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Desemprego que cresce sem se ver

Há muitos desempregados que não entram nas estatísticas. Os numeros reais são preocupantes
16.12.2005


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Marisa Antunes
EM CADA dia que passa, 17 licenciados engrossam, em média, as fileiras do desemprego. No total, e englobando os novos desempregados com todo o tipo de qualificações, o número dispara para os 340 por dia, segundo os dados oficiais mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE). Uma realidade só por si já negra, mas que não revela a verdadeira dimensão do número de pessoas que estão efectivamente sem trabalho, aponta o economista Eugénio Rosa.


«O desemprego real em Portugal é muito superior ao desemprego oficial. De acordo com os dados do INE no 3º trimestre deste ano, o número oficial de desempregados alcançava, na altura, os 429.900 (a uma taxa de 7,7%), o que já é um valor muito elevado. No entanto, o desemprego corrigido, que está muito próximo do real pois inclui os ‘Inactivos disponíveis' e o ‘Subemprego visível', atingia 549.400, o que correspondia a uma taxa de desemprego de 9,9%», sublinha o responsável pelo Centro de Estudos Económicos da CGTP-In.

Efectivamente, para apurar os dados oficiais do desemprego, o INE — à semelhança dos métodos adoptados pelo Eurostat — não contabiliza as pessoas que, apesar de estarem disponíveis, para trabalhar (os chamados «Inactivos Disponíveis»), não fizeram diligências nesse sentido nas últimas quatro semanas anteriores ao inquérito do INE. Neste grupo estão actualmente 58.100 pessoas, segundo o INE. Também aqueles que trabalham menos de 15 horas por semana, por não encontrarem um emprego com horário completo, não contam para as estatísticas do desemprego. Estão integrados no «Subemprego visível» e somam 61.400. No total, são 120 mil pessoas retiradas da taxa oficial do desemprego.

«Entre 2001 e 2005, o desemprego oficial aumentou 101,9%, de 216.100 para 429 mil», aponta o especialista. Só o desemprego de longa duração — 12 a 24 meses — cresceu 153% e o superior a 25 meses subiu para 186%. E apesar do peso dos subsídios de desemprego atingirem cerca de 1800 milhões de euros (ver caixa), esta subsistência económica não abrange todos aqueles que não trabalham. «Em 2005, segundo o INE, menos de 29 desempregados em cada 100 recebiam o subsídio de desemprego», lembra Eugénio Rosa.

Para o economista, estes factores contribuem perigosamente para o risco de exclusão social. «Porque, na sua maioria, são trabalhadores com baixa escolaridade — o que contribui para que tenham dificuldades em adquirir novas competências através da formação profissional — e com uma qualificação profissional de banda estreita, ou seja, sabem fazer muito bem o que sempre fizeram durante toda a sua vida profissional, mas fora disso têm grande dificuldade em se adaptar a uma nova profissão, o que significa que não têm facilidade em arranjar um novo emprego», destaca.

Portugal é, aliás, o país da União Europeia onde o nível de escolaridade da população é mais baixo, o que só agrava a crise económica e social. «Cerca de 80% têm apenas o ensino básico ou menos, apenas 11,3% possuem o secundário e somente 9,4% o ensino superior», conclui o economista.

Não fazer nada custa 13.288 milhões e euros

QUANTOS milhões de euros custa o desemprego ao país? O economista Eugénio Rosa fez as contas e chegou a um total de 13.288 milhões de euros anuais. «Portugal perdeu o correspondente a 10,7% da sua riqueza (PIB) devido ao desemprego. Os trabalhadores não receberam salários no valor de 6219 milhões de euros, em média, a segurança social perdeu 2161 milhões de receitas de contribuições das empresas e dos trabalhadores e teve de pagar 1798 milhões em subsídios de desemprego, além de o Estado ter perdido receita de IVA no montante de 3110 milhões de euros», pormenoriza o economista.

Valores que, ainda assim, não incluem a receita de IRS resultante dos rendimentos dos salários e o IRC consequente do acréscimo da produção das empresas, acrescenta o especialista.





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