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Empresários por vocação em tempo de crise

16.05.2003


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Cátia Mateus, Fernanda Pedro e Maribela Freitas

Sabendo nós como sabemos quea auto-estima não é o nosso forte, é sempre com algum orgulho que aqui falamos de pessoas empreendedoras, que criam empresas e, por consequência, empregos e riqueza para o país.

São, sobretudo, jovens, dinâmicos, inconformistas militantes, que fazem do seu dia-a-dia uma procura constante de novas oportunidades de negócios. São persistentes, têm uma sensibilidade especial para a detecção de nichos de mercado, e lutam de forma heróica contra o excesso de burocracia que ainda vai sendo a pedra-de-toque da nossa administração pública. Em três palavras: "são vencedores natos".



SER EMPRESÁRIO em tempo de crise não é ideia que atraia muita gente. Contudo, há quem opte pelo risco, mesmo nos momentos em que a conjuntura económica não é atractiva para a criação de novos negócios. São pessoas para quem saber arriscar também é uma virtude. Não têm receio de enfrentar incertezas e sabem que um negócio se faz com um misto de estratégia e perspicácia.

O EXPRESSO explica-lhe de que "matéria" são feitos os empreendedores. Diogo Marques, Duarte Pacheco de Sousa e João Tocha são três casos de sucesso em diversas áreas, cujo dia-a-dia é procurar oportunidades de negócio, arriscar, delinear estratégias, ganhar mercado e sonhar mais alto. São empresários por vocação, gente que cedo entendeu que o mundo dos negócios é, mais do que um meio de ganhar dinheiro, uma forma de estar na vida.

Tinha apenas 19 anos quando resolveu seguir o seu instinto empreendedor. Hoje com 33 anos, Diogo Marques é o exemplo perfeito de quem não deixa para amanhã o que pode fazer hoje. O seu dia-a-dia é feito de reuniões e de uma procura constante por novas oportunidades de negócio. É que para o empresário de Ourém, "em cada canto há uma oportunidade de negócio. O que preciso é ter visão de futuro, perspicácia e muita determinação". Predicados que sempre guiaram o seu caminho.

Com uma estratégia à altura da internacionalização, a partir de Ourém, lidera e gere o quotidiano de cinco empresas. Já lá vão 14 anos desde que criou a sua primeira empresa. Daí em diante foi aproveitar boas oportunidades de negócio.

Em 1996, lança-se na Ecodimulti, uma sociedade que entretanto abandona. Em 2000, funda a Ergourbe uma empresa especializada em construção civil. No mesmo ano, a Diogapor Química passa da teoria à prática. Um projecto tão ambicioso como inovador: "Criar a primeira estrutura de produção de tintas ecológicas, não poluentes do mercado português".

O objectivo foi cumprido com a distinção do IAPMEI, que atribuiu a este projecto o prémio Inovação. Além de produzir uma vasta gama de tintas ecológicas, esta empresa dedica-se também à investigação e desenvolvimento de produtos específicos para o combate de problemas relacionados com pinturas e impermeabilizações de fachadas.

E se a Diogapor foi o grande passo de Diogo Marques, o espírito empresarial não o deixou ficar por aqui. Em 2001 "nasce" a Socicubal, uma empresa que se dedica à concretização de empreitadas de pequena e/ou média dimensão, como reparações.

A Publiwork - Marketing e Comunicação é criada no mesmo ano com o objectivo de assegurar às empresas soluções integradas de comunicação. A Aqualudus foi a aposta seguinte (em 2002). Trata-se de uma empresa especializada na construção de piscinas, a preços competitivos e com um prazo de construção reduzido. A última peça do "império" deste empresário de Ourém é a Ludus Casa, um projecto focalizado na construção de vivendas em apenas seis meses e com um custo nivelado em cerca de 20% abaixo dos preços praticados pela concorrência.

Um percurso feito de muita perspicácia, trabalho árduo e uma boa dose de persistência. Diogo Marques acredita que ser empregado é mais fácil do que ser patrão, já que, para o último, "o dia de trabalho não termina na hora de ir embora". Persistência, espírito de sacrifício e sentido de oportunidade são, para este empresário, os segredos de uma "receita de sucesso" no mundo empresarial.

E em matéria de determinação, a experiência de Duarte Pacheco de Sousa tem muito a revelar. Já lá vão oito anos desde que o empresário se aventurou num negócio próprio. Desde aí, nunca mais deixou de estar ligado ao meio empresarial. A necessidade de ter liberdade para criar as coisas à sua maneira ditou o destino da sua vida. "O facto de ser criativo e de fazer as coisas que gosto sem entraves levou a que não me aprisionasse apenas a uma única coisa na minha vida", explica Duarte Pacheco de Sousa.

A paixão pela história, pela arte e pela música levou-o a enveredar pelo campo da cultura e por esse motivo, os seus negócios estão todos centrados nesta área. Em 1995 começou com a Arte para Coleccionadores, onde a elaboração de medalhas comemorativas eram o produto principal da empresa.

