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Portugal vai ter menos professores de matemática

10.10.2003


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João Barreiros

Desinvestimento na via de ensino agrava-se


PORTUGAL é um dos países da OCDE que apresenta maiores défices de formação entre os seus professores, situação que pode agravar-se com o desinvestimento nas vias de ensino de determinados cursos, como o de matemática.

Alguns docentes contactados pelo EXPRESSO admitem que, a manter-se a actual tendência, dentro de breves anos o número de professores de matemática formados pelas universidades será insuficiente para satisfazer as necessidades do mercado de emprego.

Com o previsto alargamento da escolaridade obrigatória para doze anos, o défice de formação dos professores pode ter consequências sérias, nomeadamente um elevado grau de insucesso escolar, e um desinteresse por parte dos alunos nas matérias apresentadas.

O presidente da Associação de Professores de Matemática (APM), contactado pelo EXPRESSO, reclama uma mudança no sistema de ensino português, que actualmente permite a licenciados de outras áreas de ensino leccionarem aquela disciplina.

"A realidade é que muitas pessoas que acabam outros cursos ficam habilitadas a dar aulas de matemática, o que não faz qualquer sentido", defende Fernando Nunes.

Apesar de não temer uma crise semelhante à vivida noutros países europeus e nos Estados Unidos, onde durante vários anos foi difícil recrutar professores para esta área de estudos, mesmo com uma qualificação mínima, o presidente da APM sublinha a necessidade de alterar as regras, de forma a que "os professores de matemática sejam aqueles que tiraram um curso para o serem".

Esta é a melhor forma, segundo Fernando Nunes, de dinamizar as aulas, "acabando com o papão da matemática".

Podem vir a faltar professores de matemática

Para António Batel Anjo, responsável pelo Departamento de Matemática da Universidade de Aveiro, está a ser aplicada em Portugal uma estratégia errada que consiste no "desinvestimento nos cursos de ensino", e que poderá ter sérias consequências a médio prazo.

Este ano apenas entraram doze alunos para a via de ensino do curso de Matemática Aplicada daquela instituição, um número claramente insuficiente para alimentar as necessidades do mercado.

Para António Batel Anjo, "em 2010 não teremos professores de matemática, o que significa que iremos atravessar a crise que a França e que outros países europeus estão a passar".

Na verdade, o que está a acontecer é uma desadequação entre o perfil exigido para leccionar determinadas disciplinas e os candidatos que ocupam os postos de trabalho.

Essa situação é evidenciada no relatório sobre o estado da Educação no mundo, elaborado pela Organização para a Cooperação Económica e Desenvolvimento (OCDE), segundo o qual mais de vinte por cento dos professores do quadro não têm as qualificações totais necessárias à função que estão a desempenhar, verificando-se que mais de metade dos professores ditos em "part-time" estão nesta mesma situação.

Segundo esta instituição, enquadram-se na categoria os professores que não tiveram formação específica para leccionar as suas disciplinas e, da mesma forma, aqueles que não tiveram formação em matérias pedagógicas.

Portugal encontra-se no fim da lista, a par com o México, a Noruega e a Suécia, sendo a Irlanda (país que frequentemente é usado como termo de comparação relativamente ao nosso) aquela que apresenta menos défice nesta matéria.

Informática também é afectada

Com base em inquéritos realizados nos diferentes países membros, a organização concluiu que as maiores dificuldades de contratação de professores encontram-se nos domínios da informática, da matemática e das tecnologias: há escassez de oferta de profissionais nestas áreas em grande parte dos países.

No entanto, em Portugal, parece ainda haver um número suficiente de professores de matemática disponíveis, mostrando-se as dificuldades de contratação mais agudas nas outras áreas referidas e ainda, embora em menor grau, nas disciplinas de artes e de gestão.

"A investigação sugere que a decisão de se tornar professor é o resultado de um conjunto complexo de considerações relacionadas com as alternativas de trabalho, os salários, as possibilidades de evolução na carreira, os incentivos pelo mérito, o 'status' da profissão e as circunstâncias pessoais", refere este relatório da OCDE.

Em Portugal, a estabilidade laboral e os salários parecem ser os factores que mais contribuem para esta decisão.





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