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Marinha muda formação

05.03.2004


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Fernanda Pedro

CONSIDERADA uma das maiores escolas de formação profissional do país, a Marinha Portuguesa prepara-se para uma reestruturação do seu sistema formativo. Esta renovação pretende estreitar a relação entre o seu modelo e o sistema educativo e de formação profissional nacional, bem como implantar uma política formativa capaz de satisfazer as necessidades da Marinha e valorizar os seus recursos humanos. Com este objectivo definido, a Marinha Portuguesa caminha para a criação da Escola de Tecnologias Navais (ETNA).


Uma escola que irá integrar num único estabelecimento os departamentos de formação e escolas que constituem os actuais Grupo nº 1 e Grupo nº 2 da Escola da Armada.

A ETNA funcionará na base naval do Alfeite como um grande pólo tecnológico de formação profissional acreditada no país.

Enquanto aquela não chega, a Marinha alterou a sua estrutura orgânica a título experimental, passando a adoptar o modelo departamental.

Assim, foram desactivadas algumas escolas e, em sua substituição, foram criados os departamentos de operações, o departamento de comunicações e sistemas de informação e o gabinete de tecnologia educativa.

Além disso, também entraram em funcionamento os departamentos de formação militar naval e de armas. Mantiveram-se as escolas de marinharia, a de limitação de avarias e a de tecnologias de educação e treino.

Na verdade, a renovação do sistema de formação pretende, acima de tudo, "potenciar os recursos humanos da Marinha", revela Ramos Gouveia, comandante do Grupo nº 2 de Escolas da Armada.

Além deste objectivo prioritário, o comandante Ramos Gouveia refere que a instituição pretende caminhar para as parcerias com o exterior, "porque é fundamental criar sinergias entre a formação militar e a civil".

Não é por isso de estranhar que muitos dos cursos de formação ministrados aqui sejam acreditados pelo Inofor. Para já são três - Técnicas de Formação, Alistamento de Electrotécnico e o básico de Segurança Contra Incêndios -, mas o comandante pretende que em breve todos os cursos sejam certificados.

Numa ronda pelos vários departamentos existentes no Grupo nº 2 das Escolas da Armada, instalado na base do Alfeite, a componente formação respira-se em todos os recantos da escola.

Mantendo o rigor e a disciplina inerentes a uma carreira militar, as aulas decorrem dentro do normal funcionamento de uma escola profissional, com a vantagem de utilizarem os mais recentes e sofisticados equipamentos.

O comandante Ramos Gouveia reconhece que esse facto se deve à longevidade da escola e à importância da sua missão: "Não nos podemos esquecer que os nossos alunos têm de estar preparados para desempenhar as suas funções logo após o período de formação".

Na realidade, a preparação para o desempenho de funções é a grande prioridade da Marinha, que faz questão em dar aos alunos todas as ferramentas de que necessitam.

Um exemplo é o domínio da língua inglesa, um conhecimento fundamental quando se navega, visto que as comunicações com outros navios estrangeiros são realizados em inglês.

De acordo com o primeiro-tenente Mouzinho de Oliveira, responsável por este departamento, a sua missão destina-se a satisfazer as necessidades do ensino de língua inglesa, "nomeadamente nos cargos, missões e cursos cujo exercício ou participação exijam níveis específicos de proficiência nesta língua".

O fascínio da electrónica

O departamento de armas e electrónica é o mais procurado pelos jovens. Aqui compete executar os planos de curso aprovados nos domínios da manutenção de sistemas de armas, sensores, comunicações e equipamentos destinados a guerra no mar.

"Este curso é certificado e os sargentos adquirem qualificações para procurar saídas profissionais mesmo no exterior", explica o primeiro-tenente Duarte Palma, chefe deste departamento.

Neste curso, existem várias parcerias com instituições de ensino superior, como, por exemplo, o Instituto Superior de Engenharia de Lisboa.

A formação realizada neste departamento culmina com a apresentação da Prova de Aptidão Profissional (PAP), um requisito importante para o reconhecimento da certificação profissional de nível III do Curso de Formação de Sargentos Electrónicos.

Carla Fernandes e Carla Pedro são duas das três primeiras mulheres na Marinha a obter a patente de sargentos-electrónicos. Terminaram a PAP em Dezembro de 2003.

Explicaram a importância da formação nas suas carreiras, mas não deixaram de realçar que só o futuro poderá confirmá-la. "Quando estivermos a bordo de um navio a desempenhar as nossas funções é que iremos consolidar os nossos conhecimentos", refere Carla Fernandes.

Para lá de fornecerem as bases ao nível da formação para uma carreira militar, os vários departamentos têm também em funcionamento cursos de especialização.

O Grupo nº 2 da Armada ministra cerca de 206 cursos por ano, dos quais 31 são de carreira e 175 de actualização e aperfeiçoamento. Por ali passam cerca de 5600 alunos, que obtêm taxas de aprovação na ordem dos 95%.

Para o futuro, além da Escola de Tecnologias Navais, a Marinha Portuguesa irá apostar no "e-learning".

O comandante Ramos Gouveia revelou ainda que o Centro de Recrutamento da Armada vai proceder, já no próximo mês, a uma campanha de divulgação junto das escolas, "para mostrar aos jovens o que a Marinha Portuguesa pode oferecer em termos de futuro profissional".

A excelência no combate aos incêndios

MESMO com um extenso leque de cursos de formação da Marinha, a Escola de Limitação de Avarias (ELA) destaca-se de todas as outras. Isto, porque em Portugal só se faz formação deste tipo de prevenções nesta escola.

Os sapadores bombeiros, o Instituto Superior Técnico e muito outras entidades tal como a Galp, por não possuírem os equipamentos necessários nem a certificação que lhes dê competências para assegurar a formação em áreas específicas de salvamento e sobrevivência no mar e aos incêndios, procuram a ELA.

Todos os dias o parque de incêndios está ocupado, quer por militares quer por civis. Na realidade, a ELA é a única escola certificada a dar formação nestas áreas.

O conceito de limitação de avarias engloba a prevenção e o combate a incêndios, a manutenção e o restabelecimento da flutuabilidade e da estabilidade, o controlo e o combate a alagamentos e a execução de escoramentos, a defesa nuclear, biológica e química e o salvamento e a sobrevivência no mar.

Recentemente, a ELA alargou as suas acções de formação às áreas da higiene e segurança no trabalho, protecção ambiental e socorrismo elementar.

Aberta a formar civis, acaba por sofrer com a elevada procura por parte do exterior. O capitão-tenente Dias Ferreira, director da instituição, refere mesmo que a escola não consegue dar resposta a todos os pedidos de formação que lhe chegam diariamente.

Mesmo com vontade de ajudar todos os que procuram a ELA, Dias Ferreira alerta para o facto da Marinha não poder desviar-se da sua missão militar. "Terá de ser o Estado a resolver essa situação criando uma escola civil para dar este tipo de formação", salienta.

Só em 2003 a ELA formou 4039 indivíduos, 2932 militares e 1107 civis. Para o futuro, a Marinha pretende construir a vila d'ELA, um espaço equipado como se de povoação se tratasse para simular medidas de segurança.





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