Mais tarde, a experiência em história militar fez com que visse nesta área uma nova perspectiva de negócio. Em Dezembro de 2001, Duarte Pacheco de Sousa abre ao público a única loja militar do país na calçada da Graça. Além da venda de objectos e de livraria, este empresário vai mais longe e cria uma editora.

Não satisfeito, abraça outro projecto, desta vez a abertura de um bar na rua da Rosa no Bairro Alto, com o objectivo de se tornar um local privilegiado de tertúlia e do encontro dos amantes da arte. Duarte Pacheco de Sousa e o sócio, dão-lhe o nome de Clube dos Poetas Vivos. "Quero que esta casa seja como que um clube cultural para quem a frequenta e é por isso que, além de revistas, jornais, tenha também sempre exposições de arte, de fotografia ou de livros", refere o empreendedor.

Mas entre tantos negócios, Duarte não conseguiu ainda estabilizar em termos financeiros. "Ainda estou no período de carência entre o investimento inicial e o retorno", salienta. Naturalmente, Duarte admite que sempre teve presente a dificuldade de criar uma empresa e que os retornos não são imediatos, pelo contrário, podem levar muito tempo até serem recuperados.

Até porque o empresário garante que não é fácil gerir um negócio e com três as preocupações são a triplicar. É por esse motivo que sente que tem já alguma experiência para dar conselhos a todos aqueles que pensem em aventurar-se no mundo empresarial: "Em primeiro lugar, escolher com muito cuidado os sócios. Depois, 24 horas de dedicação, muito sangue frio e capacidade de resposta rápida nas dificuldades. Muito empenho e acreditar naquilo que se faz. E acima de tudo ter a noção de que cada cliente é fundamental".

Duarte Sousa sabe também que as dificuldades maiores neste país em termos de negócio é lidar com os nichos de mercado, sobretudo quando se tem pouco dinheiro para investir em publicidade. E nessa linha de pensamento, refere também que nunca contou com subsídios, nem de qualquer tipo de apoio, "não vale a pena esperar por eles, porque tarde ou nunca aparecem", assegura.

Mas mais importante que as dificuldades é o prazer de realizar aquilo que gosta, "nunca ponho de parte as coisas que gosto realmente de fazer, coleccionar, escrever e ser historiador", remata Duarte Pacheco de Sousa.

Quatro é o número de sorte de João Tocha, o exemplo de um empreendedor nato. São quatro as empresas que controla neste momento, mas o seu percurso empresarial é rico em histórias. Envolveu-se desde muito cedo no mundo dos negócios e ao longo dos anos foi construindo vários projectos empresariais. A sua primeira experiência ocorreu em 1987. "Nessa altura, ao editar o 'Universus', o jornal das universidades, foi necessário constituir uma sociedade. Esta foi a primeira empresa que criei, pois sempre gostei da área do jornalismo e da comunicação", explica.

Desde então envolveu-se em vários projectos e neste momento detém quatro empresas - em conjunto com outros sócios - e está empenhado nalguns projectos pessoais geridos empresarialmente.

A primeira empresa a ser criada foi a Primeira, na área da arquitectura e construção civil, que surgiu em 1995. Um ano depois nascia a Jardim e Arte, a laborar no sector dos espaços verdes. Mais recentemente, surgiu na vida de João Tocha o projecto empresarial Tocha-Global Communication, na área do "marketing" político e comunicação pública.

Na opinião deste empreendedor, "é tão difícil liderar uma como várias empresas ou projectos". O caminho para ser bem sucedido no mundo dos negócios não é uma estrada direita e por vezes surgem curvas no percurso que se quer traçar. "Encontrar o nosso caminho e os parceiros de caminhada são algumas das dificuldades que um homem de negócios enfrenta no seu trabalho diário. Isto para não falar do facto de estarmos inseridos num meio envolvente muitas vezes desfavorável à iniciativa privada e onde impera a burocracia, a irracionalidade e morosidade de procedimentos", explica João Tocha.

Por isso, e no domínio das "dicas" para o sucesso, considera, entre outros aspectos, que é necessário ter objectivos claros, uma atitude positiva, estudar bem o mercado e as tendências do sector em que se vai actuar, ter bons parceiros e pensar para lá das fronteiras nacionais, de preferência a nível global.

Para se ser um bom empresário, João Tocha apresenta como requisitos "sorte, audácia, determinação, informação e capacidade para gerir o stresse e recrutar uma equipa de confiança, competente e motivada". E já que em tempos de crise quase todas as empresas se debatem com dificuldades, João Tocha sugere: "Deve-se acrescentar sempre valor à prestação e serviços que disponibilizamos aos nossos clientes. Não se deve hesitar em largar áreas de negócio sem horizonte para apostar em novas áreas, pois o segredo está em agir rapidamente".





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