Para a líder da operação de retalho e lojas online da Apple, Angela Ahrendts, “a experiência e a idade são bases muitos importantes no que toca a identificar e reter talento”. É disso que se serve quando recruta para a sua equipa. Depois de 34 anos de experiência na gestão ativa de equipas, liderança de projetos e consolidação de grandes marcas, a vice-presidente da Apple partilhou o seu segredo. Num artigo publicado na plataforma Linkedin, intitulado “Como eu contrato: os princípios orientadores”, Ahrendts releva o que aprendeu ao fim de 34 anos a gerir talento e explica os quatro pilares em que sustenta todas as suas contratações, onde os candidatos se devem focar e as questões que lhe servem de filtro para identificar talento em escassos minutos.?
Não estranhe se, uma vez ultrapassado todo o rigoroso crivo de seleção da Apple, a vice-presidente, naquela oportunidade derradeira de seleção que lhe permitirá carimbar o passaporte de entrada na tecnológica, lhe perguntar “quão grande é o seu ego e qual o papel que ele desempenha nas suas decisões diárias?” ou se “foca a sua energia em crescer individualmente ou em dar o seu contributo para o grupo e o projeto evoluam como um todo”. Para Ahrendts, estas são perguntas básicas mas essenciais para cumprir o seu primeiro crivo de seleção: “quero perceber como eles se veem a si mesmos e que lugar consideram ter no mundo”, explica a vice-presidente.?
Assim que os candidatos “baixam a guarda e ficam mais confiantes no seu desempenho durante a entrevista”, a gestora eleva a fasquia da exigência e aperta o crivo da seleção. Do primeiro patamar de análise - “eu ou nós?” - Ahrendts passa para um segundo nível onde procura perceber “como aquele candidato se movimenta no mundo. Ele pensa ou sente primeiro? O que é que ele usa, instintivamente, em primeiro lugar, a cabeça ou o coração?”.
A relevância dos afetos
Inspirada pelo pensamento de Maya Angelou, quando refere que “as pessoas esquecerão o que lhes dizemos, o que lhes fazemos, mas nunca esquecerão a forma como as fizemos sentir”, Angela Ahrendts dá particular relevância aos aspetos relacionados com o posicionamento dos candidatos entre pares. “Quando chegam ao meu escritório, já tenho a garantia de que são incrivelmente bons tecnicamente nas suas áreas. O meu foco é assegurar-me que são compatíveis com a cultura da Apple, que são apaixonados pelo que fazem, empáticos, preocupados e dedicados”, explica.
Para filtrar estas competências, a vice-presidente procura perceber como determinado candidato lida com situações adversas e otimiza oportunidades. “Geralmente pergunto o que a sua equipa ou os seus pares teriam a dizer sobre ele, para ganhar uma perspetiva mais profunda e equilibrada de como eles são intelectual e emocionalmente”, explica.?Angela Ahrendts gosta também de analisar a forma como os candidatos encaram o mundo. Numa etapa que designa de “Lado esquerdo do cérebro vs Lado Direito”, a vice-presidente procura perceber se o candidato cede a instintos ou impulsos ou se é ponderado, analisa as situações antes de agir e procura soluções criativas. Não é descabido ver a gestora a procurar saber o que “veem, ouvem ou lêem” os candidatos.
Pragmática, Angela Ahrendts não tem dúvidas de que “o sucesso de uma empresa baseia-se em colocar a pessoa certa na função certa, na altura certa”, explica enfatizando que “sabemos o que nos faz falta e só temos que identificar quem são os nossos profissionais ou candidatos, de modo a assegurarmos uma relação duradoura para ambas as partes”. Esta tentativa de perceber “o que guia um profissional no mundo” é também fundamental para a vice-presidente da Apple Retail que dedica a última fase da sua checklist a compreender os pontos de referência de cada candidato e que o move e a forma como aceitam novos desafios. Para Ahrendts, a principal função de um líder é “construir uma equipa brilhante e desenvolvê-la. Nada do que se faça numa empresa é mais importante do que isto”.