Ruben Eiras
CERCA de 78% dos portugueses que investem na formação
fazem-no para evoluírem na carreira. Este é um dos resultados
em destaque no Inquérito à Aprendizagem ao Longo da Vida,
elaborado pelo INE, em 2003, no âmbito de um projecto do Eurostat.
Segundo os dados obtidos naquele estudo, é no grupo etário
dos 35 a 54 anos que a formação por razões profissionais
assume a maior importância, com mais de 80% dos inquiridos.
O mesmo inquérito revela que 18,7% dos portugueses com 15 ou
mais anos de idade participaram actividades de aprendizagem formal e
"não-formal". Esta última categoria compreende
a frequência de cursos e acções de formação,
a participação em seminários, conferências
e explicações, por exemplo.
Para Pedro Malheiro, gerente da Fastrain e director da TGV, duas empresas
de formação, embora o valor em relação ao
total (18,7%) dos portugueses a investirem em formação
continuar a ser baixo, a preocupação de progressão
na carreira é um sinal positivo.
"Significa que há necessidade de ganhar qualificação
e ver essa nova situação espelhada no estatuto, na remuneração
e respectivos benefícios", refere.
No plano da aprendizagem formal, ou seja, aquela que é ministrada
em escolas, colégios, universidades e outros estabelecimentos
de educativos, a percentagem ficou-se pelos 12,4%.
Os jovens dos 15 aos 24 anos são a faixa etária que mais
participou neste tipo de educação, representando 80% dos
estudantes. A participação das gerações
mais velhas - a população acima dos 34 anos - situou-se
nos 6%.
Quanto à modalidade não-formal, o estudo revela que esta
foi frequentada por 9% da população. No plano das áreas
de aprendizagem, as gerações mais jovens apostaram em
2003 nas ciências, matemática e informática.
Jovens aprendem fora do sistema de ensino
Os grupos dos jovens e de detentores de qualificações
superiores são os que mais participaram em actividades de aprendizagem
fora do sistema de ensino. Mais uma vez, a carreira está no topo
das prioridades: a maioria dos inquiridos refere que investiu na formação
por razões profissionais, estimando-se que metade das actividades
não superam a duração das 40 horas.
Cerca de 44,1% das actividades formativas foram realizadas integralmente
durante as horas de trabalho remunerado. Destas, metade tiveram duração
inferior a 22 horas.
"Isto quer dizer que há empresas com uma estrutura que
permite disponibilizar activos para formação em horário
laboral e que não recorrem a co-financiamento, uma vez que a
duração média das acções é
de 22 horas, quando a duração média para co-financiamento
é de 30 horas", observa Joaquim Lavadinho, director
da Humanquare, uma empresa de consultoria em gestão de recursos
humanos.
Por sua vez, a aprendizagem informal - aquela que decorre das actividades
da vida quotidiana como o trabalho, a família ou o lazer - é
bastante popular entre os portugueses. Com efeito, segundo o inquérito
do INE, mais de metade dos inquiridos (51,3%) recorreram a este meio
de aprendizagem.
Os dados revelam que mais de 35% da população com 15 ou
mais anos solicita a ajuda e esclarecimentos a familiares, amigos ou
colegas com o objectivo de melhorar conhecimentos. E cerca de 1/3 da
população utiliza livros técnicos, jornais ou revistas
especializadas para aumentar as suas competências.
"Estou surpreendido com este indicador, que é óptimo
- significa que a autoformação está a entrar nos
hábitos dos portugueses", remata Pedro Malheiro.