Zaask e de outras plataformas semelhantes que existam no mercado. “O que os mercados online como este fazem é tornar evidentes as necessidades e as oportunidades das empresas e facilitar a adaptação de quem quer trabalhar ao que é procurado”, explica.
A empresa parte de um conceito simples: existem tarefas que, se pudéssemos, pagaríamos a alguém com talento para as realizar. A Zaask recorre à tecnologia para promover o encontro entre quem quer desempenhar tarefas (os taskers) e quem precisa que essas tarefas sejam realizadas (os askers). O acesso à plataforma é gratuito e desde que começou a funcionar, no mês passado, a plataforma já reúne uma comunidade de mais de cinco mil taskers e quase três mil askers. Uma adesão que leva um dos mentores do projeto a perspetivar a breve prazo uma expansão do projeto para Espanha, Brasil e Reino Unido, antevendo que daí resulte também um alargamento das oportunidades de trabalho dos freelancers portugueses.
Segundo Luís Pedro Martins, cerca de 70% dos taskers inscritos possuem formação superior e estão em situação de desemprego. Para o líder do projeto, “a plataforma tem vantagens claras para quem quer trabalhar já que possibilita gerar rendimento, há adaptação automática à procura e dá ao profissional a oportunidade de se expor, mostrar o seu talento e ser avaliado”.
É neste último ponto que reside para Luís o grande “charme” do projeto: o mérito. “A qualidade do trabalho tende a aumentar. O freelancer tem mais incentivo para realizar um bom trabalho porque sabe que a sua avaliação será pública e se for positiva terá mais possibilidade para angariar novos clientes. Uma cultura de meritocracia que nem sempre acontece nas empresas”, argumenta. O líder da Zaask enfatiza que esta tendência que só agora chega a Portugal é já um sucesso em inúmeros países e uma forma de rendimento para profissionais de áreas tão distintas como a arquitetura, o direito, marketing, design, comunicação, engenharia, outros técnicos como canalizadores, eletricistas, carpinteiros, etc. “Este modelo de trabalho pode ser particularmente relevante para profissionais mais seniores que têm características que os distinguem, como a disponibilidade, experiência e disponibilidade de tempo, mas também para os recém-licenciados que são cada vez mais qualificados e cheios de energia e talento para desempenharem tarefas com qualidade”, explica Luís Martins.
O responsável reconhece que trabalhar por tarefas implica o risco de não ter trabalho, mas acrescenta que esse risco já é real para inúmeros profissionais por conta de outrem. Há pois que mudar a mentalidade, adaptar-se ao mercado e descobrir uma forma de trabalho onde o mérito e a determinação são o principal trunfo.
Como ser um freelancer de sucesso
Mérito é a palavra-chave para qualquer profissional que aposte em ganhar a vida trabalhando por tarefas ou projetos. Os freelancers têm vindo a ganhar terreno, mas a conquista pelo trabalho “certo”, ou pelo menos regular, faz-se a pulso num mercado onde a concorrência é muita e, cada vez mais, feroz.
Trabalhar como freelancer ou por tarefas tem vantagens, mas também tem desvantagens. É um modo de vida com altos e baixos, onde a segurança de um salário certo não existe e por isso, a estes profissionais resta fazer valer o seu mérito e a qualidade do seu trabalho para conquistar novos clientes. Ter consciência deste modo de vida, é o primeiro grande trunfo para vencer no mercado de trabalho, sem qualquer contrato a não ser consigo mesmo.
Deve lembrar-se que viver assim não é uma contingência da realidade laboral, mas antes uma atitude profissional e a partir dai, gerir a sua reação não com um patrão, mas com vários. tantos quantas as tarefas que desempenhar.
Estabelecer um horário de trabalho, como se trabalhasse por conta de outrem, pode ajudá-lo. O sucesso de ser independente passa por ter as mesmas rotinas de quem tem um emprego. Deve também organizar os seus cartões-de-visita e ter sempre um portfólio atualizado dos seus trabalhos.
As redes sociais e as plataformas de trabalho especializadas em freelancers são ferramentas que não deve negligenciar. A qualidade do seu trabalho é a sua montra no mercado e deve, antes de mais, aprender a vender a sua imagem enquanto profissional. Deve investir tempo a perceber a forma como se expõe e apresenta ao mercado. Lembre-se de um fator de máxima importância: aceite apenas as tarefas que conseguir cumprir com mérito, qualidade e dentro dos prazos. Você é a sua própria montra, pelo que não é aconselhável agarrar todos os trabalhos só para ganhar dinheiro. Qualquer falha ou incumprimento é o fim do freelancer no mercado.