João Barreiros
Os trabalhadores portugueses continuam
a ser mais mal pagos que no resto da Europa
AS diferenças salariais entre os trabalhadores portugueses e
os restantes trabalhadores da União Europeia acentuaram-se de
forma significativa ao longo dos últimos três anos, sobretudo
no que diz respeito ao grupo dos países mais pobres (Grécia,
Irlanda e Espanha).
Esta é uma das conclusões a extrair da comparação
dos relatórios sobre preços e salários do banco
suíço UBS, que recentemente publicou os dados relativos
ao ano corrente.
O estudo recolheu elementos sobre os níveis salariais em treze
profissões distintas em países de todo o mundo, num total
de setenta cidades.
Lisboa, a única cidade portuguesa envolvida, foi a que registou
valores mais baixos em todos os pontos da União Europeia considerados:
por hora, um madrileno ou um ateniense ganha mais 50% que um lisboeta
para as profissões consideradas.
Os parisienses ou os vienenses ganham 100% mais, sendo o topo da tabela
ocupado por Zurique, onde os trabalhadores recebem - valores líquidos
- quatro vezes mais do que os lisboetas.
No relatório do ano 2000, Lisboa encontrava-se igualmente no
final da tabela, mas as diferenças eram muito menos significativas
(-10% do que Atenas, -35% do que Madrid).
Os técnicos da UBS não avançam com qualquer explicação
concreta para esta diferença, mas verifica-se que as cidades
mantêm as suas posições relativas na tabela, o que
parece evidenciar uma certa estagnação dos salários
em Portugal, contrária à tendência de outros países
europeus.
Outro aspecto abordado diz respeito aos valores pagos nos dez países
aderentes à União Europeia: o relatório mostra
que, mesmo em Praga e em Varsóvia, os salários não
chegam sequer a metade dos pagos em Portugal.
Noutras capitais, a diferença é ainda mais significativa,
o que ajuda a explicar algumas transferências de produção
para estes países.
A análise dos salários cobre treze diferentes ocupações
cujo perfil é semelhante nas cidades tomadas para esta amostra.
A UBS procurou que este grupo fosse representativo da força de
trabalho na indústria e nos serviços, tendo sido feitos
questionários às empresas mais representativas e procurados
exemplos similares no que toca a aspectos específicos (experiência
na função, estado civil, etc.)
As profissões analisadas foram as seguintes: gestores de produto,
chefes de departamento, engenheiros, professores do Ensino Básico,
condutores de autocarros, mecânicos, empregados fabris, cozinheiros,
operários especializados, bancários, secretárias,
assistentes de vendas, operárias fabris.
A UBS avança igualmente com uma análise sobre o número
de horas de trabalho anuais nestas setenta cidades, concluindo-se que
apenas em Viena (1901 horas) e em Roma (1810) se trabalham mais horas
do que em Lisboa (1804). Os reis da preguiça parecem ser os franceses,
com apenas 1561 horas de trabalho por ano, menos uma centena do que
os dinamarqueses ou alemães.
"Na Europa Ocidental, trabalha-se em média 1757 horas,
o que equivale a 20% ou a 52 dias, com base em semanas de 42 horas de
trabalho", refere o relatório.
Os asiáticos são, sem surpresa, os que ocupam o topo da
lista: em Hong Kong, Taipé, Seul, ou Jacarta, o número
de horas de trabalho por ano ultrapassa as duas mil.
Uma das razões adiantadas para este facto é o reduzido
número de dias de férias gozados pelos trabalhadores destas
cidades - oito em Hong Kong, treze em Taipé, onze na capital
indonésia.
De uma forma geral, esta comparação levada a cabo pelo
banco suíço acaba por mostrar, com números, as
diferenças de que todos têm noção. Um exemplo:
"Os professores do ensino básico ganham mais na Suíça
do que em qualquer outra parte do mundo. Com um salário bruto
de 73 mil dólares/ano, levam para casa mais do que o triplo da
média global (22 mil dólares/ano). Os professores mais
mal pagos são os de Kiev, Mumbai, Lagos e Moscovo, onde os salários
anuais oscilam entre os 700 e os 2 mil dólares".