Cátia Mateus
Quem disse que um portador de deficiência não pode participar num safari em África, esquiar nos Pirenéus, visitar as pirâmides do Egipto ou voar num balão de ar quente? Até há algum tempo estas experiências revelavam-se quase impossíveis para uma pessoa com mobilidade reduzida, sobretudo em Portugal que não contava com nenhuma agência de turismo ou de animação que assegurasse a organização destas aventuras. Foi partindo desta constatação — “e da necessidade de desfrutar de momentos de lazer com um membro da família portador de paralisia cerebral” — que Joana Prates e Luís Varela (a quem se juntaram mais tarde Eulália Calado e Ana Garcia) embarcaram na criação da Accessible Portugal, a primeira agência de viagens vocacionada para portadores de deficiência.
Existe há três anos e só agora ganhou uma loja física em Lisboa. Sinal de que nos negócios tal como nas viagens pelo mundo, o conhecimento se alcança com pequenos passos. A Accessible Portugal é o fruto de quatro mentes com formação em áreas tão distintas como a engenharia, a gestão, o turismo ou a medicina. Gente que em comum tem a vontade de levar o mundo aos que têm mais dificuldade de o alcançar autonomamente. Neste, como noutros casos, necessidade gerou negócios. Desta vez não a necessidade económica, mas a de dar qualidade de vida e igualdade de oportunidades a familiares com mobilidade reduzida.
Segundo Joana Prates, “o projecto da Accessible começou como uma empresa de animação turística e assim caminhou até à aquisição da primeira carrinha adaptada”. A expansão do conceito de negócio não demorou a acontecer, mas a verdade é que os primeiros passos não foram fáceis. “A equipa deparou-se no início com a necessidade de dar formação específica em ‘turismo acessível' aos seus colaboradores e teve ainda que contornar a dificuldade gerada pelo facto de a maioria da informação disponível, nomeadamente os guias, sobre espaços e locais acessíveis estarem incorrectos”, explica Luís Varela.
Alguns estudos de mercado depois, a empresa conseguiu reunir sem falhar uma lista dos recursos acessíveis e destinos turísticos mais comuns em Lisboa, Porto, Algarve e Litoral Alentejano. Hoje, operam exclusivamente junto dos portadores de deficiência assegurando um serviço integral de turismo que vai desde a reserva até a um controlo de qualidade pensado à medida de cada cliente. Um projecto que cumpre uma lacuna no mercado nacional tendo em conta que, por exemplo, “os norte-americanos com deficiência gastam anualmente cerca de 13,6 biliões de dólares em viagens de turismo, sendo que 44% escolhem a Europa como destino”, argumentam os empreendedores.
Presentemente, a Accessible Portugal tem parcerias firmadas com operadores do mundo inteiro, reunindo como parceiros a AIRMET e a ENAT-European Network for Accessible Tourism. A empresa estima que só em Portugal existam cerca de 800 mil pessoas com deficiência motora e que dessas, muito poucas circulem habitualmente e com facilidade na rua. Limitações que condicionam o seu dia-a-dia e das suas famílias e que é fundamental ultrapassar. Foi com esse intuito que Joana Prates e Luís Varela criaram a Accessible.
A ideia solidária chegou a merecer o aplauso do Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento (IAPMEI) logo na sua fase de arranque, que a premiou no Programa ‘Empreenda 06'. Mais tarde, a empresa foi considerada um «case study» pela INOVcapital. Até à data os quatro empreendedores já investiram neste negócio cerca de 150 mil euros, assegurando emprego a seis funcionários. O retorno do investimento ainda não foi alcançado (e só deverá ser em 2010), mas empresa atravessa agora uma fase de expansão com a abertura da sua primeira loja física e um alargamento da sua actividade.
Até aqui a Accessible tem vindo a apostar na atracção de turistas estrangeiros para Portugal, visto existirem já espalhadas pela Europa e Estados Unidos muitas agências especializadas em turismo acessível. Contudo, a empresa quer agora gerar em Portugal uma nova mentalidade que incentive as pessoas de mobilidade reduzida a sair de casa, fazer a sua vida normal como ir às compras, trabalhar, andar de transportes públicos e viajar quer lá fora quer cá dentro, mostrando que o mundo é, afinal, acessível.
BI Empresarial
Nome: Accessible Portugal
Fundadores: Joana Prates, 28 anos e Luís Varela, 30 anos.
Sede: Lisboa
Área de Actividade: Agência de viagens e animação turística para pessoas com mobilidade reduzida
Início de actividade: 2005
Postos de trabalho criados: Seis
Ambições futuras: Mostrar aos turistas portugueses de mobilidade reduzida que o mundo é acessível dentro ou fora de Portugal, ajudando a quebrar as barreiras da mentalidade.
Sítio: http://www.accessibleportugal.com