Este não será, muito provavelmente, o destino mais linear para a maior parte dos portugueses quando a meta é emigrar. Os conflitos existentes, as diferenças culturais e o facto de muitos destes países estarem conotados com fatores de alto risco, ainda desmotivam os profissionais na altura de dar o passo em frente e trocar um pacato Portugal por um país do Médio Oriente. Mas a realidade é que para quem já arriscou, a experiência foi satisfatória. As oportunidades são reais, as condições financeiras aliciantes, as hipóteses de progressão na carreira inúmeras e os salários podem até ser bastante elevados, mas quem demonstrar vontade e capacidade de adaptação à cultura e às práticas de um povo muito cioso dos seus valores.
Se a palavra é tudo para triunfar no mundo nos negócios no Médio Oriente, a capacidade de adaptação não é uma exigência menor para quem quer trabalhar no país. A tarefa está claramente mais facilitada aos homens do que às mulheres, ainda que estas tenham também uma elevada percentagem de oportunidades de trabalho nalguns países desta região. É o caso das profissionais portuguesas, licenciadas em enfermagem.
A rápida expansão dos cuidados de saúde e dos grandes hospitais na Arábia Saudita conduziu à necessidade de recrutar no estrangeiro profissionais de saúde, com particular enfoque na área da enfermagem. Desde 2008 que o número de enfermeiras ocidentais no território tem vindo a aumentar e entre as profissionais que trocaram o seu país por uma carreira num dos hospitais da Arábia Saudita estão algumas portuguesas.
A Professional Connections é uma das empresas que recruta para o território e já desenvolveu várias missões de missões de recrutamento em Portugal. A próxima deverá acontecer já entre 7 e 10 de maio, em Lisboa e no Porto. A empresa quer recrutar enfermeiras para trabalhar no King Faisal Specialist Hospital, nos centros de investigação desta unidade em Riad e Jeddah e também no King Abdulaziz Nacional Hospital, em Riad e Jeddah. As enfermeiras que vierem a ser recrutadas terão alojamento gratuito, bem água, eletricidade, transportes e acesso à saúde. Os salários rondam os 3200 euros, livres de impostos e as enfermeiras terão 50 dias de férias que podem gozar a partir do quarto mês de trabalho.
A hotelaria é outra das áreas onde os portugueses podem encontrar emprego no Médio Oriente, sobretudo nos luxuosos hotéis do Dubai. Há cerca de 500 vagas em aberto para rececionistas, chefes de cozinha, cozinheiros e muitas outras. Os packs salariais preveem contratos de dois anos, seguros de saúde, viagens, despesas com vistos, salário livre de impostos, prémios de incentivo e muitas outras regalias. A área da aviação nacional encontra também oportunidades junto das companhias aéreas do médio oriente que tem estado a recrutar em Portugal pilotos e tripulantes de cabine.
A economia dos países que compõem o Médio Oriente está intimamente ligada ao petróleo. Arábia Saudita, Kuwait, Emirados Árabes, Qatar e Bahrein são por isso países que atraem, entre outros profissionais inúmeros engenheiros. A aposta neste mercado pode ser muito lucrativa, sobretudo para os profissionais europeus. É que no Médio Oriente, a remuneração depende de vários fatores. Alguns são mais comuns aos europeus, outros não tanto. A nacionalidade é um dos fatores tidos em conta. Um engenheiro europeu, pode ganhar cinco mil euros mensais, livres de impostos, acrescidos de alojamento, alimentação, carro, telemóvel, seguro de saúde e vida e viagens. Se for solteiro pode até ter direito a duas passagens por ano ao seu país de origem.
A localidade é outro dos componentes decisivos no cálculo salarial. As razões óbvias, os salários e as recompensas são mais elevados perto das zonas de conflito. Kuwait, Iraque, Arábia Saudita figuram na lista dos salários mais elevados. Bahrein e os Emirados Árabes, lideram o top da qualidade de vida.
Distância cultural limita integração
A distância cultural que separa os profissionais portugueses do Médio Oriente continua a ser o principal entrave a uma adaptação plena na região. Alguns países são mais permissivos do que outros, mas na generalidade para usufruir deste destino em pleno vai ter de se adaptar, sobretudo se for mulher.
Emirados Árabes (onde estão localizados o Dubai e Abu Dahbi), Arábia Saudita, Bahrein, Kuwait e Qatar, são os destinos preferenciais da grande maioria dos estrangeiros que rumam ao Médio Oriente para trabalhar. Os salários são muito variáveis, consoante se trate ou não de um país com maior proximidade de zonas de conflito. O que é mesmo constante é a necessidade de respeitar ao limite às leis, costumes e tradições dos povos locais. Nos Emirados Árabes, por exemplo, o povo é aberto a visitantes, mas muito cioso dos seus valores. Cada um dos sete emirados tem especificidades em relação aos costumes e às leis aplicadas. Deve respeitá-los e evitar comportamentos impróprios que podem conduzir a multas, prisão ou deportação. Há medidas restritivas para o consumo de álcool e em alguns emirados é necessário obter uma licença para comprar bebidas em lojas autorizadas. Se toma algum tipo de medicação deverá viajar com a dose de que necessita e respetiva receita médica.
Se viaja como casado e com a família, deve levar uma tradução reconhecida da sua certidão de casamento e, no caso de ter filhos, dos registos de nascimento. Acabará por necessitar. Deve também tratar de ter uma carta de condução internacional que lhe permita conduzir em qualquer nestes países de forma legal. Em alguns países as mulheres estão impedidas de conduzir.
Se é solteira, saiba que não é aconselhável circular sozinha nas ruas, sobretudo à noite. As demonstrações de afeto e a relação entre elementos do sexo oposto são também alvo de medidas rigorosas. As relações sexuais fora do casamento são ilegais, independentemente do relacionamento que exista entre as pessoas no país de origem. Coabitar, mesmo em hotéis, com pessoas do sexo oposto fora do casamento também não é legal. Em lugares públicos, é tolerado que marido e mulher andem de mão dada, já aos abraços e beijos não são bem vistos e podem ser alvo de punição. As mulheres não deverão usar roupa que exponha o corpo ou que contenha figuras e mensagens inadequadas. Nas praias os biquínis são aceitáveis, mas é proibido mostrar o peito.
Em termos legais, ninguém pode ir para o Médio Oriente sem contrato de trabalho e sem os respetivos vistos profissionais e de residência. Por norma, as agências de recrutamento agilizam todo esse processo antes da partida dos profissionais, o que também garante alguma segurança em relação a eventuais recrutamentos fraudulentos.