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Escândalos americanos comprometem 'head hunting'

10.10.2003


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P. Luís de Castro

Cristopher Clarke, COE da Boyden, está optimista quanto ao futuro da actividades






Os 10 mandamentos da 'caça'



A PROCURA de executivos de topo, actividade mais conhecida como "head hunting" ou "caça de cabeças", é uma tarefa na sua essência simples que, infelizmente, é complicada por empresas que por vezes não sabem o que fazem.

Basicamente, porque certos "caçadores" põem os seus interesses à frente das necessidades de quem os contratou.

Este conceito é defendido por Christopher Clarke, CEO da Boyden, empresa que inventou o conceito de "head hunting" em 1946, através do seu fundador Sidney Boyden.

Chistopher Clarke é actualmente o CEO da Boyden. Tem 54 anos, é britânico, mas está radicado nos EUA, de onde dirige os diferentes escritórios desta multinacional.

Tem conceitos algo inesperados sobre esta actividade, basicamente pelos avanços e recuos que sofreu nos últimos tempos por força de certos escândalos que abalaram o mundo empresarial.

"Os EUA necessitam de 100 mil novos dirigentes de topo nos próximos tempos. Mas desta vez executivos honestos, qualificados e com cultura adequada às organizações, já que os recentes escândalos da Enron, Worl Com e Andersen provocaram uma razia na credibilidade destes operacionais da gestão", começa por dizer Chris Clarke.

Isto porque os americanos, depois de assumirem interiormente uma certa supremacia nesta área, receberam o balde de água fria que representou a falência de um modelo que eles, e o resto do mundo, acreditavam honesto e acima de qualquer suspeita. "O resultado foi a redução drástica do investimento nos EUA", conclui Clarke.

A indústria de recrutamento de quadros acabou por ter alguma responsabilidade no declínio dos "standards" corporativos. Mas será que é possível fazer melhor a partir deste momento?

"Há empresas que julgam poupar ao não entregarem a profissionais desta área o recrutamento dos seus quadros de topo. O que se paga para que se encontre a 'cabeça' adequada, honesta, capaz, etc., é largamente compensado pela capacidade de gestão posta ao serviço de quem procura esse quadro", explica Clarke, que, continua:

"Mas não é só isto. Encontrar a pessoa certa é cada vez menos uma questão de sorte, dado que não é o círculo de amigos, ou dos amigos dos amigos, o terreno onde se deve buscar a excelência de quadros que as empresas precisam e devem exigir".

O actual presidente da Boyden Global Executive Search põe o dedo na ferida ao analisar certos comportamentos actuais no recrutamento de quadros: "Condeno uma certa atitude de cumplicidade entre os 'caçadores' e os 'caçados', para falar numa linguagem corrente.

Deve haver confiança nos resultados e respeito pelas decisões, pois antes de começar um processo de selecção nós investimos bastante tempo no conhecimento do cliente, na sua cultura de empresa, pessoas, produtos e estratégia de negócios. Só depois passamos à fase da selecção
".

Chris Clarke considera que há casos de sucesso em empresas onde os seus profissionais cultivam relações de amizade antes de relacionamentos essencialmente profissionais. "Mas são raros, pelo menos no mundo anglo-saxónico, ao contrário do latino. E note-se que assistimos a um certo imperialismo americano na área da gestão dos negócios, que acaba por fazer as suas leis e contra as quais é cada vez mais difícil lutar, esteja-se nos EUA, na Europa ou na Ásia", declara.

Na sua opinião, o mundo encontra-se, assim, numa órbita altamente influenciada pelos "standards" educacionais norte-americanos, pelo que estes conceitos tendem a tornar-se universais.

O CEO da Boyden diz ser errado as empresas procurarem reter os seus quadros através de extensões imorais de contratos. Chama a isso uma espécie de "nova escravatura", que dá origem a que cerca de 70% dos quadros não estejam satisfeitos com algumas das condições que têm nos seus empregos. "E as empresas devem ter pessoas satisfeitas nos seus quadros", acrescenta.

O futuro é, para Chris Clarke, uma oportunidade. "A globalização faz com que quadros europeus possam trabalhar na América e vice-versa. O cruzamento de fronteiras, por exemplo na UE, dá origem à internacionalização de conceitos, de pessoas e de métodos de trabalho, mas, simultaneamente, a um aumento necessário e espectacular da especialização. Só mesmo os líderes terão que continuar a ser eclécticos", remata.




Os 10 mandamentos da 'caça'

1.Aumente a sua eficácia investindo na sua integridade e profissionalismo. Não negligencie o que deve ser fortalecido.

2.Trabalhe na busca da qualidade e independência, e mais ainda quando se trata de postos de topo.

3.Faça com que os custos do recrutamento sejam aplicados na escolha da pessoa que sirva os interesses do seu cliente.

4.Dê igualdade de oportunidades a candidatos internos do seu cliente.

5.Faça uma pesquisa adequada. Não insista nos candidatos do costume ou nos "candidatos-estrela".

6.Coordene com o cliente quem será responsável pela validação da sua integridade e "background".

7.Faça com que os candidatos correspondam aos interesses do seu cliente, respectivos accionistas, clientes e empregados, bem como à comunidade em geral.

8.Questione os candidatos sobre matérias éticas, quando estas forem fundamentais para o seu cliente. Lembre-se que é sua função procurar que não haja conflitos de interesses entre o seu cliente e o candidato.

9.Assegure-se que os candidatos possam pôr à prova a honestidade e integridade do seu futuro empregador, num relacionamento livre de pressões. Os recentes acontecimentos provam que esta deve ser uma via com dois sentidos.

10.Compartilhe as suas dúvidas quer com os candidatos quer com os seus clientes. A nossa responsabilidade é dar apreciações fundamentadas e balanceadas, e não o que se pode considerar uma "venda de empregos".





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