Os dados mais recentes do Observatório Europeu das Ofertas de Emprego, divulgado este mês, apontam para um aumento da procura de profissionais no sector da saúde, contrariando a redução geral das oportunidades no mercado de trabalho europeu. O documento analisa as contratações para o sector de profissionais de várias áreas e não exclusivamente médicos, adiantando que em 2012 foram contratadas para trabalhar no sector quase um milhão de pessoas. Mas a realidade dos médicos portugueses pode não seguir esta tendência. De acordo com o bastonário da Ordem dos Médicos (OM), José Manuel Silva, se o número de vagas para o acesso aos cursos de Medicina não for drasticamente reduzido, em 2025 o país terá entre 6400 e 9000 médicos especialistas desempregados, por não serem necessários ao sistema. O número resulta de um estudo conduzido pela Universidade de Coimbra a pedido da Ordem que avalia dois cenários: a manutenção dos atuais rácios médico/população por especialidades e a sua projeção para 2025 e, o cenário desejável da redefinição dos rácios considerados adequados a cada especialidade, com base na evolução populacional prevista dentro de 12 anos.
Para o bastonário da OM é por demais evidente que se não for revisto todo o sistema de acesso aos cursos de Medicina, em 2025 Portugal estará a financiar formação de excelência para colocar médicos no desemprego ou deixá-los partir para o estrangeiro e colocar o conhecimento ao serviço de outros países. Na verdade, os médicos portugueses são já disputados por empregadores de diversas geografias, em condições muito aliciantes em matéria salarial e de progressão na carreira. Sucedem-se em Portugal os eventos de recrutamento para profissionais de saúde e, de acordo com o estudo “Evolução Prospetiva de Médicos no Sistema Nacional de Saúde”, se não se limitarem as vagas anuais nos no acesso ao ensino superior, será muito maior o número dos que partem.
De acordo com os investigadores da Universidade de Coimbra, há atualmente 26.129 médicos. “No cenário de manutenção, em que se mantém os rácios atuais, teriamos 8882 novos especialistas que não seriam absorvidos relativamente ao cenário sem limitações e 5978 que seriam excedentários, relativamente ao cenário com limitações. Mesmo no cenário desejável, haverá sempre uma oferta acima da procura”, alerta o relatório. No balanço social de 2012, é possível verificar que houve um acréscimo de 998 médicos face a 2011. José Manuel Silva defende uma redução do acesso à universidade e à especialidade. Para o bastonário é fundamental diminuir 15% do total das vagas destinadas a quem já tem uma licenciatura e acede a especialidade (menos 300 vagas), fixando também em 1200 as vagas anuais para o acesso a Medicina (menos 500 do que as disponíveis no ano letivo de 2010/2011). O relatório encomendado pela OM estima que até 2025 sejam necessários menos cerca de 400 médicos especialistas, mas alerta: o cenário global da população fará com que em algumas especialidades exista carência de profissionais, como é o caso de estomatologia, patologia clínica, saúde pública, medicina do trabalho ou cirurgia maxilo-facial.
Clínicos portugueses na mira dos recrutadores internacionais
Uma nova comitiva da plataforma de recrutamento internacional Careers in White está de regresso a Portugal para uma nova operação de contratação de médicos. A empresa que vem contratar a Portugal desde 2012, vai estar a partir de amanhã no Porto, rumando a Lisboa no domingo. A meta é captar médicos portugueses, de várias especialidades e com formação de excelência, para trabalhar em cenários internacionais e multiculturais.
Esta é a terceira edição da Careers in White, em Portugal. A primeira feira de emprego organizada no país foi em 2012 e contou com 1500 participantes interessados em internacionalizar a sua carreira. A empresa voltou a Portugal e maio desde ano e o sucesso da missão de recrutamento foi tal que regressou, iniciando amanhã uma nova missão de recrutamento, em Lisboa e no Porto. Há oito anos que a Careers in White percorre 12 países da Europa para angariar profissionais de saúde para as mais de cinco mil vagas existentes em países, como Reino Unido, Alemanha, Dinamarca ou Suíça, por valores mínimos salariais a partir de 2500 euros para os médicos internos e 4000 para os especialistas.
A empresa faz a ligação entre as empresas e entidades de saúde que precisam de profissionais qualificados e os médicos interessados em trabalhar fora de Portugal. Nesta edição estão presentes, segundo a organização do evento, mais de duas dezenas de empregadores, entre hospitais privados e clínicas, bem como empresas de recrutamento e seleção que funcionam como intermediárias. Países como a Alemanha, Reino Unido, França, Bélgica, Dinamarca, Noruega, Finlândia, Suécia, Aústria e Suíça estão interessados em contratar médicos portugueses e outros profissionais de saúde, formados em Portugal.