O que procuram as empresas nos licenciados que recrutam
Com o final do ano escolar, a época de estágios está prestes a arrancar. Os principais recrutadores nacionais já estão no mercado à procura dos melhores talentos produzidos nas várias universidades do país. Mas nos dias que correm, o talento já não se resume à melhor média de final de curso.
17.06.2011 | Por Cátia Mateus
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A Era das softskills chegou ao mercado de trabalho nacional e hoje, ser bom aluno já não chega. Contam, e muito, competências como a capacidade empreendedora do cadidato, a sua experiência de vida, atividades de voluntariado e até percurso desportivo. Conheça o que procuram as empresas.
Ser bom aluno é uma vantagem em qualquer canto do mundo e nisso Portugal ainda não é exceção. Mas no momento de recrutar, a média de conclusão da licenciatura já não vale o que valia. Cada vez mais, os empregadores nacionais querem jovens profissionais que se destaquem pela sua experiência de vida e aprendizagens extra-curriculares resultantes, por exemplo, de experiências académicas no estrangeiro, estágios de verão, voluntariado e até desporto. O desafio atual das universidades é preparar os seus jovens para as novas exigências do recrutamento e muitas já começaram a fazê-lo.
A tão ambicionada média de 18 ou 19 valores já não é um passaporte para entrar em empresas como a Portugal Telecom, a Sonae, Unicer, Grupo Jerónimo Martins ou Grupo Amorim, alguns dos principais recrutadores nacionais. A Sonae foi pioneira no lançamento em Portugal dos programas de recrutamento, com o seu Programa Contacto que dá a conhecer a jovens de elevado potencial como é trabalhar no grupo. Desde a criação deste programa, a Sonae já recebeu mais de 35 mil candidaturas e anualmente acolhe cerca de 20 estagiários. Muitos deles ocupam hoje lugares de destaque dentro da empresa, mas não pela sua média. O que os levou lá foram as inúmeras competências que demonstraram ter durante o estágio. A média é importante mas não determinante. O que conta é o perfil do candidato e as suas softskills, porque é a partir daqui que se desenvolve o talento. Cada vez mais os recrutadores procuram fatores diferenciadores nos currículos dos candidatos. As atividades desportivas são, por exemplo indício de capacidade de cooperação e trabalho em equipa, enquanto o voluntariado é simbologia de espírito de missão, adaptação e abertura a novas realidades.
Semelhante postura tem a Portugal Telecom com o seu Programa Trainees que é atualmente uma das principais fontes de recrutamento da empresa. Desde 2002 este programa já fez passar pela PT cerca de 450 pessoas, das quais aproximadamente 70 a 80% permanecem no grupo. No Grupo Jerónimo Martins, as prioridades são semelhantes. Quando se recrutam jovens recém-licenciados, nunca se pode aspirar a grande experiência profissional, mas há características determinantes e que distinguem os candidatos entre si, bem mais do que uma nota de final de curso.No “Trainees” a Jerónimo Martins recebe 15 a 20 licenciados por ano e o seu sentido de humildade é determinante. O estágio contempla uma passagem por todas as áreas funcionais da empresa, desde a reposição, á logística, passando pelo contacto com o público. Para a organização é vital que qualquer elemento da empresa perceba como funciona o negócio.
Espírito de missão, humildade, empreendedorismo, capacidade de trabalho em equipa, motivação, iniciativa, participação em programas de intercâmbio académico como Erasmus, estudar no estrangeiro ou empregar as férias escolares em estágios profissionais são fatores que podem fazer toda a diferença entre a imensa pilha de currículos que chega às mãos dos empregadores.
Uma realidade que Amândio da Fonseca, administrador do Grupo Egor, e Marco Gomes, associate director da Ray Human Capital, corroboram. Para Amândio da Fonseca “a admissão de um licenciado por uma empresa tende a simbolizar um determinado esforço de rejuvenescimento. As empresas procuram candidatos que, para além de potenciarem e consolidarem determinadas competências, façam o fit com a sua cultura e reforcem a sua identidade”. Em termos práticos, explica o administrador da Egor, “as empresas querem pessoas com facilidade de integração em grupos de trabalho, gosto por contactos pessoais e capacidade para influenciar positivamente os resultados e as pessoas na esfera de atuação das suas atividades”.
A média, reconhece, continua a ser um fator de peso, mas quer Amândio da Fonseca quer Marco Gomes não têm dúvidas de que tem vindo a perder importância para as designadas soft kills e já foi ultrapassada por outros indicadores. “As universidades são cada vez mais compelidas a ensinar a fazer do que a obrigar os alunos a encaixotar conhecimentos”.
Marco Gomes não tem qualquer dúvida que hoje uma universidade que queira alcançar o sucesso na rápida integração profissional dos seus alunos deve estar focada no desenvolvimento das suas soft kills. “São estes os fatores que podem fazer a diferença uma vez que não existindo experiência profissional, os jovens licenciados deverão focalizar-se no desenvolvimento de competências ao longo da sua vida académica que poderão servir de base à sua progressão na carreira”, explica o associate director da Ray. Proatividade, flexibilidade e polivalência, capacidade de aprendizagem e comunicação figuram igualmente para o especialista entre os fatores que mais influenciam uma decisão de contratação quando se fala de recém-licenciados.
Para quem queira uma entrada rápida e certeira no mercado, Marcos Gomes aconselha a investir ainda durante o curso em experiências académicas no estrangeiro e no desenvolvimento de atividades paralelas, como estágios profissionais durante as férias. “A mobilidade geográfica acaba por ser também, cada vez mais, um fator importante, bem como a formação complementar”, enfatiza.
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