Em quatro anos, o ensino do espanhol nas escolas públicas cresceu 400%. A conclusão provém da análise das mais recentes estatísticas do ministério da educação e permite antever uma clara mudança em matéria de aprendizagem de novos idiomas em Portugal: à velocidade a que o ensino do espanhol avança, não faltará muito para que o francês passe de segundo para terceiro plano, no que toca à aprendizagem de novos idiomas.
Nas escolas públicas portuguesas o inglês continua a liderar em matéria de ensino de ensino de línguas estrangeiras, mas o segundo lugar pode a curto prazo vir a sofrer alterações. É que a preferência dos alunos pela língua do país vizinho está a ameaçar remeter para terceiro plano o francês que nas últimas décadas tem ocupado o segundo lugar nas preferências dos alunos. Em quatro anos, o ensino do francês sofreu uma quebra de 35% enquanto o castelhano conquisto mais de 42 mil novos alunos. A verdade é que o ensino do francês perde alunos anualmente. Entre 2006 e o corrente ano, o francês perdeu mais de 136 mil alunos nas escolas públicas. Ainda assim, mantém o segundo lugar no ranking dos idiomas com mais estudantes totalizando ainda 244 mil alunos.
Contudo, a proximidade linguística, geográfica e cultural fazem do castelhano um adversário de peso no que toca à preferência dos alunos. E se avaliação incidir sobre as oportunidades de emprego ou até de formação, Espanha é a predileta dos estudantes portugueses. Uma realidade confirmada por Joana Santos do departamento de formação da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola (CCILE). A responsável argumenta que o castelhano tem vindo a impor-se na economia internacional. Uma realidade que torna este idioma cada vez mais apetecível para os estudantes que o encaram como uma mais-valia académica, curricular e profissional, levando-os a investir cada vez mais cedo na sua aprendizagem. E esta realidade não se restringe ao sistema de ensino público. As escolas de línguas também registam mais procura.
“O interesse na aprendizagem da língua espanhola é neste m visível tanto nas escolas públicas como nas privadas e no próprio sistema de ensino nacional”, frisa Joana Santos. A porta-voz da CCILE para a área da formação argumenta ainda que “até 1991 as escolas portuguesas não ofereciam aos seus alunos a possibilidade de estudar este idioma que apenas entrou no sistema educativo nacional graças ao Programa de Cooperação Luso-Espanhola”. E se inicialmente só duas escolas ministravam o ensino da língua espanhola, aos poucos o número de instituições foi aumentando e o castelhano foi-se tornando uma opção para cada vez mais estudantes. “Em 1994 o espanhol consolidou-se como língua e passou a fazer parte do currículo do ensino secundário português como Língua Estrangeira II em 20 escolas e desde 1997 faz também parte do currículo do 3º ciclo do ensino básico. Tudo isto certifica o crescente interesse pela aprendizagem da língua espanhola”, enfatiza Joana Santos.
Na verdade, em matéria de ensino secundário, o espanhol tem atualmente 14.450 alunos. Uma fasquia muito próxima dos 15.171 inscritos em francês.
E mesmo quando o Eurostat revela que mais de metade (51,3%) da população portuguesa adulta (entre os 25 e os 64 anos) não sabe outra língua além do seu idioma-mãe, a verdade é que as novas gerações parecem estar dispostas a inverter esta estatística. Segundo Joana Santos, “ao longo dos últimos anos a CCILE tem vindo a registar um aumento considerável da procura dos seus cursos de espanhol, em muito devido à crescente implementação de empresas espanholas em Portugal e ao estabelecimento de inúmeras parcerias luso-espanholas”. A especialista refere ainda que além do número de alunos que procuram a instituição, “há cada vez mais empresas interessadas em desenvolver cursos nas suas instalações. O domínio da língua espanhola tornou-se uma necessidade crescente”. Uma inversão no panorama do ensino nacional que Joana explica com o facto do espanhol já não ser só uma língua e ter-se tornado uma importante ferramenta de trabalho e um veículo para fortes relações económicas.
A CCILE desenvolve um plano formativo que íntegra cursos nas mais variadas áreas temáticas. Do marketing à contabilidade, passando pela economia, recursos humanos, jurídico, onde o espanhol é figura chave. Estes cursos funcionam nos centros de formação da CCILE em Lisboa e no Porto e integram alunos que são, maioritariamente, quadros de empresas com relações comerciais com o país vizinho. O curso de Espanhol de Negócios é o que reúne maior número de formandos, espelhando o potencial económico e laboral desta língua. Mensalmente, a instituição tem cerca de 120 alunos, espalhados pelos seus diferentes cursos e centros de formação e este ano a CCILE viu aumentar substancialmente os seus formandos nas diversas ações empresariais que realizou.
Mas nem só o espanhol, o inglês, o francês ou o alemão acolhem o interesse dos portugueses em matéria de aprendizagem de novos idiomas. Línguas como o polaco, búlgaro ou russo reúnem cada vez mais a preferência dos portugueses, sobretudo entre os jovens profissionais que assumem os mercados laborais do leste europeu como emergentes.
Mas nem sempre é fácil encontrar escolas que integrem na sua oferta estes idiomas, muito embora a tendência das instituições de ensino privadas seja uma aposta clara na diversidade. Essencialmente, a oferta destes cursos provém dos departamentos de línguas das várias universidades nacionais que através da organização de cursos livres, à margem das licenciaturas, conseguem assim aproximar-se da comunidade profissional e divulgar novos idiomas, tão distintos do português. Novos idiomas, com novas fonéticas e melodias a pensar em todos aqueles que acreditam que o mundo não tem barreiras, nem mesmo as da língua
.