Ruben Eiras
        
         PORTUGAL é 20% mais produtivo do que os países 
        de Leste, apesar de possuir mais do triplo da população 
        activa com baixa qualificação e somente 1/6 da proporção 
        da força laboral com qualificação média. Esta 
        é uma das conclusões da compilação de dados 
        do Eurostat elaborada pelo EXPRESSO, onde se faz a comparação 
        com a média dos oito países do Leste que irão integrar 
        a UE a partir deste ano.
      
    
    
      
      
    
  
  
  
  
     
       
        
          Por outro lado, uma recente investigação parece indicar 
          que a superioridade da capacidade produtiva da força laboral 
          portuguesa reside essencialmente nas competências desenvolvidas 
          no posto de trabalho.
          
          Esta conclusão consta do estudo intitulado "Qualificações 
          dos Trabalhadores Portugueses" e foi elaborado pelo Centro de Investigações 
          Regionais e Urbanas do Instituto Superior de Economia e Gestão, 
          denominado. 
          
          Com base na análise dos quadros de pessoal de 1991 a 2000, a 
          equipa de investigadores construiu dois indicadores: o Índice 
          de Qualificação e o Índice Compósito de 
          Qualificação.
          
          O primeiro trata da relação entre a população 
          activa qualificada e a não qualificada, ou seja, mede as qualificações 
          que são reconhecidas pelas empresas, com reflexo a nível 
          das remunerações. 
          
          Já o Índice Compósito de Qualificação 
          incorpora os anos de escolaridade do trabalhador e a sua experiência 
          profissional (experiência potencial do mercado de trabalho condicionada 
          pelo número de anos de escolaridade). 
          
          O estudo mostra que, naquele período, as qualificações 
          profissionais efectivas - traduzidas pelo Índice Compósito 
          de Qualificação - aumentaram 37%, enquanto que o Índice 
          de Qualificação cresceu 13,7%. Ou seja, as qualificações 
          efectivas cresceram 2,7 vezes mais do que as qualificações 
          reconhecidas.
          
          "Há que reformular todo o sistema de certificação 
          profissional como temos vindo a defender, de forma que as competências 
          obtidas pelos trabalhadores através da experiência ou por 
          meio da formação profissional sejam certificadas, produzindo 
          um reflexo efectivo na progressão na carreira", defende 
          Eugénio Rosa, economista.
          
          Certificar para valorizar
          
          Uma perspectiva também defendida por Maria Márcia Trigo, 
          ex-presidente da extinta Agência Nacional de Formação 
          e Educação de Adultos. Para esta responsável, o 
          sistema de certificação pode contribuir para o crescimento 
          da produtividade, já que o reconhecimento das competências 
          poderia aumentar a motivação do trabalhador.
          
          "Mas para que tal aconteça, o sistema nacional de certificação 
          tem que deixar de ser altamente burocrático, ineficiente, moroso 
          e dispendioso, face aos magros resultados alcançados. Estes factos 
          são facilmente retirados de diversas análises, baseadas 
          em estudos de caso de todos conhecidos. Colocar o sistema nacional de 
          certificação a produzir os resultados que o país 
          exige, é pois uma das reformas mais urgentes", afirma.
          
          Apostar na organização
          
          Para concretizar este objectivo, Márcia Trigo é peremptória: 
          "E nem é difícil pois não é preciso 
          inventar a roda - há imensas publicações cheias 
          de 'boas práticas' e a técnica do 'benchmarking' é 
          igualmente conhecida e reconhecida. É deixar de fazer estudos 
          sobre estudos e passar à prática". O EXPRESSO 
          contactou a Direcção-Geral de Formação Vocacional 
          sobre esta matéria, mas até ao fecho da edição 
          não houve qualquer resposta. 
          
          Uma outra linha de acção para aumentar a produtividade 
          no curto prazo, rentabilizando as actuais qualificações 
          dos portugueses, é a aposta na melhoria da organização 
          do trabalho. José Cardim, especialista em formação 
          profissional e docente no Instituto Superior de Ciências Sociais 
          e Políticas, advoga que "é necessário estudar 
          o fluxo ou processo geral de trabalho e da sua disposição 
          no espaço, os chamados 'lay outs".
          
          A racionalização do trabalho, explica aquele especialista, 
          também pode incidir em operações administrativas, 
          por analisar e simplificar os circuitos e os métodos utilizados, 
          "Mas antes destas melhorias serem aplicadas nos processos de 
          informatização, estes têm que ser analisados devidamente. 
          Senão não existe integração da informação, 
          e introduz-se redundâncias no processo de trabalho", 
          salienta.
          
          Para José Cardim, se um processo geral de trabalho for estudado 
          com cuidado e profundidade, será possível "evitar 
          o aparecimento de problemas, prejuízos e atrasos", reduzindo 
          assim ao mínimo as necessidades de deslocação dos 
          materiais e os riscos, e "maximiza o rendimento dos trabalhadores, 
          do espaço e do equipamento".
          
          Todavia, é um facto que o capital humano dos países de 
          Leste possui um potencial de transformação superior ao 
          português: cerca de 19% da mão-de-obra possui formação 
          superior e mais de 60% detêm qualificação intermédia. 
          Ou seja, no médio prazo, o choque da deslocalização 
          empresarial irá agudizar-se. Serão os portugueses capazes 
          de inverter a situação? A História segue dentro 
          de momentos...
          
          Como organizar o trabalho
          
          1 - Estudo do fluxo ou processo geral de trabalho e da sua disposição 
          no espaço (os "lay outs"); Este trabalho assenta na 
          necessidade de representar, analisar, planear e organizar o "conjunto 
          do sistema" de trabalho, procurando-se a sua racionalização 
          global pela ordenação mais eficiente das actividades e 
          pela disposição lógica dos recursos. Aqui a tipologia 
          de produção é fortemente determinante da estrutura 
          de organização do trabalho.
          
          2 - Estudo dos "programas" de trabalho: analisar cada 
          actividade do trabalho e dos métodos utilizados assentando na:
          
          a) Especificação das tarefas executadas individualmente 
          descrevendo-as e representando o método actual, analisando-o, 
          medindo e decompondo o trabalho em elementos simples que permitam o 
          desenho em novas condições de execução
          
          b) Revisão crítica do trabalho e dos métodos 
          de execução das tarefas, examinando-os para supressão 
          das operações e dos tempos improdutivos, estudando os 
          tempos mortos dos equipamentos e pessoas. Determinação 
          das razões que definem o trabalho (objectivo, local, momento, 
          meios, executantes), identificando os pontos fracos e suas causas; e 
          eliminando tarefas e fases inúteis, ou simplificando-as e permutando-as, 
          ou associando fases para reduzir operações, complexidade 
          e esperas. Esta fase constitui a síntese (ou desenho) do novo 
          trabalho.
          
          c) Redistribuição do trabalho entre postos e preparação 
          da aplicação do novo método
          
          Fonte: José Cardim