Durante décadas, o duelo homem-máquina e a substituição de profissionais pela tecnologia têm sido evocados para justificar a redução, em muitos sectores elevada, de postos de trabalho. Na luta entre humanos e o desempenho tecnológico têm ganho o último, mas aparentemente as contas não podem ser feitas de forma tão linear. A consultora Deloitte recuou a 1871 e analisou 140 anos de dados relacionados com o mercado de trabalho e a criação de emprego em Inglaterra e no País de Gales, para concluir que a tecnologia criou afinal mais empregos do que os que destruiu.
Áreas há, como a da saúde, onde se registam aumentos de criação de emprego na ordem dos 909%, como é o caso dos auxiliares de enfermagem.?Está a tecnologia a diminuir as hipóteses de trabalho dos seus criadores? Ian Stewart, Debapratim De e Alex Cole, os autores do estudo da Deloitte, nomeado para o Rybczynski Prize da Society of Business Economists, defendem que não.
Segundo os especialistas, ela está sim a mudar o panorama do mercado de trabalho. Recuando ao passado e analisando a evolução do mercado de trabalho no Reino Unido ao pormenor, os autores do estudo concluem que “o que se verificou foi uma contração do emprego em áreas como a agricultura e a manufatura, que é rápida e largamente superada pela criação de novos postos de trabalho em áreas como a saúde e bem-estar, indústrias criativas, tecnologia e nos vários sectores dos serviços”. Onde a máquina demonstrou ganhar vantagem sobre o trabalho humano foi nas funções mais repetitivas e braçais mas, adiantam os autores do estudo, “em nenhum momento da história as máquinas estiveram perto de eliminar a necessidade da forma de trabalho humana, nos últimos 140 anos”.
O boom dos empregos de conhecimento intensivo
É inquestionável que em alguns sectores a tecnologia, efetivamente, eliminou postos de trabalho. Contudo, os autores questionam se “quereríamos hoje desempenhar essas tarefas, eminentemente braçais, repetitivas e muitas vezes de esforço”. No Reino Unido, o primeiro sector a sentir a redução de postos de trabalho promovida pela tecnologia foi a agricultura, a par com o sector administrativo, onde os datilógrafos e as secretárias sofream quebras de 57 e 50%, respetivamente, e algumas indústrias, como a têxtil, onde a procura de tecelões diminuiu 79%. Mas noutros sectores, a criação de emprego mais qualificado superou o número de postos de trabalho extintos.
?O estudo da Deloitte conclui que sectores como o da saúde e bem-estar e registaram crescimentos de 909% na criação de novos empregos, como é o caso dos auxiliares de enfermagem. Nos últimos 140 anos, avançam os autores, os empregos na área da educação aumentaram 580%, os especialistas na área do bem-estar, apoio à juventude e à comunidade aumentaram 183%, enquanto os profissionais ligados à manutenção doméstica aumentaram 168%. ?“Em alguns sectores, incluindo a medicina, educação e serviços profissionais, a tecnologia aumentou a produtividade e o emprego aumentou em simultâneo”, explicam os autores enfatizando que “o acesso mais facilitado à informação e a aceleração dos canais de comunicação revolucionaram a criação de emprego nas indústrias de conhecimento intensivo”.
Tomando-se em consideração, por exemplo, os contabilistas, o estudo demonstra que em 1871 o Censo da altura dava conta da existência de 9832 profissionais no Reino Unido, um número que cresceu para mais de 215 mil profissionais ao longo dos últimos 140 anos. Outras indústrias como a do lazer cresceram em número de profissionais, a par com alguns serviços relacionados com a estética e beleza. Movimentações que levam os especialistas a concluir que a tecnologia foi antes um aliado para a facilitação do trabalho dos humanos, permitindo reduzir as profissões com maior risco e esforço associado e potenciando a expansão de outro tipo de funções.