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Portugal supera Leste

30.01.2004


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Ruben Eiras

PORTUGAL é 20% mais produtivo do que os países de Leste, apesar de possuir mais do triplo da população activa com baixa qualificação e somente 1/6 da proporção da força laboral com qualificação média. Esta é uma das conclusões da compilação de dados do Eurostat elaborada pelo EXPRESSO, onde se faz a comparação com a média dos oito países do Leste que irão integrar a UE a partir deste ano.


Por outro lado, uma recente investigação parece indicar que a superioridade da capacidade produtiva da força laboral portuguesa reside essencialmente nas competências desenvolvidas no posto de trabalho.

Esta conclusão consta do estudo intitulado "Qualificações dos Trabalhadores Portugueses" e foi elaborado pelo Centro de Investigações Regionais e Urbanas do Instituto Superior de Economia e Gestão, denominado.

Com base na análise dos quadros de pessoal de 1991 a 2000, a equipa de investigadores construiu dois indicadores: o Índice de Qualificação e o Índice Compósito de Qualificação.

O primeiro trata da relação entre a população activa qualificada e a não qualificada, ou seja, mede as qualificações que são reconhecidas pelas empresas, com reflexo a nível das remunerações.

Já o Índice Compósito de Qualificação incorpora os anos de escolaridade do trabalhador e a sua experiência profissional (experiência potencial do mercado de trabalho condicionada pelo número de anos de escolaridade).

O estudo mostra que, naquele período, as qualificações profissionais efectivas - traduzidas pelo Índice Compósito de Qualificação - aumentaram 37%, enquanto que o Índice de Qualificação cresceu 13,7%. Ou seja, as qualificações efectivas cresceram 2,7 vezes mais do que as qualificações reconhecidas.

"Há que reformular todo o sistema de certificação profissional como temos vindo a defender, de forma que as competências obtidas pelos trabalhadores através da experiência ou por meio da formação profissional sejam certificadas, produzindo um reflexo efectivo na progressão na carreira", defende Eugénio Rosa, economista.

Certificar para valorizar

Uma perspectiva também defendida por Maria Márcia Trigo, ex-presidente da extinta Agência Nacional de Formação e Educação de Adultos. Para esta responsável, o sistema de certificação pode contribuir para o crescimento da produtividade, já que o reconhecimento das competências poderia aumentar a motivação do trabalhador.

"Mas para que tal aconteça, o sistema nacional de certificação tem que deixar de ser altamente burocrático, ineficiente, moroso e dispendioso, face aos magros resultados alcançados. Estes factos são facilmente retirados de diversas análises, baseadas em estudos de caso de todos conhecidos. Colocar o sistema nacional de certificação a produzir os resultados que o país exige, é pois uma das reformas mais urgentes", afirma.

Apostar na organização

Para concretizar este objectivo, Márcia Trigo é peremptória: "E nem é difícil pois não é preciso inventar a roda - há imensas publicações cheias de 'boas práticas' e a técnica do 'benchmarking' é igualmente conhecida e reconhecida. É deixar de fazer estudos sobre estudos e passar à prática". O EXPRESSO contactou a Direcção-Geral de Formação Vocacional sobre esta matéria, mas até ao fecho da edição não houve qualquer resposta.

Uma outra linha de acção para aumentar a produtividade no curto prazo, rentabilizando as actuais qualificações dos portugueses, é a aposta na melhoria da organização do trabalho. José Cardim, especialista em formação profissional e docente no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, advoga que "é necessário estudar o fluxo ou processo geral de trabalho e da sua disposição no espaço, os chamados 'lay outs".

A racionalização do trabalho, explica aquele especialista, também pode incidir em operações administrativas, por analisar e simplificar os circuitos e os métodos utilizados, "Mas antes destas melhorias serem aplicadas nos processos de informatização, estes têm que ser analisados devidamente. Senão não existe integração da informação, e introduz-se redundâncias no processo de trabalho", salienta.

Para José Cardim, se um processo geral de trabalho for estudado com cuidado e profundidade, será possível "evitar o aparecimento de problemas, prejuízos e atrasos", reduzindo assim ao mínimo as necessidades de deslocação dos materiais e os riscos, e "maximiza o rendimento dos trabalhadores, do espaço e do equipamento".

Todavia, é um facto que o capital humano dos países de Leste possui um potencial de transformação superior ao português: cerca de 19% da mão-de-obra possui formação superior e mais de 60% detêm qualificação intermédia. Ou seja, no médio prazo, o choque da deslocalização empresarial irá agudizar-se. Serão os portugueses capazes de inverter a situação? A História segue dentro de momentos...

Como organizar o trabalho

1 - Estudo do fluxo ou processo geral de trabalho e da sua disposição no espaço (os "lay outs"); Este trabalho assenta na necessidade de representar, analisar, planear e organizar o "conjunto do sistema" de trabalho, procurando-se a sua racionalização global pela ordenação mais eficiente das actividades e pela disposição lógica dos recursos. Aqui a tipologia de produção é fortemente determinante da estrutura de organização do trabalho.

2 - Estudo dos "programas" de trabalho: analisar cada actividade do trabalho e dos métodos utilizados assentando na:

a) Especificação das tarefas executadas individualmente descrevendo-as e representando o método actual, analisando-o, medindo e decompondo o trabalho em elementos simples que permitam o desenho em novas condições de execução

b) Revisão crítica do trabalho e dos métodos de execução das tarefas, examinando-os para supressão das operações e dos tempos improdutivos, estudando os tempos mortos dos equipamentos e pessoas. Determinação das razões que definem o trabalho (objectivo, local, momento, meios, executantes), identificando os pontos fracos e suas causas; e eliminando tarefas e fases inúteis, ou simplificando-as e permutando-as, ou associando fases para reduzir operações, complexidade e esperas. Esta fase constitui a síntese (ou desenho) do novo trabalho.

c) Redistribuição do trabalho entre postos e preparação da aplicação do novo método

Fonte: José Cardim





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