Marisa Antunes
Se há situação em que a primeira impressão que se tem de alguém é crucial, essa é a entrevista de um candidato a determinado emprego. Tudo deve estar estudado ao milímetro e aqui, mais do que nunca, convém saber estar e respeitar algumas regras de etiqueta que podem literalmente mudar a vida dessa pessoa. A palavra-chave, em todo este processo, é ‘adequação', como faz questão de salientar Anabela Ventura, responsável para empresa de «outplacement», DBM Portugal, que trabalha directamente com organizações que, por diversos motivos (fusões, aquisições, deslocalizações, encerramentos ou desajustes), acabam por rescindir com os seus colaboradores, oferecendo-lhes apoio profissional na sua reinserção no mercado de trabalho.
“A adequação é fundamental, quer na forma como o candidato se apresenta, quer no próprio discurso que deve estar de acordo com aquilo que a empresa procura. É que se a primeira impressão não for boa, já não haverá uma segunda”, resume a responsável.
Questões como respeitar escrupulosamente a pontualidade em relação à hora marcada para a entrevista (ou chegar com dez minutos de antecedência), saber vestir-se convenientemente ou dar um aperto de mão firme e equilibrado parecem demasiado elementares mas ainda são muitos os que pecam pelo não cumprimento, o que lhes acaba por custar mesmo o lugar profissional em causa.
“Não há como contornar, o primeiro dos nossos sentidos é a visão por isso a apresentação deve ser cuidada e estar adequada ao fim em vista. Se a entrevista é para a banca, consultoria ou para empresas conservadoras não se pode ir de «jeans» e ténis. É óbvio que aqui se recomenda o fato e gravata. Para uma empresa do mundo da informática, da publicidade ou de «marketing», onde a criatividade é respeitada, também terá mais tolerância com a forma como o candidato se apresenta”, pormenoriza João Micael, director da empresa de consultoria Gabinete Portugal Protocolo.
Anabela Ventura complementa: “O «piercing» ou o brinco na orelha, no caso dos homens. só mesmo em empresas que actuam em áreas mais criativas. Já para um cargo técnico numa fábrica também é permitida alguma informalidade, mas não se deve ir de ténis. No fundo, as pessoas devem vestir-se como se fossem já funcionários da empresa”.
Nas mulheres, o enfoque é outro. “Não deve ir vestida como se fosse para um casamento ou para uma festa. As cores neutras são sempre preferíveis ao invés das mais arrojadas, e os decotes não são, de todo, convenientes. Usar uma saia curta ou muito travada também não é recomendável, até porque há muitos escritórios onde as entrevistas decorrem em salas com mesas de vidro ou em sofás demasiado baixos, o que dificulta quando se tem uma saia travada… O objectivo, acima de tudo, é inspirar profissionalismo, não deixar o recrutador a pensar na saia ou na maquilhagem excessiva”, especifica a directora da DBM.
Passada a fase da pontualidade e da apresentação física, chega-se ao aperto de mão. Apesar do pormenor básico, diz muito sobre a personalidade do candidato. “O aperto de mão não pode ser mole, nem fugidio, soa a estranho. Também não pode ser um quebra-ossos. A pessoa cuja mão está a ser esmagada não vai certamente gostar”, exemplifica João Micael. O responsável lembra ainda que “olhar nos olhos do entrevistador, enquanto que na cultura chinesa é considerado má educação, na nossa é, sem dúvida, um bom sinal”. Para a postura, não se quer nem aqueles que estão demasiado à-vontade, nem os exageradamente tímidos. “Ninguém gosta da postura do ‘desculpem por estar aqui' , nem, pelo contrário, ‘isto agora é tudo meu'”, resume João Micael.
Não descurar os pormenores já referidos é meio caminho andado. Mas a preparação continua quando se passa para a entrevista propriamente dita. “Existem aquelas perguntas clássicas, cujas respostas devem ser treinadas em casa. O ‘fale-me de si' é uma delas e aqui o candidato deve aproveitar para realçar a sua formação, as competências, experiência, alguns interesses, duas ou três características de personalidade como ser-se empenhado ou motivado, para dar um exemplo. Outras questões que podem causar surpresa e bloquear o candidato mas que são frequentes referem-se a quanto se pretende ganhar e quais os principais defeitos do candidato”, aponta Anabela Ventura.